A Estação da Funcheira, na linha ferroviária do Sul, depois de anos fechada, vai agora ser reabilitada por decisão da empresa Infraestruturas de Portugal, que lançou um concurso público para a obra no valor de 510 mil euros.

Esta intervenção visa «corrigir problemas graves na estrutura do edifício, melhorar as condições de segurança e devolver dignidade a uma infraestrutura ferroviária histórica, com forte valor patrimonial e afetivo para o concelho de Ourique e para o país», salienta a Câmara Municipal deste concelho do Baixo Alentejo.

A Estação da Funcheira, situada na União de Freguesias de Garvão e Santa Luzia, no concelho de Ourique, foi um dos mais importantes entroncamentos ferroviários do sul de Portugal no século XX.

Inaugurada em 1919, a Estação da Funcheira foi, durante décadas, um ponto de cruzamento estratégico entre a Linha do Sul (Lisboa–Algarve) e a Linha do Alentejo (Beja–Funcheira), desempenhando um papel fundamental na ligação entre o interior alentejano e o litoral.

Instalou-se ali uma verdadeira “aldeia-estação”, com comércio, serviços e uma comunidade viva em torno da ferrovia, que chegou a reunir centenas de habitantes, a maioria ligada aos caminhos-de-ferro.

Ainda hoje se mantém a memória dessa época de movimento intenso e de famílias que ali viviam.

A Funcheira foi, durante muito tempo, a principal porta ferroviária da região: agricultores, comerciantes e trabalhadores usavam-na para transportar produtos e pessoas.

Foi mesmo «um dos motores económicos do concelho e símbolo de progresso no século XX».

O edifício da estação, com um estilo arquitetónico pouco habitual na região, manifestando influências francesas (as mansardas e os telhados) e do revivalismo romântico, mantém ainda os painéis de azulejos originais (alguns já com falhas), sendo um verdadeiro tesouro do património ferroviário nacional.

Segundo o portal do SIPA – Sistema de Informação para o Património Arquitetónico, a estação conserva o edifício de passageiros, o das instalações sanitárias, cais cobertos (armazéns) e cais descobertos, vários depósitos de água e dois de combustível, uma placa giratória e três imóveis que se destinavam a habitação ferroviária. Todos estes edifícios e estruturas estão em avançado estado de degradação, após anos de abandono.

Em termos ferroviários, a estação apresenta duas vias de circulação, eletrificadas em toda a sua extensão, sendo servida por comboios Intercidades (Faro/Lisboa-Oriente) e Alfa Pendular (Faro/Porto-Campanhã). Os edifícios da estação estão fechados e os bilhetes só podem ser comprados online ou já dentro do comboio.

Depois de anos de declínio que levaram ao fecho deste estação, nos últimos tempos, o tráfego ferroviário de passageiros tem vindo a crescer significativamente, fruto da retoma da ferrovia como alternativa sustentável e da valorização da Linha do Sul.

Esse aumento de procura foi, segundo a Câmara de Ourique, «determinante para a decisão da Infraestruturas de Portugal em avançar com a reabilitação» daquela Estação.

«Preservar a Funcheira é manter viva uma parte essencial da memória coletiva, da história ferroviária e do futuro do território», conclui a autarquia do Baixo Alentejo.