Pouco tempo após o fenómeno meteorológico de ventos fortes, possivelmente um tornado, que acordou a aldeia de Porto Peles, no concelho de Beja, habitantes e a proteção civil municipal arregaçaram as mangas e iniciaram a limpeza das ruas.
Restos de telhas, chapas de zinco e tijolos espalhados pela Rua Luís de Camões, um dos locais onde os estragos são mais visíveis na localidade de 150 habitantes, são ainda o reflexo do episódio de ventos fortes que se fez sentir na manhã de ontem, constatou a agência Lusa no local.
«Fui o primeiro a aparecer. Parei ali ao pé da padaria, conforme paro sempre, vi o tornado passar e comuniquei depois à Proteção Civil, aos bombeiros e à GNR», conta à Lusa Manuel Corte Negra, enquanto aponta para a casa da sua mãe, uma das habitações afetadas, e observa o telhado onde o vento arrancou parte da cobertura.
Na mesma rua, uns metros acima, Maria Adriano mal recuperou do susto. Ainda estava na cama com o marido quando ouviu um «trovão muito grande» e percebeu que algo tinha «caído em cima da porta» das traseiras da casa.
«Foi um susto do maior. Saímos em camisa de noite para a rua [e vimos] que o que tinha acontecido era que a árvore, a chaminé e os vasos [das flores] tinham caído», relata.
De olhos postos no neto, que tenta colocar de pé a chaminé branca que caiu para cima do telhado, a moradora confessa que não sabe como é que o carro da família, estacionado em frente à casa, não ficou danificado.

«Não caiu nada em cima do carro porque não calhou, [mas] há ali um carro riscado», exemplifica.
Mais à frente, a observar o corrupio de pessoas que, com curiosidade, vagueiam por esta aldeia da freguesia de Nossa Senhora das Neves, a escassos 10 quilómetros de Beja, para dar conta dos danos, Sónia Fontes tenta perceber o que aconteceu enquanto foi levar os filhos à escola, na sede do concelho.
«Quando cheguei, estava uma árvore no meio da estrada. Entretanto, fui a casa e já estava o meu irmão em cima do telhado a levantar telhas. [Pelo que sei], foi um barrote grande de um telhado que bateu nas janelas da marquise, partiu os estores e os vidros», explica a habitante.
Ainda a tentar assimilar o que aconteceu, Sónia conta que a mãe «ouviu um barulho» e «abriu a porta» para tentar perceber o que se passava, mas a força do vento não a deixou voltar a fechá-la.
«O meu irmão diz que se ouviu um trovão muito forte, parecia o barulho de uma bomba, uma coisa que nós nunca presenciámos», diz.
O fenómeno, segundo sabe, passou pela localidade numa «questão de segundos» e apanhou as pessoas de surpresa.

«Graças a Deus não houve muitos estragos», realça, admitindo que poderia ter sido muito pior: «Temos os vidros partidos, mas pronto. Os vidros ficaram caídos em cima da cama da minha filha, se tem sido num fim de semana ou num feriado…».
De pás e vassouras na mão, às equipas da Proteção Civil Municipal de Beja, com a ajuda dos habitantes, só lhes resta um remédio: continuar a limpar os despojos que sobraram dos telhados arrancados e de um muro de quintal que uma árvore deitou por terra.
A aldeia, pacata na maioria dos dias, é agora cenário de árvores arrancadas pela raiz, telhados a descoberto e pedaços de metais de um barracão ali perto que ficou sem cobertura.
Contactado pela Lusa, o segundo-comandante dos Bombeiros Voluntários de Beja, António Guerreiro, disse que o fenómeno de ventos fortes ocorreu cerca das 08h00.
«Terá tido uma duração de poucos segundos. Às 08h15, atravessou Porto Peles e causou alguma destruição, sem que haja a registar, felizmente, nem feridos, nem população desalojada», indicou aos jornalistas o presidente da Câmara de Beja Paulo Arsénio.
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