A Associação Académica vai retirar as referências «mais sexualizadas, ligadas a desafios sexuais» das barraquinhas da Semana Académica do Algarve, que está a decorrer até sábado, 10 de Maio, em Faro, mas não deixará de haver «alguma sátira». A polémica instalou-se após uma denúncia e vários posts nas redes sociais.
Uma delas foi de Cristóvão Norte, presidente da Assembleia Municipal de Faro e deputado do PSD, que publica fotografias da barraquinha de Engenharia Mecânica, “decorada” com desafios de cariz sexual em troca de shots grátis.
Também é visível a utilização de linguagem mais obscena, dirigida às mulheres. Centenas de pessoas juntaram-se aos protestos, nomeadamente Inês Marinho, do movimento “Não Partilhes”.
O Núcleo Feminista da Universidade do Algarve, recentemente criado, também esteve na génese destas denúncias, tal como disse ao Sul Informação Mariana Fernandes, uma das fundadoras. O Núcleo conta, atualmente, com cerca de 30 membros dos mais variados cursos.
«A linguagem de caserna é de mau gosto, mas sobretudo o desafio despudorado à exibição do corpo em troca de álcool é muito triste e revoltante. Não é o ato: é o que ele revela», diz Cristóvão Norte, nessa mesma publicação.
Contactado pelo Sul Informação, Rodrigo Raziel, presidente da Associação Académica da Universidade do Algarve, garantiu que as referências sexuais mais explícitas – que são transversais a grande parte das barraquinhas – «vão ser tapadas», mas não deixará de haver «alguma sátira».
«Nós vamos fazer um check em todas as barraquinhas, que este ano são 30, o que torna mais difícil de gerir, para tapar ou retirar o conteúdo mais sexualizado», acrescentou.
Esta é uma decisão que foi tomada em articulação com Paulo Águas, reitor da Universidade do Algarve, que pediu à AAUAlg que tomasse medidas.
«O nosso reitor, que é sempre pró-estudantes, ligou-me e pediu-me para tratarmos o assunto com a seriedade que merece, algo que vamos fazer», disse.

De resto, a UAlg também já reagiu, através de um comunicado, publicado no site oficial, em que repudia o sucedido.
As mensagens contidas na barraquinha de Engenharia Mecânica indiciam «a prática de comportamentos sexistas, atentatórios dos valores humanistas, igualitários e democráticos da instituição Universidade do Algarve».
Nos termos do artigo 55.º do Regulamento Disciplinar dos Estudantes da UAlg, o reitor entendeu também «determinar a abertura de um inquérito para investigar a existência de responsabilidade disciplinar por parte dos estudantes envolvidos na ocorrência».
«A Universidade do Algarve não tolera, nem compactuará com comportamentos de estudantes ou de quaisquer outros membros da comunidade académica, que atentem contra a dignidade de todos os cidadãos, independentemente da sua ascendência, sexo, raça, língua, território de origem, religião, convicções políticas ou ideológicas, instrução, situação económica, condição social ou orientação sexual», lê-se no mesmo comunicado.
Ainda assim, o presidente da AAUAlg vincou que esta prática das barraquinhas «não é nova, muito menos exclusiva da Semana Académica do Algarve».
Rodrigo Raziel também referiu que, este ano, foi feito um «pedido especial» para que a barraquinha de Engenharia Mecânica em específico, conhecida por partilhar conteúdo obsceno nas redes sociais, não o fizesse.
As críticas já vieram também de outros quadrantes. Fábio Simão, presidente da associação Xis, manifestou, ao Sul Informação, o seu «mais profundo repúdio» face a este episódio.
«É essencial compreender que não se trata de moralismos nem de censura gratuita. Trata-se, sim, do reconhecimento de que vivemos ainda num mundo marcado por profundas desigualdades, e que, neste contexto, aquilo que se disfarça de “brincadeira” ou “excesso” pode facilmente transgredir os limites do respeito e da decência», disse.
«A linguagem usada e o convite implícito nessa ação não são apenas de mau gosto, são reflexo de padrões ultrapassados que continuam a legitimar a objetificação e a desresponsabilização perante a violência simbólica contra as mulheres», acrescenta.
«A Semana Académica deve ser um espaço de celebração, de alegria, de convívio, e nunca de humilhação. Que este episódio nos sirva de lição. E que sejamos todos capazes de construir uma universidade e uma sociedade onde ninguém, nunca, tenha de escolher entre ser aceite e ser respeitado», conclui.
A Semana Académica decorre até sábado, 10 de Maio, no Complexo Desportivo da Penha.
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