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O poeta e escritor Nuno Júdice, nascido na Mexilhoeira Grande (Portimão) em 1949, mas que se tornou um homem do mundo graças à sua obra conhecida e premiada a nível internacional, está finalmente a ser homenageado na sua terra.

Para celebrar Nuno Júdice, que morreu a 17 de Março deste ano, aos 74 anos, já há um mural a ele dedicado, inaugurado no dia 21 de Setembro, na Mexilhoeira, enquanto o Museu de Portimão, com a família, está a preparar uma grande exposição sobre o poeta, a ser inaugurada «dentro de alguns meses», prevendo-se também, para breve, que, à beira do Arade, seja criado um passeio com poemas seus.

A primeira homenagem teve lugar no sábado, dia 21, no mesmo dia em que a Mexilhoeira Grande recebia a festa «A nossa Cultura sai à Rua», promovida pelo Museu de Portimão e pela Junta de Freguesia local.

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O mural, da autoria do artista Bigod (João Domingos), com curadoria do LAC – Laboratório de Actividades Criativas de Lagos, e que inclui um poema de Júdice, foi pintado num dos lados do Pavilhão Desportivo da Escola EB 2,3 da Mexilhoeira, na parede de onde se avista a Ria de Alvor, lá mais abaixo, de que o poeta tanto gostava.

José Vitorino, presidente da Junta de Freguesia, revelou, na inauguração do mural, ter contactado com Nuno Júdice, «ainda antes de se saber que estava doente». A ideia já era prestar-lhe uma homenagem, pintando um mural na escola da sua terra natal, num local que pudesse «ser visível para quem passa por fora e não ficasse apenas na escola, para que todos possam ver» e recordar.

Manuela Júdice, mulher do escritor, recordou que, «para a escolha do poema» que está plasmado no mural, «foi determinante o local onde o mural ficaria, esta escola».

Mas, ironizou, «o Nuno, que sempre fugiu às aulas de ginástica, a partir de hoje fica imortalizado nas paredes de um pavilhão gimnodesportivo» …

 

Este é o poema do mural:

«Vou falar em português,
com cada vogal no seu lugar, dita
com toda a clareza,
uma de cada vez. Assim,
não comendo os és nem os is,
e pondo cada ó, aberto
ou fechado, dentro da sílaba
que lhe cabe, o português
fica com os pontos nos is,
para que o ouvido perceba
o que é dele,
e quem o escreva saiba
que a letra escrita
não vai ser letra morta
na boca
de quem lhe abra a porta».

 

Sul Informação

 

Depois de Matilde, uma das netas do escritor ter lido um poema, Álvaro Bila, presidente da Câmara Municipal de Portimão, anunciou a criação do futuro passeio ribeirinho dedicado a Nuno Júdice, à beira do Arade, na sede de concelho.

Trata-se de uma ideia proposta pelo ICIA (Instituto de Cultura Ibero-Atlântica), ao qual Júdice estava ligado, e a ideia é que «as pessoas possam caminhar pela zona ribeirinha e apreciar os poemas», acrescentou o autarca.

«No próximo ano, em conjunto com a família e os amigos, vamos escolher os poemas», que hão-de figurar no passeio ribeirinho, em Portimão.

Numa iniciativa da família, e integrando o programa oficial da festa «A nossa Cultura sai à Rua», nesse sábado, entre as 17 e as 19h00, foi ainda possível espreitar um pouco da intimidade do escritor, já que a biblioteca e o escritório da sua casa na Mexilhoeira Grande estiveram de portas abertas.

Embora vivesse em Lisboa, Nuno Júdice nunca deixou de passar as férias na Mexilhoeira Grande, mesmo quando, já adulto, esteve na Suíça, em França ou a correr o mundo, lendo os seus poemas um pouco por todo o lado, da China ao México, da África do Sul até Espanha, de Nova Iorque a Rabat.

Como se recorda no folheto produzido pelo Museu de Portimão para acompanhar esta iniciativa da biblioteca e escritório de portas abertas, «um dos seus prazeres foi tentar que os seus filhos e netos gostassem tando do Algarve como ele gostava e, sempre que podia, vinha com a família à Mexilhoeira».

Por isso, «cada membro da família tem várias histórias únicas a contar de coisas que aconteceram nesta casa ou no caminho rumo a sul».

Nuno Júdice adorava levar os netos à praia e ao seu laranjal, onde apanhavam figos, laranjas e limões.

O Algarve e, em particular, a Mexilhoeira Grande, as casas onde nasceu e onde passou as férias, estão muito presentes na sua obra, tanto nos poemas, como na prosa.

 

Sul Informação

 

As duas salas que foram abertas aos visitantes são o seu escritório e a sua biblioteca, espaços que foram recuperados, há 20 anos, com esse fim específico.

Aí escreveu muitos dos seus poemas. O romance «O Anjo da Tempestade» foi todo escrito neste escritório, durante o Verão de 2005.

Ao centro da sala, encontra-se uma mesa de bilhar, onde ele jogava com os amigos, os filhos e os netos, e mesmo, às vezes, para descansar da escrita, dava uns toques sozinho.

A sua biblioteca está dividida entre a casa de Lisboa e estas salas na da Mexilhoeira. Nas estantes, estão alguns dos livros que escreveu, antologias onde participou e os livros que gostava de ler.

Um detalhe curioso é a presença, no escritório, de três máquinas de escrever. A mais antiga pertencia ao avô do poeta e a mais recente foi a sua primeira máquina, aquela onde escrevia até passar a fazê-lo no computador.

A terceira máquina foi encontrada abandonada na cave da casa onde morou em Paris. E tem, como recordou durante a visita, Manuela Júdice, um teclado alemão, o que o levou a imaginar que a máquina pudesse ter pertencido a alguém dos exércitos de Hitler ou que para eles trabalhasse, durante a ocupação de Paris, na II Guerra Mundial.

 

Sul Informação

 

Muitos dos diplomas e objetos que recebeu como prémio puderam também ser vistos nestas salas, a par de quadros e fotografias da autoria dos seus amigos artistas plásticos e escritores.

Na parede, pôde ainda ser apreciada uma fotografia de Sophia de Mello Breyner Andersen ou vários retratos de Fernando Pessoa, «poeta que terá inspirado os seus primeiros versos, escritos na adolescência».

A inauguração do mural e a visita à casa foi acompanhada por muitos amigos dos tempos de infância e dos tempos atuais, como o também poeta (e ex ministro da Cultura) Luís Filipe Castro Mendes. Os amigos que com Júdice andaram na escola primária da então aldeia e correram pelos campos, recordaram mesmo algumas histórias de uma infância marcante.

«Espero que este seja o primeiro de outros momentos evocativos da vida e da obra» de Nuno Júdice, disse o presidente da Junta de Freguesia da Mexilhoeira Grande.

Os admiradores da obra do escritor e poeta e mesmo quem ainda não o conhece também esperam.

 

Fotos: Elisabete Rodrigues | Sul Informação

 

 

 

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