Terras sem Sombra está de volta para edição mais reduzida mas cheia de novidades

Serão 10 fins de semana para dar a conhecer o melhor da música, do património e da biodiversidade em outros tantos municípios do Alentejo

Festival Terras sem Sombra no Alentejo profundo – Foto: Elisabete Rodrigues | Sul Informação (arquivo)

«Foi um bocadinho difícil, mas os parceiros responderam muito empenhadamente» e o Festival Terras sem Sombra está de volta, embora «num formato mais reduzido», revelou José António Falcão, diretor geral do festival, em entrevista ao Sul Informação.

E assim, no próximo fim de semana de 13 e 14 de Maio, a edição de 2023 do Terras sem Sombra vai começar em Ferreira do Alentejo, para continuar depois até meados de Dezembro, quando encerrará, em Sines.

O festival é hoje apresentado oficialmente em Lisboa, na Embaixada da Áustria, país convidado e um dos parceiros desta 19ª edição do festival do «Alentejo positivo», como disse Sara Fonseca, diretora executiva.

O Festival Terras sem Sombra esteve em risco de desaparecer, depois de, em Novembro passado, ter visto recusada, pela Direção-Geral das Artes (DGArtes). a sua candidatura ao Programa de Apoio Sustentado às Artes, na modalidade bienal.

O festival apresenta uma programação de alta qualidade na música erudita, aliada à valorização do património cultural e ambiental «daquele Alentejo que é menos conhecido, que fica para além dos estereótipos», como salientou José António Falcão. No fundo, trata-se de «ter uma temporada musical regional com um nível artístico internacional, reconhecido ao nível europeu».

Mas nem essas características, nem a sua história, implantação e até prémios já recebidos pesaram na balança da DGArtes.

Enquanto continua a sua luta, tendo apresentado «um recurso hierárquico junto do Ministro da Cultura», cujo resultado é aguardado «com expectativa», a direção do Terras sem Sombra foi bater à porta de muitos dos parceiros que têm acompanhado a história deste grande festival alentejano.

«A resposta que recebemos dos nossos parceiros nacionais e internacionais foi impressionante. E assim conseguimos construir esta edição, de alta qualidade», garantiu o diretor geral.

E de que parceiros se trata? Desde logo, os 10 municípios, aqui apresentados pela ordem cronológica dos fins de semana do Festival que vão receber: Ferreira do Alentejo (13 e 14 de Maio), Castelo de Vide (27 e 28 de Maio), Mourão (24 e 25 de Junho), Beja (9 e 10 de Setembro), Santiago do Cacém (23 e 24 de Setembro), Odemira (14 e 15 de Outubro), Vidigueira (28 e 29 de Outubro), Arraiolos (11 e 12 de Novembro), Montemor-o-Novo (2 e 3 de Dezembro) e Sines (16 e 17 de Dezembro). Este ano, porque promove o Festival Islâmico, Mértola ficou de fora, mas continua a garantir o seu apoio.

Depois, as instituições estrangeiras, nomeadamente as embaixadas dos países de onde virão os músicos que integram a programação.

José António Falcão destaca ainda o «regresso» da Fundação Millenium BCP, que vai sobretudo apoiar as atividades voltadas para «as crianças e os jovens», bem como as instituições privadas como a Nutrifarms (Lagar do Marmelo).

Outro apoio que a direção do festival faz questão de destacar é o da Direção Regional de Cultura do Alentejo. «A diretora regional Ana Paula Amendoeira percebe como este festival é importante para o território e não nos abandonou», garantiu Sara Fonseca.

No fundo, há «um apoio muito forte de dentro do próprio território, de dentro do Alentejo». Agora, com a 19ª edição já em marcha, embora em formato mais reduzido, o que é preciso é «estruturarmo-nos para ver se temos resistência para mais um ano sem os apoios da DGArtes», acrescenta a diretora executiva, que está pouco esperançada no bom resultado do recurso.

«Tivemos de fazer as nossas escolhas para esta edição de 2023», mas o que é essencial continua: «o festival cobre o Alentejo como um todo, chegando aos quatro distritos e, naquilo que é a nossa pedra de toque, a qualidade do programa mantém-se», sublinhou por seu lado José António Falcão.

Este ano, o tema genérico é “Eufonias: Diversidade e Pluralidade na Música Europeia (Séculos XVI- XXI)”. «Eufonia quer dizer som agradável, harmonioso, contrário à cacofonia», disse o diretor geral. No mundo atual, onde a cacofonia impera, uma escolha ainda mais importante.

O programa centra-se «na Europa, mas abrindo janelas a Oriente e a Ocidente, nomeadamente aos Estados Unidos e ao continente americano». Contará com intérpretes da Áustria, Hungria, República Checa, Itália, Polónia, Espanha e Filipinas. Neste último caso, trata-se do regresso do pianista filipino Raul Sunico que, no ano passado, fez as delícias do público na sua passagem por Odemira.

O país convidado é a Áustria, havendo quatro concertos austríacos. O primeiro é já no próximo sábado, no Lagar da Herdade do Marmelo, em Ferreira do Alentejo, com o violinista Johannes Fleischmman, «uma figura muito carismática», e a pianista Sabina Hasanova, que «é oriunda do Azerbeijão, estudou em Moscovo e desenvolve a sua carreira em Viena».

Outro concerto austríaco está programado para Arraiolos (11 de Novembro), com o Duo Violarra. Trata-se de um duo «bastante incomum», de violino e guitarra, que irá apresentar «uma música descomprometida, entre Bach e o século XX, criando uma nova empatia com o público».

Áustria, pátria de Mozart e das valsas dos Strauss, «é de facto uma referência, não só por esses clássicos, mas por ter uma cena musical muito interessante e viva», disse o diretor geral do Terras sem Sombra. E é essa cena «viva» que vai estar em foco nos quatro concertos.

A par da música, mantém-se a aposta no património cultural e na biodiversidade. «Vamos continuar a deambular pelo património e pela biodiversidade ao longo destes fins de semana», garantiu Sara Fonseca.

«Eu não sabia que ainda há uma fábrica de móveis alentejanos em Ferreira», admitiu José António Falcão. Mas será precisamente este o local da visita ao património do próximo sábado, dia 13 de Maio.

Em Castelo de Vide, por exemplo, as atenções irão voltar-se para o seu rico «património hidrogeológico, que vai das velhas fontes à moderníssima fábrica da Vitalis».

 

Monumento aos aviadores Brito Pais e Sarmento de Beires, em Vila Nova de Milfontes – Foto: Elisabete Rodrigues | Sul Informação

 

Em Vila Nova de Milfontes (Odemira), o foco estará voltado para o centenário da voo histórico de Brito Pais e Sarmento de Beires, que partiu daquela localidade, para o primeiro raid aéreo Portugal-Macau. «Ainda há por lá pessoas que são da famílias dos aviadores e estarão connosco».

Sara Fonseca sublinha, por seu lado, o fim de semana em Mourão, onde a atividade sobre biodiversidade tem como tema «Uma Agricultura Exigente: A Produção de Ervas Aromáticas». «Há ali ervas aromáticas que são produzidas com água do Alqueva e que são exportadas, tendo dupla certificação biológica, nomeadamente a da Suíça, que é muito difícil de obter».

Para Arraiolos, mais concretamente para aldeia de Santana do Campo, está prevista a atividade «Herança Comunitária: Jogos Tradicionais e Património Imaterial», que «nos vai pôr todos a brincar e a aprender jogos tradicionais».

«Este é mesmo um Alentejo sem fim», sublinhou Sara Fonseca. «Há um manancial de atividades muito grande, que é mérito dos nossos interlocutores», acrescentou José António Falcão.

Esta quarta-feira, dia 10 de Maio, na Embaixada da Áustria, tem lugar a apresentação oficial do Terras sem Sombra, que inclui um concerto com Francisco Sassetti, ao piano, e a soprano açoreana Sandra Medeiros.

Apesar de ser em Lisboa, é o primeiro passo na internacionalização da edição deste ano do festival. É que, segundo revelou o diretor geral ao Sul Informação, o Terras sem Sombra irá ainda levar o Alentejo, «através da música e da gastronomia», a Viena de Áustria e a Espanha, à Comunidade Autonómica de Aragão, a uma destas duas cidades: Albarracín ou Saragoça.

«É muito importante para a captação de novos públicos continuar a internacionalização do Alentejo», concluiu José António Falcão.

 

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