CIMAC, região-cidade 2027: uma geoeconomia inovadora para a gestão do território

A região-cidade é um novo instrumento de programação e planeamento operacional e uma forma mais inovadora de olhar para a geoeconomia do território

Évora, Capital Europeia da Cultura 2027 é uma oportunidade única para relançar toda a economia do Alentejo Central no quadro da respetiva comunidade intermunicipal (CIMAC) e no âmbito dos quadros financeiros plurianuais do PRR e do PT 2030.

Existem, para o efeito, quatro linhas estratégicas de transição que podem ser descritas do seguinte modo:

Linha 1, transição socio-ecológica: o plano verde e a cidade orgânica, as infraestruturas ecológicas e a rede de corredores verdes, a reabilitação dos ecossistemas e serviços de ecossistema, a arquitetura biofísica e as artes da paisagem, elementos da memória do território e do seu património natural e cultural;

Linha 2, transição sociocultural: a valorização das artes e humanidades na academia, uma escola empresarial de artes e tecnologias, mais plataformas materiais e virtuais de atividades culturais e criativas como elementos de uma economia e sociedade mais colaborativas, uma rede de residências científicas, culturais e artísticas em apoio dessas plataformas;

Linha 3, transição sociodemográfica: programa de inovação social para a sociedade sénior (envelhecimento ativo e clubes colaborativos) e de integração socio-laboral para os mais jovens, em especial, as infraestruturas e os equipamentos da sociedade digital que promovem o trabalho colaborativo, a incubação empresarial, a mobilidade dos nómadas digitais, mas, também, os neorurais da chamada 2ª ruralidade;

Linha 4, transição socioeconómica: o lançamento de um sistema agroalimentar de base territorial CIMAC 27, que parte do conceito de dieta mediterrânica e revisita as agriculturas de proximidade, sob a forma de parque agroecológico municipal, por exemplo, a economia do montado alentejano como exemplo de bioeconomia regional, mas, também, a agricultura de precisão, a silvicultura preventiva e as bioenergias, todas baseadas na economia circular, e ainda, o cluster das indústrias criativas e culturais onde se enquadram, também, as artes da paisagem.

De acordo com o princípio geral de Évora CEC 2027 – o vagar, uma outra arte de existir – onde o compromisso entre a cultura da natureza e a natureza da cultura é fundamental, há, assim, muito espaço para a imaginação criativa e para uma geoeconomia muito mais inovadora do território da CIMAC, região-cidade e ator-rede do Alentejo Central. Senão, vejamos e imaginemos que:

A CIMAC 27 é uma região-cidade onde a atividade humana foi concebida e organizada para promover o bem-estar dos cidadãos, a sua saúde física e psicológica, as boas relações de vizinhança e sociabilidade, em íntima associação com o meio ambiente envolvente, numa perspetiva socio-ecológica em que o papel da paisagem e dos ecossistemas é determinante para ordenar o território e reconfigurar as relações cidade-campo.

A CIMAC 27 é uma região-cidade que atribui prioridade política elevada à constituição de uma reserva estratégica alimentar, promovendo, por essa via, o renascimento de múltiplas formas de agricultura, convencionais, biológicas e ecológicas, e uma ocupação mais diversificada das várias parcelas do território, em íntima associação com uma estratégia agroflorestal bem conduzida, no quadro de sistemas produtivos locais mais inovadores e de maior valor acrescentado.

A CIMAC 27 é uma região-cidade que atribui prioridade política elevada à promoção de uma floresta de fins múltiplos, através de uma oferta de bens e serviços diversificada que vai desde o sequestro de carbono até à biomassa energética com passagem obrigatória pela prestação dos serviços de ecossistema que são essenciais à qualidade de vida de todos os seres vivos.

A CIMAC 27 é uma região-cidade que atribui prioridade política elevada à construção de uma base energética renovável com a formação de núcleos integrados e descentralizados de produção energética, em redes integradas de micro geração onde o consumidor se torna, também, produtor de energia e, ainda, os programas de poupança e eficiência energética que são a forma de energia mais barata disponível.

A CIMAC 27 é uma região-cidade que atribui prioridade política elevada à formação de uma malha policêntrica de cidades pequenas e médias que ajudem a reequilibrar o território, cidades-território perfeitamente integradas na paisagem e nos ecossistemas envolventes e em que as respetivas estruturas ecológicas municipais desempenham um papel central no desenho da interface cidade-campo: circulares verdes, corredores ecológicos de penetração, parques agroecológicos municipais, núcleos bioclimáticos, sistemas integrados de micro geração.

A CIMAC 27 é uma região-cidade que atribui prioridade política elevada à reinvenção do ambiente urbano, em particular, a forma com se programam os equipamentos coletivos, os espaços e os corredores verdes, onde a arquitetura paisagística e a engenharia biofísica podem ajudar a restaurar o metabolismo vital da cidade, a renaturalizar a circulação de alguns dos seus elementos essenciais à vida e a imaginar jardins multifuncionais decorativos, aromáticos e biodepuradores, por meio dos quais se aprende a respeitar os ciclos da natureza, numa atmosfera de conforto, beleza e saúde espiritual.

A CIMAC 27 é uma região-cidade que atribui uma prioridade política elevada aos valores do ordenamento do território e urbanismo, onde os equipamentos coletivos pesados e com maior impacto físico, expressão material do poder político, não sejam os atores principais do desenho urbano mas onde, seguindo uma estratégia que visa combater a monotonia dos subúrbios e a monofuncionalidade dos espaços, se procede à conversão progressiva de uma cidade artificialmente zonada e compactada numa cidade que respeita a morfologia dos elementos naturais e os valores cénicos da paisagem humanizada.

A CIMAC 27 é uma região-cidade que atribui prioridade política elevada ao restabelecimento dos mosaicos paisagísticos e habitats fragmentados, a adoção de uma política local de redução, reciclagem e reutilização de resíduos, a recuperação de linhas de água impermeabilizadas e de solos agrícolas urbanizados, a restauração de bosquetes maltratados, o reenquadramento paisagístico da edificação dispersa assim como dos logradouros inóspitos e da agricultura comunitária existente

A CIMAC 27 é uma região-cidade que atribui prioridade política elevada às áreas de paisagem protegida que não são santuários ou manifestações corporativas de escola mas, antes, espaços integrados de produção, conservação e recreação, segundo uma conceção de ordem geral que considera a biodiversidade, os ecossistemas e os serviços de ecossistema como elementos essenciais à vida em toda a comunidade, que devem ser respeitados por todos os sistemas de produção e não apenas por aqueles que devido à sua especial fragilidade estão acantonados em áreas de paisagem protegida, enquanto, ao mesmo tempo, se age, levianamente, sobre recursos naturais que são imprescindíveis à renovação do stock de capital natural.

 

Nota Final

Entre 2024 e 2027, é inegável que a associação entre as atividades do turismo e das indústrias criativas e culturais (ICC) será o motor do desenvolvimento socioeconómico da região-cidade do Alentejo central. Estas atividades formam uma constelação de largo espectro com potencial para dinamizar novas economias de rede e aglomeração na CIMAC e em toda a região Alentejo.

A título de exemplo, as feiras especializadas de cariz mais agroindustrial – a vinha e o vinho, o olival e o azeite, o montado e a cortiça, as fileiras da floresta, da energia e da pedra ornamental, das artes e ofícios tradicionais, mas, também, os percursos de natureza, os roteiros paisagísticos e as artes da paisagem, entre outros eventos de celebração – são não apenas uma excelente oportunidade para novos negócios, mas, também, para conceber e praticar uma geoeconomia mais inovadora para a gestão do território regional.

A região-cidade é um novo instrumento de programação e planeamento operacional e uma forma mais inovadora de olhar para a geoeconomia do território. No século XXI, depois da infraestruturação material dos seus concelhos, cabe agora aos municípios acomodar as expectativas e as aspirações dos seus munícipes, desde os bens imateriais até aos bens de relação.

A cooperação entre vilas e cidades é um recurso perfeitamente acessível e um instrumento valioso para introduzir uma nova arquitetura de relações a pensar na visitação, o turismo em espaço rural e as vias de acesso privilegiadas para a sociedade sénior. Além disso, a ecologia e a economia, a arte e a cultura, abrem a porta a inúmeros fatores imateriais e intangíveis que contribuem fortemente para recriar as cadeias de valor hoje existentes.

É uma grande oportunidade para as regiões mais vulneráveis em recursos materiais. Neste sentido, a união faz a força e, por isso, o fórum das quatro CIM da região Alentejo parece-me ser uma proposta irrecusável e um instrumento essencial para materializar este objetivo tão prometedor, a CIMAC, região-cidade 2027.

 



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