A agente imobiliária que promovia negócios fictícios no Algarve ter-se-á aproveitado das relações de proximidade com as vítimas, na sua maioria estrangeiros, para vender os imóveis online, disse hoje o diretor da Polícia Judiciária (PJ) de Portimão.
«Havia um conhecimento com a agente imobiliária fruto de relações familiares, de amizade, que depois se foi alargando a um circuito de investidores», adiantou Joaquim Trindade, sublinhando que o facto de a mulher ter nacionalidade portuguesa e alemã também permitiu que «confiassem nela».
A PJ anunciou hoje a detenção de cinco mulheres que vendiam imóveis online e são suspeitas de burla qualificada, falsificação de documentos e branqueamento de capitais no setor imobiliário, crimes que terão provocado prejuízos superiores a sete milhões de euros, lesando aproximadamente 30 pessoas.
Em conferência de imprensa, na PJ de Faro, Joaquim Trindade referiu que as cinco mulheres detidas ao abrigo da operação “Chave na Mão” são uma agente imobiliária – que tem entre 40 e 50 anos e já tinha tido um escritório, em Portimão – e quatro solicitadoras, que formavam, em conjunto, uma «teia complexa».
Segundo o responsável, trata-se de uma situação «bastante rebuscada», já que há registo, na zona do Algarve, de burlas ou fraudes no setor imobiliário, «mas normalmente é pontual, [envolvendo] meia dúzia de imóveis ou poucos imóveis, não por estes valores».
Joaquim Trindade acrescentou que grande parte dos lesados é de nacionalidade alemã, sim, mas existem também vítimas norte-americanas, polacas, francesas e portuguesas, embora, neste último caso, o número seja residual.
Desde meados de 2022, as mulheres enganaram dezenas de clientes, oferecendo contratos de promessa de compra e venda de imóveis situados no barlavento (oeste) algarvio, suportados «com documentos formalmente válidos, mas cujo conteúdo era falso e que não existiam, contra a vontade ou sem conhecimento dos proprietários dos imóveis».
De acordo com o diretor da PJ de Portimão, na maioria das vezes, as pessoas nem visitavam os imóveis em causa, sendo que a agente tinha os dados dos proprietários e dos imóveis por lhe terem sido entregues, pelos próprios proprietários, para fazer a sua gestão para arrendamento e alojamento local.
«Nós, neste momento, temos no processo identificado cerca de duas dezenas, mas aproxima-se muito das 30 vítimas. Mas, admitimos, obviamente, pelo número de documentos que foram localizados, e mesmo porque, entretanto, nos últimos tempos têm vindo a ser formalizadas novas queixas […] que haverá mais vítimas», frisou.
A investigação, titulada pelo DIAP Regional de Évora, tinha arrancado em 2024, sendo que as detidas ainda vão ser presentes às autoridades judiciais.
Foto: Mariana Carriço | Sul Informação