O projeto de promoção da Literacia em Saúde em idosos vulneráveis com avaliação da Qualidade de Vida chegou a 780 pessoas na região algarvia, entre Setembro de 2020 e Junho de 2023, e teve um «feedback muito positivo», havendo agora vontade de continuar a promovê-lo no Algarve e alargá-lo a todo o país.
O balanço é feito por Helder Mota Filipe, Bastonário da Ordem dos Farmacêuticos, que, nos dias 28 e 29 de Novembro, esteve na região para ouvir os profissionais desta área.
Em relação a este projeto que terminou em Junho, Helder Mota Filipe disse que, «do ponto de vista dos profissionais, estes estão envolvidos e consideram que é um aspeto importante».
«Isto foi mais do que literacia, foi intervenção. Os profissionais criaram competências para que os utentes fizessem uma melhor gestão da medicação, eles próprios fizeram alterações e mostraram problemas de adesão à terapêutica e duplicações terapêuticas, e, portanto, foi um dois em um – foi uma intervenção farmacêutica e, ao mesmo tempo, foi garantir mais literacia para que estas situações não se repitam, porque os utentes estão agora mais informados e mais preparados», apontou, em declarações ao Sul Informação, no âmbito da visita ao Espaço Saúde em Diálogo, em Faro.
O projeto, inserido no Espaço Saúde 360º Algarve, envolveu 780 idosos de sete concelhos algarvios (Faro, Loulé, São Brás de Alportel, Tavira, Silves, Albufeira e Castro Marim), contou com 51 parcerias, oito prestadores de serviços e realizou 1800 atividades.
Das atividades, fizeram parte sessões informativas sobre promoção da saúde e prevenção da doença, workshops de nutrição, sessões de atividade física adaptada e yoga, sessões de navegação no sistema de saúde, de estimulação cognitiva, encontros com associações de doentes, atendimentos psicossociais coma equipa de psicólogos e revisão da medicação em parceria com as farmácias locais.
Dado o caráter positivo do trabalho desenvolvido, Helder Mota Filipe defende que «era bom que estes projetos deixassem de ser projetos e se transformassem em práticas sustentadas».

«O projeto é importante para gerar evidência, para demonstrar que as coisas funcionam, que há ganhos em saúde dessa intervenção. Uma vez isto demonstrado, acho que tem que ser transformado numa alteração da prática de forma sustentada e é preciso que haja financiamento para continuar», disse ao nosso jornal.
Jaime Melancia, presidente da direção da Plataforma Saúde em Diálogo, destacou também o «potencial» deste projeto, desenvolvido em parceria com as autarquias, «para chegar a uma população que muitas vezes nem tem conhecimentos de como pode melhorar a sua saúde».
Além disso, o projeto de promoção da Literacia em Saúde e o Espaço Saúde em Diálogo veio permitir que os idosos, quando têm alguma dúvida em relação à sua saúde, não precisem de procurar uma Urgência.
«Às vezes, as pessoas sentem falta de empatia, acompanhamento e esclarecimento e essas características acabam por se tornar até um ajudante da eficácia das terapêuticas. Aqui, no Algarve, temos este tipo de apoio, mas isso também é algo que muitas associações de doentes fazem nas suas patologias. O médico, uma vez que não tem tempo para estar com o doente, pode assim dar indicações para que as pessoas se dirijam a estes espaços. É importante as pessoas saberem o que é a sua doença, como é que a podem controlar e quais são os serviços que têm disponíveis que muitas vezes desconhecem», frisou ao Sul Informação este responsável.

Terminado o projeto de promoção da Literacia em Saúde, o Espaço Saúde 360º Algarve já está a desenvolver outra iniciativa, mais direcionada para a Saúde Mental dos idosos, que também está a ser um sucesso e para a qual tanto Jaime Melancia, como Helder Mota Filipe, pedem apoios, por parte do governo e autarquias.
Desta visita de dois dias ao Algarve, na qual teve a oportunidade de ouvir os profissionais da área na região, o Bastonário da Ordem dos Farmacêuticos leva «mais do que as preocupações», «os aspetos positivos» debatidos sobre a intervenção deste setor na sociedade.
«Apesar de todas as dificuldades que estamos a viver no sistema de saúde, aquilo que foi mais discutido foram os aspetos positivos: a possibilidade de intervenção dos farmacêuticos, a alteração que está a haver relativamente aos serviços farmacêuticos – com os medicamentos hospitalares em proximidade, com a renovação da terapêutica crónica, com as vacinas, quer contra a Covid, quer contra a gripe, e que foi um sucesso», frisou, acrescentando que foram administradas mais de 3 milhões de doses, cerca de dois terços nas farmácias.
«Isso mostra que as pessoas tinham a liberdade de escolher o Centro de Saúde ou as farmácias e escolheram as farmácias», disse.
De acordo com Helder Mota Filipe, os políticos «estão a perceber o potencial das farmácias e dos farmacêuticos comunitários, relativamente a serviços que retiram pressão ao Serviço Nacional de Saúde».
«Isso faz com que as pessoas recorram, desde que os serviços estejam disponíveis, às farmácias de proximidade, pela confiança que têm nos farmacêuticos, que os conhecem, pela facilidade de acesso, visto que não precisa de marcações, e pelos resultados que as pessoas sentem. Por tudo isto, acho que estamos no bom caminho, que a população ganha com isto. O Algarve é um bom exemplo de como a intervenção na comunidade das farmácias gera mais valor em saúde», rematou o responsável.
De saída da região, o Bastonário da Ordem dos Farmacêuticos deixou ainda o desejo de que este «bom exemplo» possa ser replicado por todo o país.
Fotos: Cátia Rodrigues | Sul Informação