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Histórias à dimensão de cada entendimento

Quando comecei a escrever para o Sul Informação fiz o firme propósito de encontrar temas que não fossem tocar nas feridas das pessoas. Nem dos políticos, que têm os seus próprios campos de batalha; nem de figuras públicas, que já encontram protagonismo quando lhes apetece; nem quaisquer outras pessoas, pois nem sequer é esse o meu modo de ser.

Procurei ver este espaço que me foi proporcionado e que tanto me orgulhou, como um espaço onde pudéssemos voltar a encontrar um estilo jornalístico de que muito gosto e que tem sido, na minha modesta opinião, muito pouco explorado e, em alguns casos maltratado: a crónica.

Aquela, dizia eu, de que falava Eça de Queiroz, quando referia que «é como que a conversa íntima, indolente, desleixada, do jornal com os que o leem: conta mil coisas, sem sistema, sem nexo, espalha-se livremente pela natureza, pela vida, pela literatura, pela cidade; (…) fala em tudo baixinho, como quando se faz um serão ao braseiro, ou como no Verão, no campo, quando o ar está triste. (…) Espreita, porque não lhe fica mal espreitar (Queirós, Eça de, 1867, “O Valor da Crónica de Jornal” in Distrito de Évora)».

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Gosto das crónicas, das crónicas de tudo: de viagens, de sentimentos, de acontecimentos, de vidas interiores e exteriores. São memória do nosso tempo, das pessoas e dos seus modos de viver, e sem que tenha nada contra, são, para mim, a melhor e mais perfeita forma de olhar para o mundo, mais do que os textos com sabor a análise política, ou dos que revelam uma opinião sobre um qualquer tema, de modo tantas vezes apenas e só fundamentado no próprio eu, com toda a subjetividade que isso carrega. Ou daqueles que buscam claramente criar polémica, burburinho, desassossego.

Acredito no valor das palavras de per si, na capacidade que têm de ser sumarentas e atrativas, para que o leitor, que por elas viaja, as saboreie como um dos melhores petiscos que lhe podem servir. Acredito que as histórias, mesmo pequenas, diria, até, insignificantes para alguns, têm a força que lhes quisermos dar enquanto testemunho de um tempo e de quem o constrói.

E nelas podemos descobrir heróis e vilões, pessoas de grande mérito ou apenas e só gente pequena e humilde, gente que como eu somente quer viver a sua história e construir o seu percurso, sem estar permanentemente na linha dos holofotes, ou na mira dos críticos das redes sociais.

Aliás, esta minha opção levou logo a que, numa das primeiras publicações tenha recebido de um ilustre senhor da nossa região, por quem tenho muito respeito e com quem, por acaso, até mantive um excelente relacionamento profissional, um comentário dizendo que o texto estava bem escrito, mas nada tinha de interessante. Sorri. O interesse do texto está, por certo, na dimensão do entendimento de cada um e na valoração que faz do quotidiano, dos seus factos.

Eu sou daquelas criaturas que vai na rua e, perante um pormenor arquitetónico, ou uma bonita flor, paro e me encanto; ou perante um ato de vandalismo, me condoo.

Não sou melhor do que ninguém, mas acredito que o pequeno se pode transformar em grande e contribuir para que alguém se sinta bem. Um pouco como o rapazinho do Evangelho de S. João (6,1-15) que tinha apenas cinco pães de cevada e dois peixes, mas que para Jesus Cristo foi o veículo com que alimentou uma multidão.

Não vivo para os milhares de likes, nem para os comentários insultuosos; não busco esse tipo de atenção e, por isso peço desculpa ao Sul Informação, pois, por certo não trarei o interesse à sua secção de Opinião que outros trarão. N

ão sou famosa, nem busco sê-lo. Sou como as pequenas formigas, que trabalham e, apenas e só, querem ser úteis e ver, na sua comunidade, reconhecidos o seu esforço e o seu mérito. Não puxo de galões, mas acreditem que também os tenho. Não saliento os meus feitos académicos ou profissionais, mas já os consegui com mérito reconhecido e caminho, como todos, no sentido de mais atingir.

Sou só eu, aquela criança, adolescente, mulher que aprendeu a amar a escrita e que tem nela um veículo fundamental de expressão do seu interior e do seu olhar. E vou continuar a ser. Porque amo as palavras.

 

Autora: Sandra Côrtes Moreira é licenciada em Comunicação Social, pela FCSH da Universidade Nova de Lisboa, Mestre em Comunicação Educacional, pelas Faculdades de Letras e de Ciências Humanas e Sociais das Un. de Lisboa e Algarve e Mestre em La Educación en la Sociedad Multicultural pela Universidad de Huelva. É doutoranda em Educomunicación y Alfabetización Mediática pela Universidad de Huelva.
Técnica Superior de Línguas e Comunicação na Câmara Municipal de Faro, é também Assessora do Gabinete de Informação da Diocese do Algarve, membro da equipa da Pastoral do Turismo e da ONPT.

 

Sul Informação

 



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