Foi um tornado que provocou, ontem de manhã, por volta das 9h30, estragos na zona de Ferragudo (concelho de Lagoa) e, um pouco mais tarde, na freguesia de São Bartolomeu de Messines (Silves). Aliás, podem até ter sido vários tornados.
Quem o afirma é Bruno Gonçalves, engenheiro de Ambiente apaixonado pelos fenómenos meteorológicos, caçador de tornados, responsável pelos sites Meteofontes e ExtremAtmosfera, em declarações ao Sul Informação.
Tratou-se, segundo este especialista, de um tornado de fraca intensidade, «provavelmente um F0 ou F1, visto que partiu árvores».
«A célula que formou o tornado em Messines foi a mesma que passou no concelho de Lagoa, por volta das 9h30, 9h45 [de ontem] e que deu origem àquela chuvada muito grande», explicou. Depois, essa célula «seguiu até Messines, São Marcos da Serra e por aí fora até Serpa», já no Alentejo, «sempre com as mesmas características, mas às vezes mais forte, às vezes mais fraca».

É isso que leva Bruno Gonçalves a admitir que poderá não ter sido um só tornado a fazer o seu caminho de mais de cem quilómetros, entre Ferragudo e Serpa, mas vários, já que «eles descem e sobem, descem e sobem».
Pelo que o próprio observou na zona de Lagoa, a célula que atravessou o concelho tinha características de «supercélula e com potencial para tornado», pelo que não admira o rasto que deixou.
No caso do Parque de Campismo de Ferragudo, que sofreu estragos devido à queda de árvores em cima de estruturas, tendo mesmo algumas árvores sido arrancadas, o tornado foi causado pela «mesma célula», levando Bruno Gonçalves a aventar a hipótese de o fenómeno meteorológico extremo se ter começado a formar no mar, tendo depois entrado em terra e avançado por aí fora.
Aliás, esta terça-feira de manhã foi avistada e filmada uma tromba de água sobre o mar, às 8h45, a sudoeste de Lagos, frente à praia de Porto de Mós. Neste caso, e felizmente, a tromba de água não chegou a entrar em terra, evitando que se transformasse num tornado, com consequências imprevisíveis numa zona mais urbanizada.
O meteorologista amador salientou ainda, nas suas declarações ao Sul Informação, que também no Sotavento do Algarve se registaram ontem «células muito fortes», que passaram a norte de Tavira, pela zona da serra. Mas aqui, que se saiba, não há registo de estragos.
No entanto, não muito longe, mas já no lado espanhol, um tornado entre Isla Cristina e Ayamonte causou ontem à tarde quedas de árvores, de painéis e de postes de eletricidade, levando mesmo ao corte da estrada, em vários pontos, entre aquelas duas localidades da província de Huelva.
Além do vento, também choveu muito no Algarve, no dia de ontem, e choveu de forma muito concentrada no tempo, em cerca de hora e meia.
Na rede do Meteofontes, a precipitação acumulada ontem foi de 16 milímetros (mm), mas em Monchique, segundo os dados do IPMA, esta terça-feira caíram 22 mm, tendo a zona onde mais caiu precipitação sido a de Loulé, com 39,5 mm em hora e meia. Muita chuva em pouco tempo!
Houve, aliás, inundações sem consequências graves um pouco por todas as zonas algarvias atravessadas por estas células, nomeadamente em Ferragudo (na zona do canal, cuja estrada ficou alagada) ou na baixa de Faro.

Mas as situações mais graves registaram-se no interior da freguesia de São Bartolomeu de Messines, onde, tal como o Sul Informação ontem noticiou, houve mesmo um homem de 72 anos que ficou ligeiramente ferido, por causa do desabamento de uma garagem, atingida por um poste, que caiu devido aos fortes ventos do tornado.
Carla Benedito, presidente da Junta de Freguesia de São Bartolomeu de Messines, adiantou esta manhã ao nosso jornal que, ao todo, foram atingidas seis habitações, de residentes portugueses e estrangeiros: duas casas no Vale da Velha, três na Perna Seca e uma no Barranco do Diogo.
Também há notícias de estragos em casas e estruturas na vizinha freguesia de São Marcos da Serra, por onde o tornado prosseguiu o seu percurso.
«Felizmente, trata-se, na maior parte dos casos, de coisas ligeiras, telhas levantadas ou que voaram, árvores partidas ou que caíram», explicou a autarca messinense.
As «equipas da Junta, nomeadamente os sapadores florestais, estão já no terreno a dar um apoio às pessoas afetadas», a cortar árvores, retirar ramos partidos, telhas e coberturas que voaram, vedações que caíram.
O idoso que ontem tinha ficado ligeiramente ferido em Vale da Velha já regressou à sua casa, disse Carla Benedito.
Fonte da Proteção Civil disse ao Sul Informação que, na zona do interior do concelho de Silves, nas freguesias de Messines e de São Marcos, a passagem do tornado derrubou ou danificou perto de duas mil árvores, muitas delas de grande porte, como sobreiros.
Fotos cedidas pela Junta de Freguesia de SB Messines

Destruição em Vale da Velha

Destruição em Vale da Velha

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Estragos numa casa em Vale Favas

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