Na banca de Lisdália Esperança, há um pouco de tudo o que a terra dá: legumes, fruta, pão, frutos secos, compotas e até bolos. É a vendedora mais recente do Mercado de Moncarapacho, mas também a que tem o maior número de bancas (três), que divide com a filha.
«Eu já fazia parte dos Mercados de Olhão, mas depois alguém saiu e eles convidaram-me para vir para aqui com os meus produtos. Trato mais da parte dos legumes e frutas, os doces e frutos secos é a minha filha que faz, mas hoje não pôde vir», diz ao Sul Informação, à medida que vai atendendo quem por ali passa.
Lisdália tem 50 anos e, por isso, depois da filha, é, além da vendedora mais recente, a mais jovem. Estando no mercado de Moncarapacho apenas há dois anos, começou a trabalhar «nos contentores», onde o Mercado funcionou durante as obras de requalificação que terminaram no Verão.
O Mercado de Moncarapacho, agora renovado, é um dos 18 que fazem parte da Rede Regional de Marcados Locais e que, por isso, também recebeu a iniciativa “Há Petisco no Mercado”, coordenada pela associação de desenvolvimento Vicentina, que estabeleceu inúmeras parcerias para levar àvante este projeto, financiado pelo PADRE – Plano de Ação para o Desenvolvimento dos Recursos Endógenos, integrado no CRESC Algarve 2020.
Quando por lá passámos, o movimento não era pouco.
Foram muitos – e até de várias faixas etárias – os que quiseram perceber o que por aqui se passava e provar o petisco do dia: uns folhadinhos de queijo de cabra com azeitona britada e pistácios.

À medida que os iam levando à boca, as reações eram de satisfação e, com o petisco na mão, lá iam os fregueses passeando pelo mercado e apreciando o que as bancas tinham para vender.
Neste local, recentemente renovado, ainda há bancas por ocupar e as lojas estão todas vazias.
Além de Lisdália, são mais meia dúzia os vendedores que dão vida ao Mercado de Moncarapacho, que conta com mais uma banca de fruta e legumes e três de peixe.
Também com produtos da terra, encontramos Aldina Santos, que abriu a sua banca há pouco tempo.
«Já cá estava antes, como funcionária, mas depois a pessoa para quem eu trabalhava fechou a sua banca e eu fui para o fundo de desemprego. Quando a praça reabriu, pensei que podia experimentar vender. Abri atividade e vim ver como corria», conta, ao nosso jornal.

O dia da iniciativa “Há Petisco no Mercado” foi diferente do habitual, porque, na maior parte do tempo, o movimento é pouco.
«São precisos mais negociantes aqui. Como somos poucos, as pessoas não vêm muito e preferem comprar nos supermercados. Antes funcionava bem, mas agora fechou muita coisa e sem o talho…»
Higina Carlos, da banca do peixe, queixa-se do mesmo.
«A população aqui é mais idosa e notámos um grande decréscimo com a abertura do Intermarché mesmo aqui ao lado. Isto é uma terra pequena. Quando não havia grandes superfícies, havia mais pessoas no mercado, agora, como há, chegam ali e levam tudo: carne, peixe, legumes… O talho aqui faz muita falta», desabafa, enquanto vai amanhando o peixe.
Trabalhadora neste mercado há mais de 10 anos, considera que as mudanças após as obras de requalificação podiam ter sido mais benéficas.

«O melhor foi terem posto água, porque as bancas ficaram muito altas, o peixe, quando o pomos aqui em cima na banca cai lá para baixo, estão muito inclinadas, não consigo chegar ao peixe. Foi também muito tempo nos contentores e as pessoas deixaram de vir», desabafa, reforçando que o maior problema é a quantidade de lojas vazias.
«Há pessoas a querer ocupar os espaços, e isso é bom sinal, mas desde Setembro que querem e era bom que os concursos já tivessem sido abertos», continua.
Armando Graça, vendedor de peixe neste mercado há 35 anos, considera que as obras foram benéficas, mas também salienta a falta que um talho faz.
«Não nos podemos queixar muito. Isto estava muito frágil, chovia cá dentro e agora tem melhores condições, podemos trabalhar mais à vontade e é o que vejo disto. Quanto ao talho, o senhor que cá estava tinha tantos anos de trabalhar aqui como eu, mas, pronto, as condições também não eram as que ele desejava e foi-se embora».
Ana Paula tem também uma banca de peixe composta, porque, como diz, «é preciso ter de tudo um pouco», ainda que «o poder de compra seja pequeno e muitos optem pelos carapaus, cavalas e peixe mais em conta».
Nesta manhã de quarta-feira, cruzámo-nos com vários compradores, mas Ana Paula também se queixa da falta de movimento.

«O sábado é sempre o melhor dia, mas são precisos mais negócios aqui e iniciativas como esta que chamem as pessoas, mais velhas e mais novas», diz a comerciante também com 10 anos de casa.
Eduardo Cruz, presidente do conselho de administração dos Mercados de Olhão, que gere os espaços de Olhão, Moncarapacho e Fuzeta, garantiu estar prevista para breve a abertura de concursos para as vagas disponíveis nos três mercados e reforçou a importância de não os deixar morrer.
«O que vemos aqui é produto fresco e isto é que faz a diferença dos outros formatos comerciais. Não é produto com outro ciclo de vida. Além disso, tudo o que possamos fazer aqui para atrair outros públicos diferenciados é positivo», diz.

Quem também o defende é Francisco Justino, encarregado coordenador dos Mercados de Olhão, que, com estes eventos, espera «reavivar mais o hábito das pessoas de virem ao mercado».
Já Márcio Viegas, presidente da associação Vicentina, salienta como o Mercado de Moncarapacho é um bom exemplo.
«É um mercado pequenino, assim como a maioria dos mercados desta rede regional. O que pretendemos é dinamizar a rede nestes territórios mais periféricos relativamente aos principais mercados do litoral. Este é um bom exemplo, de uma obra recente, mas que precisa também das novas gerações para sobreviver. É preciso mostrar que é bom consumir local, também porque é preciso ter atenção aos circuitos curtos e à nossa pegada ecológica, além da questões da saúde».
Prestes a terminar, Márcio faz um balanço muito positivo da iniciativa “Há petisco no Mercado”, reforçando que, em Moncarapacho, a adesão foi muito boa.
Agora, como defendem os vendedores, é continuar a trazer mais iniciativas destas, para que a alegria se mantenha ao longo da semana.
Fotos: Mariana Carriço | Sul Informação