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A escola está totalmente renovada e com todas as condições para que as crianças possam brincar e aprender sem terem, todos os dias, de percorrer dezenas de quilómetros. Dezassete anos depois, Cachopo volta a ter uma sala de Jardim de Infância.

A turma foi formada em Setembro, no início do ano letivo, mas só agora as crianças, professora e auxiliares se mudaram para as novas instalações, inauguradas oficialmente na passada terça-feira, 19 de Março.

«São nove crianças hoje, mas, quando se começou este pedido, eram só seis e isso quer dizer que o simples facto de se anunciar uma coisa destas já permitiu a alguns pais pensarem na educação dos seus filhos de uma maneira diferente», frisou Rafael Dias.

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Emocionado por estar a inaugurar a requalificação da escola onde também ele cresceu, o atual presidente da Junta de Freguesia de Cachopo não nega que esta ideia de abrir uma turma na aldeia, «há um ano e nove meses, era muito fora da caixa».

«Era uma ideia de um executivo maluco que olhava para as suas crianças e via-as deslocarem-se, no mínimo, 20 quilómetros, todos os dias, para irem para o centro infantil mais próximo e depois, ao fim do dia, fazerem o mesmo para voltarem às suas casas», confessou.

Com esta ideia «fora da caixa», o primeiro passo a dar foi falar com o executivo municipal de Tavira e depois com o diretor do agrupamento de escolas, «que sempre disseram que sim e nos deram abertura para discriminar positivamente a nossa serra».

Na opinião de Rafael Dias, «a serra tem de ser discriminada positivamente, porque, ao longo do tempo, foi discriminada negativamente», com o desaparecimento de serviços e o abandono de casas.

 

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Descerrar da placa. Foto: Mariana Carriço | Sul Informação

 

Para o presidente da Junta, este é um «sinal de vitalidade que o executivo está a dar à população de Cachopo».

Numa sala cheia, com as crianças e as suas famílias, antigos alunos e funcionários da escola, restante população de Cachopo e representantes de outras entidades, a presidente da Câmara Ana Paula Martins frisou que chegar até aqui «não foi fácil» e que apenas foi possível porque «houve muita vontade e trabalho conjunto».

«O primeiro passo foi ir à DGEST e perceber quantas crianças era o mínimo para reativar a escola. Depois falámos com o professor Duarte [diretor do Agrupamento] para formalizar. Depois era preciso arranjar a educadora, o que podia ser um problema, e auxiliares. Trazer trabalhadores de Tavira para aqui era díficil, as pessoas não queriam, e precisávamos de refeições para as crianças e de um espaço, que a Câmara também não tinha, sendo que a solução estava no Centro Paroquial de Cachopo. Foi por todas estas pessoas dizerem que sim que podemos estar aqui a semear o futuro», afirmou Ana Paula Martins.

Nas palavras da autarca de Tavira, este é «um momento que vai em contraciclo com o que se faz».

«Estamos a trazer para o interior a possibilidade de fixar jovens aqui, mostrando que este sítio está vivo e combatendo a desertificação», rematou.

Para que a turma pudesse funcionar, foi então necessário que uma educadora de infância se disponibilizasse para deixar o litoral e subir a serra.

Aos 52 anos, a educadora Paula Madama, que faz parte do quadro do Agrupamento D. Manuel I de Tavira, abraçou essa proposta e mudou-se para a aldeia.

 

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Educadora, auxiliar e alunos inauguram a escola de Cachopo. Foto: Mariana Carriço | Sul Informação

 

«Essa viagem, que são 40 quilómetros (e que só faço ao fim de semana), ao início parecia muito difícil, mas para mim é um encanto, acho muito mais saudável esse tempo que perco entre a terra e o mar, do que se tivesse de apanhar o metro ou uma fila de carros», confessou ao Sul Informação. 

A educadora, natural de Tavira, recorda os seus tempos de escola, quando estudou com «malta de Cachopo», que tinha de fazer longas viagens para chegar até à escola na sede de concelho.

«Senti esse apelo e decidi vir, porque também me tem custado muito assistir à retirada das crianças dos seus meios e das suas famílias, das suas raízes e culturas, para irem para blocos, que são escolas na mesma, mas que não lhes dão estas condições».

«De momento, temos aqui poucas crianças, mas, segundo o que me parece, está já uma rede montada para que as pessoas comecem a olhar para as aldeias, e para Cachopo, neste caso, com um grande potencial para se enraizarem, fazerem vida e desfrutarem desta riqueza que temos aqui à volta», afirmou.

Nesta turma de nove crianças, a multiculturalidade também não falta, já que, além de portugueses, há alunos do Brasil e dos Estados Unidos, cujas famílias residem agora na área circundante.

Segundo a educadora, «todos estão perfeitamente integrados e adaptados a esta realidade que para eles é escola, casa e família».

«Tem sido muito bom trabalhar com estas crianças. São uns doces e para elas qualquer coisa é uma alegria. Além disso, temos sempre a disponibilidade da Junta de Freguesia para nos deslocarmos seja para onde for e o meu projeto para esta escola vai andar muito dentro do que se assemelha à cultura da aldeia», explicou ao nosso jornal Paula Madama, que até já dinamizou um “intercâmbio” com outro Jardim de Infância do agrupamento.

Quem também assistiu a esta reabertura com grande emoção, foram as antigas funcionárias da escola.

 

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Maria José e Margarida com o diácono Albino Martins, presidente do Centro Paroquial, e Ana Paula Martins, autarca de Tavira. Foto: Mariana Carriço | Sul Informação

 

Maria José, de 69 anos, e Margarida, de 61, trabalharam na Escola de Cachopo durante 20 anos, até ao dia do fecho.

Na altura, foram inseridas num projeto de formação e exercício financiado pelo Fundo Social Europeu, a Escola Superior de Educação e a Associação In Loco, que comtemplou formação no âmbito da educação social e educação de infância.

«Ver a escola reabrir é uma grande alegria e sabermos que o nosso esforço durante os anos em que trabalhámos cá contribuiu um bocadinho para isso é muito gratificante», revela Margarida ao Sul Informação, recordando que a escola chegou a ter 80 alunos.

Margarida trabalha atualmente com os idosos do Lar de Cachopo, mas, desde que a escola reabriu, às terças e quintas-feiras vai ter com as crianças na parte da tarde.

«Gosto muito e, no que puder, vou ajudar», disse ao nosso jornal.

Maria José já está reformada e assume que trabalhar na escola de Cachopo foi «o melhor projeto da sua vida».

Quase com 70 anos, a antiga cuidadora tem a esperança de que a escola não volte a fechar.

«É importante reativar estas valências nas povoações do interior, porque sabemos que esta é uma viagem que vai levar muitos mais passageiros», realçou Duarte Custódio, diretor do Agrupamento de Escolas D. Manuel I de Tavira, do qual o Jardim de Infância de Cachopo faz parte.

O professor frisou ainda que, ao contrário de outras escolas do concelho, aqui há muitas vagas que ainda podem ser preenchidas.

«O pré-escolar é uma casa aberta, que permite que qualquer cidadão que venha para aqui residir possa usufruir desta escola».

 

Fotos: Mariana Carriço | Sul Informação

 

 

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