São “apenas” dois investimentos, noutras tantas Estações de Tratamento de Águas Residuais (ETAR) situadas no concelho de Loulé, mas vão permitir, só por si, cumprir metade do objetivo previsto no Plano de Recuperação e Resiliência, no que toca à reutilização de águas tratadas para rega de campos de golfe e espaços verdes, no Algarve.
As obras de Elevação e Adução de Água para Reutilização (ApR) das ETAR de Vilamoura e Quinta do Lago, que vão permitir “entregar” às empresas municipais Infraquinta e Inframoura, a nove campos de golfe e a outras entidades, mais de três hectómetros cúbicos (hm3) [três milhões de metros cúbicos] de águas residuais tratadas por ano, foram ontem à tarde apresentadas, numa cerimónia que contou com a presença de Duarte Cordeiro, ministro do Ambiente.
A importância desta sessão está ligada à pertinência das obras previstas, que, no seu conjunto, custarão cerca de 15 milhões de euros, com financiamento integral da “bazuca europeia”, e estarão prontas em 2025.
«No PRR, nós temos vários objetivos e um deles é encontrar fontes alternativas de água. E o mais importante é aproveitar a água que tratamos e já temos nas nossas ETAR», resumiu o ministro do Ambiente e Ação Climática aos jornalistas, à margem da sessão.
«Neste momento, nós reutilizamos dois hm3 de águas tratadas no Algarve e o objetivo é multiplicar por quatro, para atingir os oito. Com estes investimentos que vimos aqui hoje, conseguimos chegar aos 5 hm3», resumiu o membro do Governo.
«Outra forma de olhar para este objetivo dos 8 hm3 é dizer que, com este volume de água, conseguimos regar metade dos campos de golfe da região algarvia», reforça Duarte Cordeiro.

As obras na ETAR de Vilamoura, que custarão 12 milhões de euros, vão permitir a reutilização de 2,24 hm3 de águas tratadas por ano.
Na prática, será implementado um tratamento adicional ao já existente, «que envolve a regularização de caudal, clarificação e desinfeção química, através de hipoclorito de sódio», bem como a construção «de uma estação elevatória, do sistema de adução e dos respetivos pontos de entrega», que serão, no total, nove.
Esta água será entregue, no futuro, «à Inframoura, à Vilamoura World e à Associação de Ténis de Vilamoura. Há mais dois pontos de entrega, para a cidade lacustre e para o parque desportivo. Depois, temos cinco campos de golfe, nomeadamente o Old Course, o Pinhal, o Laguna, o Millenium e o Victória», explicou António Eusébio, presidente da Águas do Algarve, empresa multimunicipal que irá levar a cabo as obras.
Na Quinta do Lago, a intervenção necessária não é tão profunda, uma vez que a ETAR ali existente «já fornece ApR à Infraquinta e ao campo de golfe de S. Lourenço».
Com as novas regras que foram impostas recentemente e devido à oportunidade de financiamento existente, a Águas do Algarve vai apostar na «melhoria da água que é entregue e no alargamento dos pontos de entrega, para chegar a mais utilizadores», neste caso, os campos de golfe Quinta do Lago Norte, Quinta do Lago Sul e Pinheiros Altos.
Esta intervenção, orçada em 2,7 milhões de euros, vai permitir a produção de 1,17 hm3 por ano e consiste na «ampliação e melhoria do subsistema existente, designadamente ao nível da lagoa de armazenamento, implementação de sistema de desinfeção por cloragem, estação elevatória e ampliação do sistema de adução».
Ou seja, contas feitas, as duas obras permitirão que se passe a reutilizar um total de 3,41 hm3 de águas tratadas nestas ETAR, o que é um forte contributo para a meta traçada.

Não admira, à luz desta informação, que a importância destas obras seja sublinhada tanto pelos promotores, como pelos beneficiários.
«Este é o maior investimento que se está a fazer na reutilização de águas tratadas não só no Algarve, mas em todo o país. Vamos ser uma referência a nível nacional», salienta António Eusébio.
Também Soraia de Almeida, diretora do Departamento de Água e Saneamento da Inframoura, realça a importância desta intervenção para os objetivos da empresa de redução de consumo de água de rede para rega de espaços verde, que tem, atualmente «um peso de 9%» nos consumos totais.
«Queremos que, no futuro, 37% da água que utilizamos para rega de espaços verdes seja ApR», revelou.
Vítor Aleixo, presidente da Câmara de Loulé, falou num dia «muito importante» e prometeu apostar mais nesta área – «este investimento para reutilização de águas tratadas é o primeiro de muitos», nomeadamente na construção de uma rede separativa para ApR, um investimento a realizar pela empresa municipal Inframoura.
O autarca lembrou ainda que Loulé tem «uma enorme preocupação com a política da água e seu uso», que se materializou em «fortes investimentos para redução de perdas», medida que considera fundamental.
Vítor Aleixo garante mesmo que «os municípios do Algarve têm-se empenhado muito neste objetivo» de reduzir perdas e poupar água, até porque há dinheiro do PRR para esse fim.
«Temos uma linha de financiamento no PRR de cerca de 23 milhões de euros destinada a estes investimentos na reutilização de águas de ETAR, que tem vindo a ser reforçada. (…) Mas esta é uma pequena parte de todo o trabalho que temos para fazer. Está também em estudo o impacte ambiental quer da dessalinizadora, quer da ligação ao Pomarão», lembra o ministro Duarte Cordeiro.
«E vamos realizar os demais investimentos, nomeadamente a interligação Sotavento-Barlavento, os investimentos na área de eficiência hídrica nos municípios e outros», acrescenta o membro do Governo.
Para isso, há que ser rigoroso e célere na execução das obras, avisa José Apolinário, presidente da Comissão de Coordenação e Desenvolvimento do Algarve.
«Estes são investimentos estruturantes para a região. Um objetivo que deve mobilizar todos é o de aproveitar os 200 milhões de euros disponíveis» no PRR, para obras que estavam previstas no Plano Regional de Eficiência Hídrica do Algarve.
A visita à ETAR de Vilamoura, onde as obras de reutilização foram apresentadas, foi um dos pontos de passagem de Duarte Cordeiro, na visita que fez ao Algarve.
De manhã, o ministro esteve em Lagos, onde deixou claro que é necessária uma atitude de fiscalização forte e uma “mão dura”, para se conseguir poupar cada vez mais água na região.
Fotos: Hugo Rodrigues | Sul Informação