Agricultores de Odemira esperam que limitação de água “seja temporária” e acompanhada de investimentos

«Aceleração dos investimentos» é fundamental, defendem os agricultores

A associação de fruticultores de Odemira e Aljezur entende as medidas anunciadas ontem pelo Governo para fazer face à seca, mas espera que a limitação de água “seja temporária” e acompanhada de “uma aceleração dos investimentos”.

“A nossa reação não é de satisfação, mas tem de ser de entendimento atendendo à situação que se vive neste momento de limitação de água”, afirmou à agência Lusa o presidente da Associação dos Horticultores, Fruticultores e Floricultores dos Concelhos de Odemira e Aljezur (AHSA), Luís Mesquita Dias.

Para o responsável, é “importante que essa limitação seja temporária até haver uma recuperação significativa da água da albufeira” e que “não deixem de fazer os investimentos que já há muito deviam estar feitos e que se têm vindo a arrastar e a não executar” no Perímetro de Rega do Mira.

“Provavelmente, se esses investimentos no aumento da eficiência e redução de perdas tivessem sido feitos não teríamos chegado à situação em que estamos hoje”, sustentou.

Na reunião da Comissão Permanente de Prevenção, Monitorização e Acompanhamento dos Efeitos da Seca (CPPMAES), a ministra da Agricultura, Maria do Céu Antunes, anunciou que foram tomadas ou mantidas medidas para a região Sul, Alentejo e Algarve, como a interdição de novas instalações de culturas permanentes e de “estufas e afins” no sudoeste alentejano.

A ministra disse que hoje mesmo fez um despacho e que, para já, vai interditar para as áreas beneficiadas a instalação de novas culturas permanentes, “assim como a instalação de novas estufas e afins”.

“E não vamos permitir regar nomeadamente as áreas que também não tiveram rega em 2022”, acrescentou.

À Lusa, Luís Mesquitas Dias considerou que “é fundamental” avançar com os investimentos no aumento da eficiência, uma vez que vão permitir que “mais rapidamente” se tire “partido da água disponível” na albufeira de Santa Clara, em Odemira, no distrito de Beja.

Além das alterações climáticas, “a ausência de investimentos que há muito são pedidos” é, no seu entender, uma das razões pela qual “a barragem chegou aonde chegou”.

“São investimentos que significativamente evitarão [as perdas de água], pela reparação de condutas antigas, pela construção de reservatórios e de uma Estação Elevatória”, especificou.

Perante o atual cenário de seca extrema, o responsável disse “estar convencido” que o Governo terá “bom senso” na forma como irá gerir esta situação.

“Toda a gente vai sentir que está a ser afetada”, desde os agricultores que “se instalaram num perímetro de rega, contando com água que agora falta”, aos precários “que tinham acesso à água, se eventualmente deixarem de ter” e que, “com certeza, também serão afetados”, frisou.

Questionado sobre a intenção de construir uma dessalinizadora, o presidente da AHSA, disse que a proposta foi feita pela associação e seus associados que “estão a pagar o estudo de pré-viabilização da estação”, que defendeu ser “a única solução de futuro para a região”.

“Da mesma maneira que a central de dessalinização do Algarve foi financiada através do PRR [Programa de Recuperação e Resiliência], agora que sabemos que tem uma dotação superior à que se previa, hoje mesmo propusemos por escrito ao Governo que contemplasse a possibilidade de ser o PRR a financiar essa estação”, concluiu.

 

 



Comentários

pub