A minha gratidão ao Emanuel Sancho pelo seu trabalho em prol da Cultura.
Por vezes, tomamos por garantido o que temos perto, não lhe dando o devido valor. Talvez se passe o mesmo com o Emanuel, que sempre esteve lá, no Museu, para qualquer um de nós, desde 1988 como voluntário e a partir de 1996 como trabalhador.
Será que alguma vez tivemos consciência de que isso poderia mudar? Certos de que ninguém é eterno, também nunca pensámos numa saída pela “porta dos fundos” de alguém que fez deste Museu o que ele é hoje.
Não sei se os que frequentam o Museu, e são muitos, terão pensado o mesmo. Será que se questionaram sobre o que será o Museu sem o seu mentor, impedido de ali entrar e participar como voluntário, um papel que a tantos disponibilizou?
Ter-se-ão apercebido do que faz deste Museu um lugar diferente, envolvendo sempre a comunidade, sob a inspiração do conceito de Museologia Social que ali se promove, criando laços de proximidade com a população local e mesmo com a que não reside no concelho, o que é o meu caso?
O valor de cada um sempre foi reconhecido pelo Emanuel quando ali nos dirigimos para disponibilizar o nosso tempo e o nosso saber. Ele encontra sempre uma temática, uma área de investigação, uma tarefa onde nos sentimos uma mais-valia.
Não só promove o nosso valor, ao fazermos ou continuarmos a fazer ações para as quais o mundo laboral por vezes já não tem espaço (o caso dos que estão reformados), mas também ali encontramos um local para deixarmos o nosso contributo/saber para as gerações vindouras, um contributo muitas vezes essencial para o desenvolvimento identitário de uma região, ou tão somente para que o Museu tenha as suas portas abertas aos que ali se dirigem, permitindo que outros conheçam um pouco mais da região que visitam.
Poderão dizer que o que ali se passa é normal, qualquer um faria ou mesmo. Penso que não, pois não conheço na região outro museu onde isto aconteça.
O que temos no Museu do Traje de São Brás de Alportel partiu da visão do seu diretor, o Emanuel Sancho, e é uma singularidade no panorama dos museus. Com poucos funcionários, consegue fazer o que muitos outros com equipas mais numerosas não conseguem.
Pergunto-me em quantos outros museus temos tantos voluntários, tantos contributos e tanta vivência da sua comunidade num espaço chamado de Museu? Local que muitos dos que chegam de fora a São Brás de Alportel escolhem como sala de visitas, é ali que recebem os seus amigos, orgulhosos de mostrar que onde vivem existe um Museu acolhedor e diferente e onde a comunidade tem um papel ativo.
Ali se criam grupos de trabalho/investigação à volta de diversas temáticas culturais. Ali se desenvolvem atividades que engrandecem não só o Museu, mas o concelho de São Brás de Alportel e a Região.
O trabalho ali realizado vai muito para além das paredes do Museu. O envolvimento é tal que alguns levam trabalho para casa, vão investigar e alguns dias depois regressam para trocarem ideias e debaterem novos saberes encontrados em fontes diversas, muitas vezes a partir de conversas com outros sambrasenses.
O papel social do Museu revela-se-nos quando ali encontramos muitos sambrasenses (nascidos, residentes ou de alma e coração) que anteriormente estariam em casa ou num café revivendo com nostalgia as memórias dos seus tempos de juventude.
Aqui, neste Museu, encontraram um espaço de partilha, de encontro, de valorização do seu saber, do seu passado.
Como é possível não reconhecer todo o investimento que este Museu faz com a comunidade local, o papel que o Emanuel Sancho tem neste acolher toda a gente que ali é valorizada, que ali se sente mais feliz, que ali se sente viva. Um trabalho de muitos anos, uma escola para muitos que ali vão recolher informação para replicarem junto das suas comunidades.
Os que ali estão não são visitantes mas participantes no processo de construção da memória coletiva da comunidade.
Com a eventual saída do Emanuel Sancho do Museu do Traje de São Brás de Alportel, muita coisa irá mudar, pois deixará de cumprir as funções que definem o conceito de Museu: “Museu é uma instituição de carácter permanente, com ou sem personalidade jurídica, sem fins lucrativos. […] Garantir um destino unitário a um conjunto de bens culturais e valorizá-los através da investigação, incorporação, inventário, documentação, conservação, interpretação, exposição e divulgação, com objetivos científicos, educativos e lúdicos. […] Facultar acesso regular ao público e fomentar a democratização da cultura, a promoção da pessoa e o desenvolvimento da sociedade”.
Por isso, quando alguém se refere ao Museu apenas como um espaço que traz encargos económicos, percebemos, com tristeza, que quem fala assim tem um imenso desconhecimento do que é um Museu, ou mesmo do que é a Cultura.
Pergunto-me se podia ser diferente? Pergunto-me, também, o que dirão de uma Biblioteca? Será ela rentável?
O valor que advém destes equipamentos culturais não se mede em euros, mas sim em ganhos futuros nas comunidades que deles usufruem.
Um Museu tem uma função social que se concretiza quando ali encontramos a vida de São Brás de Alportel dentro do Museu.
Não devemos dar por garantido o que temos, “ali” o futuro será muito diferente.
Obrigado por fazer parte desta missão!