Terras sem Sombra voa para Odemira nas asas de um violoncelo

O próximo fim de semana será de boa música, muito património e reflexão sobre o nosso papel no mundo

O «mais importante violoncelista da atualidade», os 100 anos de uma viagem épica de avião, e ainda a condição humana e o seu impacto na natureza. São estes os ingredientes para mais um fim de semana do Festival Terras sem Sombra, desta vez no concelho de Odemira, nos dias 14 e 15 de Outubro.

Em entrevista ao Sul Informação em Viena, na Áustria, que é, este ano, o país convidado do Festival e onde a iniciativa alentejana foi apresentada com sucesso na semana passada, José António Falcão explicou que, «do ponto de vista musical, a programação será muito interessante», nestes dois dias em Odemira.

«Estaremos na Igreja da Misericórdia de Odemira, num edifício que tem sido alvo de importantes trabalhos de recuperação e que é realmente notável, uma das grandes peças do Maneirismo alentejano. Vamos ter connosco aquele que é, provavelmente, o mais importante violoncelista da atualidade, Jan Pech, que chega de Praga e que é realmente um grande intérprete, sobretudo nos repertórios Romântico e Contemporâneo», explicou o diretor geral do festival, sobre o concerto de sábado à noite (21h30), com entrada livre.

Na igreja da Misericórdia de Odemira, Jan Pech apresenta-se com o concerto intitulado “Energias Contrastantes: Obras-Chave Para Violoncelo Solo”. Momento para o músico desenvolver a sua extraordinária maestria em peças de compositores da envergadura de Viktor Kalabis, Johann Sebastian Bach e Ondřej Kukal, num périplo musical que abarca os séculos XVII a XXI.

 

 

Mas, como sempre, as atividades do fim de semana de Terras sem Sombra começam, no sábado (15h00), dia 14, com uma atividade ligada ao património. Neste caso, os participantes rumam a Vila Nova de Milfontes, já que o festival começa a comemorar «o centenário da viagem do avião “Pátria”, conduzido por Brito Paes e Sarmento de Beires, e que faz uma ligação inédita, pioneira e muito importante na época, entre Portugal e Macau», partindo precisamente de Vila Nova de Milfontes.

José António Falcão salienta que foi «uma aventura, mas que teve resultado muito positivo».

Na vila litoral do concelho de Odemira, estarão «os descendentes dos aviadores», bem como «peritos que conhecem muito bem a história da aviação portuguesa e internacional».

Já no ano passado, também em Milfontes, esta aventura dos primórdios da aviação tinha sido recordada, mas, agora que se aproxima a data redonda do centenário (7 de Abril de 1924), a visita contará com guias ilustres: o historiador António Martins Quaresma, Leonor Brito Paes (neta de António Brito Paes), o Coronel Carlos António Mouta Raposo, diretor do Museu do Ar, e o engenheiro Jorge Lima Basto, perito em História Aeronáutica.

«Sobretudo, vamos ao local de onde saiu o “Pátria” e vamos ter a possibilidade de ver objetos que fizeram parte do quotidiano destes dois aviadores, antes, durante e depois da viagem. É algo muito interessante», acrescenta o responsável pelo festival.

 

A cientista Simone Lackner

 

No domingo de manhã (9h30), dia 15, depois das emoções do concerto de sábado à noite, terá lugar a atividade de biodiversidade. É novamente José António Falcão que explica o que vai acontecer: «iremos a uma outra localidade do concelho de Odemira, que é a Boavista dos Pinheiros, mais concretamente ao Parque das Águas e aí vamos estudar a biodiversidade, focando-a, digamos assim, no género humano». O tema desta atividade, aliás, é condição humana e o seu impacto na natureza.

Com os participantes, estará «uma grande cientista austríaca, que é uma grande conhecedora, Simone Lackner, formada em Harvard, que trabalhou também no Centro de Investigação para o Desconhecido da Fundação Champalimaud, e que hoje, a partir da Universidade Nova, está a investigar o comportamento humano nas circunstâncias atuais. Ela vai explicar-nos uma coisa muito importante que é: sem natureza, nós não conseguimos sobreviver. A natureza é essencial não só para o nosso dia a dia, mas também para sermos felizes».

«Os participantes nesta atividade têm a oportunidade de refletir sobre os seus valores e explorar como os seus próprios padrões de comportamento e compreensão do bem-estar podem contribuir para o problema ou ser uma solução para combater as mudanças climáticas. Uma acão que convida públicos de todas as idades a refletirem sobre a alienação social e como a superar, num momento que combina arte, corpo, natureza, ciência e tecnologia», explica a organização.

 

Igreja Paroquial de Selmes, no concelho da Vidigueira

 

Mas a programação da 19.ª temporada do Festival Terras sem Sombra continua até Dezembro. Conta com um novo fim-de-semana de atividades em Vidigueira (28 e 29 de Outubro), a que se segue Arraiolos (11 e 12 de Novembro), Montemor-o-Novo (2 e 3 de Dezembro), Sines (16 de Dezembro) e Évora (data a confirmar).

O diretor geral do festival já adiantou alguns pormenores sobre cada um destes fins-de-semana especiais: «vamos ter ainda alguns momentos muito significativos, particularmente na Vidigueira, onde, na Igreja Paroquial de Selmes, vamos ter connosco o Trio Amatis, que parte de Viena e que tem feito um percurso internacional muito interessante».

O Trio Amatis apresenta «um novo critério de interpretação de autores clássicos, mas, sobretudo, uma nova energia, que vem, por um lado, da interpretação historicamente fundamentada, por outro, da perspetiva de que a música está em diálogo permanente com as outras ciências sociais e humanas e beneficia desse diálogo. É, se quisermos, uma resposta aos grandes desafios que a humanidade enfrenta, também do ponto de vista da música», explicou José António Falcão.

Depois, o festival segue para Arraiolos, «onde vamos ter uma outra visão, bastante interessante, a partir da Áustria, não necessariamente de Viena, porque a realidade cultural austríaca é um mosaico muito mais variado. , e teremos connosco o Duo Violarra, que recupera, de uma maneira muito interessante, as ligações entre a Europa e a América Latina. Há aqui uma ponte que atravessa o Atlântico e que une, no fundo, estes dois continentes».

 

Ensemble Micrologus

 

Segue-se então Montemor-o-Novo, a 2 e 3 de Dezembro, que se tornou «uma grande referência deste festival».

«Aqui já estamos em Dezembro, a nossa temporada artística avança um pouco mais e queremos finalizar com um concerto de Natal. Em Montemor-o-Novo, vamos ter connosco algo que foi longamente preparado, é o Ensemble Micrologus, especializado em interpretação da música medieval e renascentista, e que, no extraordinário ambiente da Igreja de São Domingos, que é uma das grandes referências da arquitetura alentejana, nos vai apresentar, um repertório italiano focado nos grandes mestres do Renascimento», acrescentou o historiador de arte.

Finalmente, «iremos terminar em Sines, com chave de ouro, com um ensemble que o festival ajudou a formar e que nos traz quatro grandes artistas da Polónia».

Este país é atualmente «uma das maiores potências do ponto de vista musical. Conhecemos ainda mal a música polaca entre nós, mas queremos divulgá-la. Vamos ter aqui quatro dos seus jovens intérpretes com carreiras já consolidadas, mas que que estão a remodelar a música polaca da atualidade e a conseguir triunfar em Chicago e em muitos outros palcos do mundo, que são muito exigentes».

 

 

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