Eleições: Entre os muitos idosos de Beja, um piscar de olhos da CDU aos jovens

CDU esteve em campanha ontem em Beja

Foto: CDU

Eram poucos os jovens por entre uma plateia com muitos cabelos grisalhos, boinas nas cabeças e rugas nas mãos que seguravam as bandeiras da CDU, mas foram deles as primeiras palavras no comício deste sábado, 2 de Fevereiro, em Beja.

Lucas Candeias, de 17 anos, é membro da Juventude Comunista Portuguesa (JCP) desde os 13. Veio de São João dos Caldeireiros, uma freguesia no concelho de Mértola, onde cresceu a ler os documentos do PCP que o avô, que foi presidente de junta durante 12 anos, levava para casa e com quem andava «desde pequeno» nas campanhas eleitorais.

«Acho que a JCP, o PCP e a CDU são projetos portadores de uma política de futuro para o nosso país e para desenvolver o país e a região do interior. Sinto que somos um grande partido, um grande coletivo, somos muitos jovens. Na [minha] turma sou o único, mas tento sempre trazer mais», conta o aluno da Escola Básica e Secundária de Mértola, realçando os cartazes, as faixas e a criação da associação de estudantes como formas de luta para melhorar as condições.

Num curto discurso, o primeiro da tarde, fala da falta de condições das escolas. Da voz juvenil saem também palavras adultas, ao sublinhar a «brutal tentativa de liquidação das conquistas de Abril» e o impacto num distrito já envelhecido dos muitos jovens que emigram ou saem para os centros urbanos, um cenário que afasta do seu próprio futuro.

«É aqui que quero ficar, espero não ter de emigrar. Acho que o nosso distrito tem potencial e capacidade para não deixar os jovens emigrar. É um direito que temos: querer ficar na nossa terra», refere, lamentando ainda as sondagens que apontam uma maior inclinação dos jovens para votar em partidos à direita: «são populistas, dizem aquilo que os jovens querem ouvir e muitos deixam-se ir nessas conversas. Isso é que é pena».

Se as cerca de 200 pessoas presentes no comício eram maioritariamente idosas, a juventude já aquecera antes o palco, com uma atuação do grupo Rufar e Bombar, composta por mais de duas dezenas de elementos e em que o mais novo, bem à frente dos colegas, não tinha mais de seis anos. Seguiram-se interpretações musicais de temas de Zeca Afonso, como “Milho verde” ou “Era de noite e levaram”, e o hino dos mineiros, conhecido e cantado por quase todos.

Sentada na segunda fila, Matilde Silva, de 23 anos, ouve com atenção as atuações e as intervenções de Lucas, do candidato distrital João Dias e do secretário-geral do PCP Paulo Raimundo, que lembra os jovens que abandonaram o país nos últimos anos e que a «CDU faz falta para cumprir os sonhos de uma juventude que não pode estar condenada a viver pior do que a geração anterior».

Apesar de o líder comunista não ter nomeado responsáveis por essa situação, a estudante do mestrado de Relações Internacionais na Universidade de Évora não hesita: «quem nos mandou sair foi o Passos Coelho há uns anos no governo PSD-CDS. Não tenciono sair do meu país, eu acredito é que é através da transformação que a gente lá vai. A partir do momento em que a gente cá está e luta por mais condições é quando consegue uma vida melhor para todos».

Tal como Lucas, pertence à JCP, à qual aderiu pela «justeza da luta» após ter entrado para a faculdade e se ter apercebido do «peso do pagamento da propina» ou da influência dos exames nacionais que, no seu entender, se traduzem numa «forma de elitização» do ensino superior. «só a CDU quer o ensino superior como está na Constituição: público, democrático, gratuito e de qualidade», reforça.

Questionada pela Lusa sobre o futuro do PCP e da CDU, face a algumas sondagens que indiciam uma quebra ou perante a própria amostra dos apoiantes presentes neste comício, Matilde assegura que a pergunta «está mal formulada» e que há mais jovens além dela, mencionando até uma iniciativa da JCP em Fevereiro, em Lisboa, que a «comunicação social optou por não passar nada».

«Não tenho dúvidas absolutamente nenhumas de que o projeto da CDU é um projeto de juventude, de emancipação, que quer que a juventude tenha futuro e alegria. Somos muitos e cada vez sentimos que somos mais», atira.

E Lucas, que com 17 anos ainda nem tem idade para votar no dia 10 de Março, critica as «aves agoirentas» e recorre à história de clandestinidade do PCP durante a ditadura para dar uma garantia de futuro.

«Também nessa altura diziam que o partido estava morto e passados 103 anos cá estamos», sublinha, já depois de tirar fotos com algumas pessoas, numa ideia que já deixara expressa no discurso: «as causas nunca morrem enquanto existir quem as defenda».

 



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