Menopausa: vamos voltar a pôr play!

A menopausa não é o fim – é uma fase natural, uma fase de transição

Durante muito tempo, a saúde da mulher era focada essencialmente em duas fases: a menarca, período em que surge a primeira menstruação e que marca o início da fase reprodutora, e a gravidez.

O tema da menopausa manteve-se durante séculos omisso, tanto culturalmente, como a nível científico. No entanto, hoje a realidade é muito diferente. A esperança média de vida das mulheres supera a dos homens.

E como tal, há naturalmente cada vez maior procura de viver com qualidade aquela que é a segunda metade da vida de uma mulher.

O que pretendo hoje é desmistificar a menopausa, torná-la num tema corrente e fluído entre todos nós, dando a oportunidade de, em conjunto, reconhecermos os seus desafios e possíveis soluções.

A menopausa, termo com origem no grego (meno-mês, pause-pausa), caracteriza-se pela diminuição da atividade dos ovários que deixam de libertar mensalmente os óvulos, levando assim ao final do período reprodutivo da mulher.

Na prática, o diagnóstico é clínico e define-se por 12 meses em amenorreia, isto é, sem menstruação. Habitualmente, decorre entre os 45 e 55 anos. Caso seja antes dos 45 anos, dizemos tratar-se de uma menopausa precoce; já se for depois dos 55 anos, é uma menopausa tardia.

Embora se trate de um processo fisiológico, as alterações a ela associadas apresentam um impacto que deve ser reconhecido em diferentes aspetos da vida mulher (e também do casal).

As manifestações relacionadas com esta fase podem, no entanto, começar antes (período da perimenopausa), devido a uma diminuição progressiva da produção de estrogénio. Esta pode ser efetivamente a fase mais desafiante, em que, dia após dia, é invadida pelas irregularidades menstruais, afrontamentos, alterações de humor, entre outras.

A alteração do padrão menstrual é usualmente o primeiro sinal e pode iniciar-se anos antes do diagnóstico de menopausa; tanto o fluxo, como a periodicidade do ciclo menstrual começa a variar e o que reina é a imprevisibilidade. Pode passar meses sem menstruação, e de repente num mês, pode ter uma, duas vezes.

Quanto aos sintomas vasomotores, os famosos afrontamentos de calor – aqueles que se apoderam do próprio controlo e sem aviso prévio – devem-se a uma dilatação dos vasos cutâneos, principalmente da face e tronco. Caracterizam-se pela súbita sensação de calor, seguida por ansiedade, calafrios ou mesmo tremores; podem surgir até mais de 10 vezes por dia, e se durante a noite, interferir também com o sono.

As alterações de humor e função cognitiva são também elas fenómenos bem definidos pela ciência, em que nesta fase se descreve uma maior dificuldade de concentração, diminuição da memória, assim como um maior risco de depressão.

Para além das manifestações agora descritas, e que são eventualmente a curto prazo, existem aquelas com impacto crónico. Algo que ainda não é uma queixa frequente por iniciativa da própria mulher (mas não por isso desvalorizável) é o que denominamos de síndrome genitourinária da menopausa, e que pode afetar mais de 80% das mulheres.

Os tecidos dos órgãos genitais e urinários femininos tendem a ficar menos elásticos e hidratados – o que leva a uma sensação de secura e irritação vaginal, ardor ao urinar, infeções urinárias frequentes ou mesmo dor com a relação sexual.

A perda do desejo sexual também pode ser sentida nesta fase. Os efeitos mais tardios da menopausa podem afetar inclusivamente os sistemas cardiovascular, neurológico, articular, ósseo e cutâneo. O peso tende a aumentar, as rugas ficam mais marcadas e tem maior risco de desenvolver osteoporose. Mas minhas senhoras e meus senhores, não vos quero desmorecer. Pelo contrário!

A verdade é que a maior parte das mulheres consegue tolerar os vários sintomas e estes acabam por desaparecer, no entanto há alternativas e conselhos para quem não consiga. A medicina tem dado largos passos neste campo, procurando responder às diferentes necessidades sentidas. Hoje existem múltiplas opções, com eficácia variável, que devem ser tomadas após cuidada decisão médica, e personalizada à mulher com que nos deparamos.

Mas não esquecer, a base da abordagem a qualquer condição médica é um estilo de vida saudável.

Particularmente na menopausa: a ingestão de água é fundamental para manter a hidratação da pele e tecidos; recomenda-se uma alimentação diversificada, com alimentos ricos em cálcio, evitando aqueles que sempre foram desaconselhados (ricos em sal, açúcar e gordura).

 

 

E não posso deixar de falar na importância da cessação tabágica, uma vez que as mulheres que fumam tendem a ter a menopausa mais cedo e também risco aumentado a nível cardiovascular e de osteoporose.

Como tratamento não-hormonal, existem várias alternativas. Desde a prática de exercício físico e yoga, à terapêutica cognitiva-comportamental ou a alguns antidepressivos, que podem ser úteis no alívio dos sintomas vasomotores.

Quanto aos suplementos alimentares os estudos ainda são incertos, no entanto, alguns demonstram uma ligeira melhoria dos sintomas vasomotores com compostos fitoestrogénicos (derivados de plantas, com ação semelhante ao estrogénio e presentes na soja e linhaça) e dos sintomas noturnos com a melatonina.

Por sua vez, para as mulheres que apresentem manifestações clínicas, como anteriormente descritas, e já com alguma gravidade associada, a terapêutica hormonal nas suas mais variadas apresentações (creme, spray, comprimidos), pode ser uma opção.

Para esta escolha é fundamental conhecer os antecedentes médicos da mulher e respetiva medicação, devido às possíveis contraindicações associadas a este tipo de terapêutica, como o tabagismo, diabetes, hipertensão arterial ou cancro da mama.

É também necessário conhecer a idade de início e tempo na menopausa, uma vez que este só é aconselhado a mulheres com menos de 60 anos e que estejam na menopausa há menos de 10 anos.

Contudo, e como todo o tipo de tratamento implementado, é importante balançar os devidos riscos e benefícios, e a decisão deverá ser partilhada com a própria mulher.

Terminada esta descrição científica paro para pensar, juntamente convosco, o que ainda podemos fazer em conjunto para facilitar e melhorar a abordagem a esta senhora dona, que tanto marca a vida das mulheres. Se calhar o primeiro passo, passa por isto mesmo. Por estes minutos que aqui passámos, parágrafo a parágrafo.

Talvez agora, caros leitores e leitoras, se sintam mais confortáveis para abordar o tema com o seu marido, mulher, mãe, amiga e médico(a).

Às mulheres na menopausa, digo que a vulnerabilidade não é uma fraqueza. Estar na menopausa não vos torna menos mulher – em todos os sentidos da palavra. Aos companheiros de vida, procurem explorar as várias dimensões da vossa relação: apoiem, elogiem, acariciem.

Cada mulher vive este período de forma diferente e naturalmente encara-o à sua própria maneira.

É inevitável haver comparações. Mas é louvável a partilha de experiências.

A menopausa não é o fim – é uma fase natural, uma fase de transição. A menopausa não é o fim. Aliás, quem sabe, pode até ser mesmo um início. Por isso, não se ponha em pausa, mas antes em modo play.

 

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