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Silêncio que se vai construir o órgão sinfónico da Matriz de Loulé

Os estudos contam-nos que, ao longo dos séculos XVI, XVII e XVIII, houve um órgão, na Igreja Matriz de Loulé. Foi uma presença contínua, feita de nomes como António Nunes Pereira ou Carlos dos Santos, mas que, em 1755, se apagou. O Terramoto destruiu o órgão e, com ele, perderam-se anos e anos de uma história que agora se quer recuperar.

Devemos a Marco Sousa Santos muito do que sabemos sobre a história dos órgãos e organistas em Loulé.

No estudo “Contributos para a História dos Órgãos e Organistas ativos em Loulé no Período Moderno”, o historiador conta que, em 1554, já havia registos da existência deste instrumento, bem como da presença, ao longo dos anos, de organistas como o padre António Nunes Pereira ou Carlos dos Santos.

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Esse legado foi o ponto de partida para a criação, em 2021, da Clave de Sul, uma associação musical, nascida em Loulé.

Sérgio Leite é um dos vice-presidentes e explica, em entrevista ao Sul Informação, que o «cerne» da associação é «restituir e devolver à comunidade» essa tradição: «a existência de um órgão na Igreja Matriz de Loulé».

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Igreja Matriz de Loulé – Foto: Flávio Costa | Sul Informação

«A devolução do órgão à cidade tem não só essa grande perspetiva da história, mas também do futuro, porque o povo louletano gosta de música e isso é muito visível», acrescenta, numa conversa que decorre num dos bancos da Igreja Matriz de Loulé.

Nesse ano de 2021, começou o trabalho invisível que desembocou no momento vivido no passado 1 de Maio, dia em que foi assinado o contrato para a construção e instalação do primeiro órgão sinfónico de Portugal. Será em Loulé.

O instrumento vai ser composto por 1.437 tubos sonoros, distribuídos por 26 registos, alguns dos quais de mutação, compostos por três e cinco vozes, Em relação aos recursos, será composto por dois teclados manuais e um teclado de pedal.

Este órgão, além de, no plano artístico, poder abordar o repertório da época romântica, está pensado para a execução do repertório contemporâneo, bem como do barroco, produzindo um efeito sonoro idêntico a uma orquestra.

O órgão será construído por Dinarte Machado, o maior mestre organeiro de Portugal e que tem feito vários restauros um pouco por todo o país, nomeadamente no Algarve.

«Segundo nos disse o Dinarte Machado, este será o primeiro órgão sinfónico “puro” a ser construído no país, porque terá determinadas características de sonoridade e registação», explica Sérgio Leite.

De resto, a instalação do órgão na igreja, que tem de ser «harmoniosa», será da responsabilidade do arquiteto Vítor Mestre que também foi, por exemplo, o autor do projeto da musealização dos Banhos Islâmicos de Loulé.

Os vitrais da Igreja Matriz serão igualmente alvo de uma intervenção, do artista visual louletano Miguel Cheta, com o objetivo de melhorar as condições acústicas e visuais.

Além de vice-presidente da Clave de Sul – Associação Musical de Loulé, Sérgio Leite é também diretor do Conservatório de Música Francisco Rosado e é nessa condição que fala do muito que este novo órgão trará à cidade e ao ensino.

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Sérgio Leite e o local onde será instalado o órgão – Foto: Pedro Lemos | Sul Informação

«Temos de pensar naquilo que o Conservatório tem estado a fazer. Somos a única escola pública exclusicamente dedicada ao ensino especializado abaixo do Tejo e não queremos só gerar procura, mas também oferta. Não existe curso de órgão no Algarve e desejamos criá-lo e formar organistas», adiantou.

Se tudo correr bem, 2027 é o ano apontado para que o órgão sinfónico esteja instalado. O investimento é de cerca de 610 mil euros que serão suportados maioritariamente por entidades privadas.

É que este quer ser, acima de tudo, um projeto para a comunidade: daí que também estejam previstas palestras, masterclasses, workshops, concertos regulares e, claro, a participação no Festival Internacional de Música de Órgão do Algarve, organizado pela associação Música XXI, e que tem potenciado o interesse neste instrumento um pouco por toda a região.

«Tenho a certeza de que este é um projeto que vai deixar a sua semente em Loulé», conclui o professor Sérgio Leite, tendo, nas suas costas, o local onde será colocado o futuro órgão sinfónico, por cima da entrada da Igreja Matriz, Monumento Nacional desde 1924.

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