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Sul Informação - Um pequeno contributo para a  CIMAC/Évora 2027

Um pequeno contributo para a CIMAC/Évora 2027

A rede é uma daquelas noções (ou poções?) que parece conter o princípio ativo necessário para resolver todas as maleitas de que o mundo padece.

A rede é um modo transversal de olhar para o problema, uma noção praticável que precisa de ser praticada, não é, portanto, uma panaceia.

A rede é, ou pode ser, um ecossistema de acolhimento capaz de proporcionar uma grande diversidade de contextos e outros tantos benefícios e, nessa medida, favorece a reinvenção do sistema produtivo local, intermunicipal e regional.

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Por outro lado, a rede pode conceber-se como um empreendimento móvel e itinerante que compensa a imobilidade relativa dos recursos e ativos do território por via de formatos institucionais, associativos e colaborativos de natureza variada.

A rede é, portanto, muito mais do que um mercado, cadeia de valor ou associação corporativa, ela é, também, uma rede de identificação e pertença e a razão de ser de uma comunidade de destino.

Finalmente, as redes mais estruturadas administram informação assimétrica, disciplinam comportamentos, regulam a lógica da ação coletiva e reduzem o risco moral e o comportamento free raider no quadro de uma geoeconomia dos bens comuns e da cooperação multiterritorial.

Dito isto, retira-se imediatamente que, nos territórios mais desfavorecidos, a rede é, ao mesmo tempo, uma necessidade absoluta e uma construção problemática por sofrer de um claro défice de capital social em matéria de cooperação multiterritorial.

Por um lado, as micro e pequenas empresas e serviços defrontam-se com um custo de organização e transação muito elevado, por outro, as associações setoriais e as associações de desenvolvimento local e rural, são, na sua maioria, filhas circunstanciais das políticas públicas em vigor e, também, não parecem estar em condições de garantir as economias de rede e aglomeração que são necessárias e esta fragilidade é um teste decisivo à sua sobrevivência no próximo futuro.

Dito isto, todos temos de nos interrogar em que medida um determinado programa de investimentos acrescenta valor à geoeconomia de uma comunidade ou sub-região.

Com efeito, num determinado concelho, comunidade intermunicipal ou sub-região não nos podemos limitar a uma simples candidatura ao investimento numa exploração agrícola ou unidade industrial, é necessário ligar esses investimentos no plano sub-regional e regional e perguntar-se qual é o valor acrescentado que daí resulta, qual é o espaço de cooperação empresarial e institucional que é organizado e mobilizado.

Ou seja, na aldeia global em que vivemos, já não há o dentro e o fora, agora é a vez da geoeconomia dos espaços de cooperação multiterritorial e de estratégias de ação que reduzam as vulnerabilidades próprias e aumentem o campo de possibilidades de gerar capital social entre atores que até aí mal se conheciam e pouco interagiam.

O quadro seguinte mostra alguns exemplos de espaços de cooperação que podem ser objeto de economias de rede e aglomeração se, para tal, formos capazes de organizar as correspondentes plataformas colaborativas:

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Para dinamizar as redes, as plataformas colaborativas e a cooperação multiterritorial referidas, talvez o exemplo mais promissor, nesta altura, seja mesmo a Comunidade Intermunicipal do Alentejo Central (CIMAC), eleita capital europeia da cultura no ano de 2027.

Imagine, agora, o leitor que no âmbito do programa de ação da CIMAC 2027 eram propostas duas infraestruturas inovadoras visando, justamente, dar cumprimento ao objetivo regional de uma geoeconomia da cooperação multiterritorial.

A primeira infraestrutura proposta é um Parque Tecnológico e Criativo e a segunda um Parque Agroecológico Intermunicipal que seriam, assim, constituídos:

Parque Tecnológico e Criativo da CIMAC:

  1. Centro partilhado de recursos digitais
  2. Escola de artes e tecnologias
  3. Plataforma de marketing e branding territorial

Parque Agroecológico Intermunicipal da CIMAC:

  • Parque agroalimentar, recreativo e terapêutico
  • Banco de solos e incubadora rural agroflorestal
  • Centro de ecologia funcional e paisagístico

Perante estes dois projetos estruturantes teríamos duas abordagens ou modelos possíveis de administração. O modelo-silo vertical da administração central, agora digitalizado e formalizado, que dispara concursos e candidaturas em todas as direções que só por milagre podem convergir para fazer a coerência de um programa integrado de desenvolvimento territorial.

Por outro lado, o modelo colaborativo e contratualizado de um território-rede, por exemplo, uma CIM, que possa administrar uma subvenção global que enquadre toda a programação plurianual dos investimentos e que, por essa via, seja capaz de imprimir uma intensidade-rede mínima ao seu território e, assim, mobilizar o capital social que lhe falta para administrar bem a cooperação multiterritorial.

Estou convencido de que as duas infraestruturas aqui referidas, devido à sua elevada interdependência, irão interagir positivamente com todas as comunidades, associações, atores e agentes principais da CIM, ligar as pontas soltas da sua matriz de fluxos e fomentar a capilaridade de um território em busca de sentido e propósito para uma geografia desejada e um destino comum multiterritorial.

Na primeira infraestrutura – o Parque Tecnológico e Criativo – o centro partilhado de recursos digitais é a sede do banco de dados do território, mas é, sobretudo, a plataforma analítica fundamental para a inovação em matéria de programação e planeamento multiterritorial.

A Escola de Artes e Tecnologias é um equipamento fundamental para promover a literacia digital de todos os cidadãos, mas, também, para atrair e reter jovens talentos nas suas instalações de coworking e incubadoras de start-ups.

A plataforma de marketing e branding territorial é um instrumento concebido para eleger os sinais distintivos territoriais e, a partir deles, criar uma estratégia narrativa de comunicação e storytelling para o desenvolvimento do território e sua cooperação multiterritorial.

Na segunda infraestrutura – o Parque Agroecológico Intermunicipal – o parque agroalimentar, recreativo e terapêutico é um equipamento de fins múltiplos que pode abranger vários municípios e prestar serviços muito relevantes a todos os grupos sociais dos concelhos e, sobretudo, aos mais jovens e idosos.

O banco de solos e a incubadora rural agroflorestal é um instrumento fundamental para pôr em prática, de forma inovadora, as medidas do programa de transformação da paisagem, por exemplo, as áreas integradas de gestão da paisagem, a gestão dos planos de ordenamento, as zonas de intervenção florestal, a gestão de baldios e os condomínios de aldeias.

Finalmente, o centro de ecologia funcional e paisagística é uma excelente retaguarda técnica e tecnológica para todas estas intervenções e um ponto de apoio importante para a extensão agro rural onde se incluem, também, os jovens empresários, investigadores, estagiários e formandos do mundo rural.

Estou convencido de que estas duas infraestruturas e os seus equipamentos, pelas suas hiperligações inovadoras e criativas, poderão gerar sólidas economias de rede e aglomeração intrarregionais, inter-regionais, transfronteiriças e transnacionais e mesmo os territórios já funcionalizados, já instalados, poderão ainda aprender uns com os outros, se lhes abrirmos a possibilidade de um projeto comum transdisciplinar, baseado numa ação coletiva inovadora e assente numa rede de cooperação multiterritorial de maior valor acrescentado.

Está em causa a reocupação de muitos territórios e a construção social dos territórios-rede da era digital.

Nota Final

Esta singela contribuição para o programa de ação da CIMAC 2027 revela, como bem se observa, uma conceção muito ampla e aberta de ação cultural.

Muitos territórios do interior estão, como sabemos, em estado de necessidade e à beira de um ataque de nervos.

Por isso mesmo, nenhum agente principal, seja ele qual for, universidade ou politécnico, associação empresarial ou grupo empresarial, comunidade intermunicipal ou serviço público, associações ou grupos culturais, cooperativas ou organizações de produtores, pode fugir às suas responsabilidades.

Este é, também, o momento para praticar a inteligência coletiva territorial em termos mais inovadores e imaginativos.

Os dois parques, sendo empreendimentos de fins múltiplos e estando muito interligados, arrastam atrás de si outras infraestruturas críticas e instrumentos de desenvolvimento e cooperação multiterritorial.

Refiro-me, por exemplo, aos clubes de jovens empresários e produtores, aos projetos associativos, comunitários e de voluntariado nas áreas dos serviços pedagógicos, recreativos e terapêuticos com ligação aos dois parques, às residências artísticas, culturais e científicas de alcance internacional tendo em vista a atração e retenção de jovens talentos, às redes de investigação, desenvolvimento e extensão nas áreas da economia circular, serviços de ecossistema e gestão multirrisco, para citar apenas alguns dos serviços essenciais para a futura geoeconomia da cooperação multiterritorial.

Ficam as sugestões.

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