Em todas as discussões sobre o Algarve, surge a referência à monodependência do turismo e à necessidade de diversificar a economia.
Num território de pequena dimensão e altamente dependente do Turismo, a Economia exige criatividade, inovação e uma aposta estratégica em setores complementares e sustentáveis.
Uma grande aposta no conhecimento e no digital tem acontecido através da principal estrutura impulsionadora de investigação da região, que é a Universidade do Algarve, incluindo não só os seus centros de investigação, mas também, as start-up que aí têm testado as suas ideias de inovação; os Laboratórios Colaborativos (CoLAB), que são entidades que se dedicam à produção, difusão e transmissão de conhecimento e que agregam investigadores e empresas em várias áreas do conhecimento; e ainda nas infraestruturas criadas de suporte a esse desenvolvimento, como é o caso do Ualg Tec Campus e a Algarve STP (Algarve Systems and Technology Partnership Association).
A população residente no Algarve possui para cima de 150 nacionalidades diferentes e este é um dos destinos nacionais mais reconhecidos para os nómadas digitais.
A qualidade de vida, a oferta de espaços de coworking e o clima, parecem surgir como principais elementos de atração e fixação de novos residentes, todavia, a dificuldade de habitação associadas a uma internet com algumas fragilidades, têm condicionado uma maior atração de profissionais remotos.
Também no decurso de uma elevada digitalização em curso das economias, a procura de novas ofertas formativas e de um ensino online tem contribuído para a emergência de novos programas educativos e de formação profissional em áreas digitais, como são o caso do marketing digital, da programação de jogos e de animação, e do design multimédia, entre outros.
A capacitação para a Inteligência Artificial e para novas soluções informáticas que facilitem a operação empresarial emerge em todas as áreas. A centralidade da economia digital tem sido responsável por uma nova dinâmica, mas não só.
Parece assistir-se a um despertar de uma maior valorização dos recursos naturais e dos produtos locais. Uma estratégia concertada em torno do Plano de Atividades para a Salvaguarda da Dieta Mediterrânica, a aposta numa produção agroalimentar diferenciada e em produtos de alta qualidade e valor acrescentado, como compotas artesanais, azeite premium, ervas aromáticas e frutos secos, mas também o vinho, o sal, o medronho e o mel, trazem algum alento ao mercado agrícola regional.
Estudam-se e desenvolvem-se processos de certificação e o branding de produtos regionais, assim como, a criação de denominações de origem e plataformas online para promover os produtos locais em mercados gourmet (o Saborear Algarve é disso um excelente exemplo).
Por sua vez, o turismo rural e o turismo gastronómico, o turismo de bem-estar, podem estar na possibilidade de criação de outras experiências que envolvam os visitantes na produção de alimentos, colheita de citrinos, apicultura, produção de vinho ou azeite, e até em oportunidades de turismo criativo, incluindo o artesanato.
Outras áreas de relação com a economia azul e os recursos do mar, como são o caso da piscicultura e da aquacultura sustentável, associado à exploração de mariscos, de peixes ou mesmo de algas com certificação ecológica estão a assumir um novo valor.
A biotecnologia marinha com projetos que utilizem recursos marinhos para a produção de cosméticos, fármacos ou bioplásticos são também oportunidades.
A necessidade de promover a identidade, a cultura, as artes e as indústrias criativas, incluindo o artesanato e design local potenciam a produção artesanal de cerâmica, mas também a cortiça, a tecelagem, a cestaria ou mesmo a marcenaria tradicional, promovendo vendas online.
Os museus e centros de interpretação imersivos podem também ser polos de dinâmica cultural com uma inovação da oferta suportada na realidade aumentada e em novas tecnologias para contar a história e cultura da região.
Ninguém nega também o enorme potencial na área da energia renovável e da sustentabilidade na região; a produção de energia solar e da eólica pode trazer projetos descentralizados de energia renovável.
Uma aposta maior na eficiência energéticas e na economia circular, que tenha associados incentivos para uma construção mais sustentável, em que coexistam práticas de reciclagem e gestão de resíduos inteligentes serão também desejáveis na construção de uma região mais sustentável e inteligente.
Mas uma última nota fundamental vai para a saúde e bem-estar. Temos, por estes dias, uma discussão em torno do “Spa do futuro” e para esta questão convocam-se várias matérias não só relacionadas com o turismo, mas sobretudo com a criação de infraestruturas para terapias alternativas, spas naturais ou até retiros de saúde mental.
Não esqueçamos, nesta matéria, o potencial do segmento sénior e e do turismo residencial ou de longa duração. Os reformados de outras nacionalidades e os nómadas seniores procuram qualidade de vida e um bom clima, dimensões em que somos destinos privilegiados.
Todas estas questões necessitam de ter associadas boas acessibilidades e uma mobilidade acessível a todos – residentes e turistas – pelo que, para além da habitação, da água e da saúde, é imperioso que se resolvam na Região as questões da mobilidade intrarregional e inter-regional.
Tivemos a proposta de estudo prévio do Metrobus em consulta pública, que terá recebido um número expressivo de contributos.
Tudo é essencial, mas a questão maior para que seja possível melhorar a economia regional tem que ver com a melhoria das ligações regionais e o acesso ao território.
A chave para a diversificação passará por combinar várias destas soluções e adaptá-las à identidade e aos recursos específicos da região.
Como questão final, perguntaria se discorda desta reflexão e o que acha que poderia funcionar melhor neste contexto onde se encontra? Pode enviar-nos sugestões e comentários para: [email protected].
A criação de oportunidades e a fixação de população dependerá crescentemente do acesso a melhor qualidade de vida, onde a questão do custo habitacional, o acesso à saúde e a facilidade de mobilidade são fatores críticos de sucesso.
Obrigado por fazer parte desta missão!