“Silêncios da Historiografia Portuguesa: Uma Comunidade Alentejana de origem Africana em Terras do Sado” é o tema da conferência da historiadora Isabel Castro Henriques, que vai decorrer, esta quinta-feira, 7 de Novembro, às 21h00, no Núcleo Museológico da Rua do Sembrano, em Beja.
A iniciativa, que tem entrada livre, está integrada no ciclo “Conferências Terra e Paisagens no Sul de Beja”, promovido pela Empresa de Desenvolvimento e Infraestruturas do Alqueva (EDIA), em parceria com a Câmara de Beja e com apoio de diversas entidades.
Ao longo da história portuguesa, muitas foram as situações históricas que a historiografia foi silenciando, dando origem a lacunas do saber, apenas colmatadas nas últimas décadas.
O conhecimento das populações de origem africana que se instalaram em Portugal, vindas no quadro do comércio de escravos português e reduzidas à escravatura, ou que aqui foram nascendo, a partir da segunda metade do século XV, ficou marcado pelo silêncio, já que, transformadas em mercadoria, não apresentavam qualquer interesse histórico.
É nos finais do século XIX que Leite de Vasconcelos regista a presença de populações no vale do Sado, conhecidas por «Pretos do Sado», cuja história começa apenas agora a ser estudada e conhecida.
Instaladas nessa região alentejana desde finais do século XV, esses homens e mulheres, que no século XIX formavam uma comunidade singular ligada à rizicultura, foram-se integrando afirmando uma identidade alentejana e portuguesa, que hoje exclui quaisquer marcas culturais significativas de um passado africano.
Nascida em Lisboa em 1946, Isabel Castro Henriques licenciou-se em História em 1974, na Universidade de Paris I – Panthéon-Sorbonne.
Em 1993, doutorou-se em História de África na mesma Universidade Francesa, com uma tese consagrada à História da Angola oitocentista.
Historiadora e Professora Associada com Agregação, hoje aposentada, da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, introduziu os estudos de História de África na Universidade Portuguesa, em 1974, orientou teses de mestrado e doutoramento e ensinou durante quatro décadas História de África, História do Colonialismo e da Escravatura, História das Relações Afro-Portuguesas, continuando a desenvolver a sua investigação histórica sobre África no CEsA/ISEG- -Universidade de Lisboa.
A sua produção científica inclui trabalhos de natureza diversa, como estudos, projectos de investigação, programas museológicos, exposições, documentos fílmicos, colóquios, conferências, livros e artigos sobre temáticas africanas, tendo sido professora convidada em universidades africanas, europeias e brasileiras.
Algumas publicações mais recentes: Roteiro Histórico de uma Lisboa Africana, Lisboa, 2021; De Escravos a Indígenas. O longo processo de instrumentalização dos Africanos (séculos XV-XX), Lisboa, 2019; A Descolonização da História. Portugal, a África e a Desconstrução de Mitos Historiográficos Portugueses, Lisboa, 2020; Os Pretos do Sado: História e Memória de uma Comunidade Alentejana de Origem Africana (séculos XV-XX), Lisboa,2020; A África e o Mundo. Circulação, Apropriação e Cruzamento de Conhecimentos (séculos XV-XX), Lisboa, 2021.
A conferência terá transmissão em direto pelo canal do Youtube da Câmara Municipal de Beja, em https://www.youtube.com/@CMBeja/streams