A profissão de Guia-Intérprete, quando exercida de forma consciente e plena, é muito mais desafiante do que, à partida, se poderia pensar.
Estes profissionais contribuem para a melhor divulgação do país. Pela formação, inicial e contínua, são verdadeiros mediadores culturais, com impacto em quem visita, mas também em quem é visitado.
A forma como o país é percecionado pelos estrangeiros passa muito pela maneira como são acompanhados durante a sua estadia.
Infelizmente, nos últimos anos e devido à desregulamentação da profissão, começaram a proliferar no mercado uma série de guias empíricos, ou seja, cuja preparação é o que se vai experienciando todos os dias, mas sem uma formação académica de base, que lhes dê as ferramentas para crescer e ser o que o Guia-Intérprete certificado é – um embaixador cultural.
Perante isto, recordo uma recente reportagem, num canal televisivo de notícias, que mostrava a péssima prestação de motoristas de tuk tuk, pretensos guias, onde se ouvia um chorrilho de horrores sobre a capital portuguesa, os seus monumentos e outros pontos de interesse.
Desengane-se quem pensa que o problema é exclusivo de Lisboa.
Por cá, no Algarve, como em todo o país, a fórmula repete-se e as asneiras também.
É inegável a má imagem que se dá do que somos e do que fazemos. É mau para a história, a cultura, a economia no geral, o turismo em particular, mas também para a sociedade e até para a integração dos imigrantes.
Ao ver tal reportagem, o sentimento que desperta é vergonha, muita vergonha. Vergonha alheia, ao ver o meu país permitir que isto aconteça.
Lembro também uma notícia que saiu num órgão de comunicação inglês, onde se procuravam recomendações sobre o Algarve junto de quem cá habita, incluindo uma suposta guia, que sugeriu como restaurante a frequentar em Lagos, uma pizzaria. Nada contra a comida italiana, mas recomendar um restaurante italiano, num jornal estrangeiro a promover a região, um sítio para comer, ainda por cima em Lagos, onde a escolha é mais que muita?
Dois exemplos que nos mostram desconhecimento, desvalorização e incapacidade para perceber a área profissional que se pretende abraçar.
Desconhecimento quando, perante aqueles que devemos acompanhar, mostrar, explicar a nossa história e cultura, nada disto é feito por não existir o mínimo de conhecimento para o fazer.
Desvalorização por, apesar do desconhecimento, se continuar a inventar serviços sem haver preocupação em procurar fazer melhor, como se apenas o ganho de alguns euros a curto prazo fosse importante, hipotecando o que a longo prazo se pode ganhar.
Incapacidade por não ser capaz de se perceber o alcance daquilo que as nossas acções e as nossas palavras podem potenciar junto daqueles que vêm para ver e conhecer, crentes de que quem os acompanha lhes está a mostrar o que é genuíno e tradicional.
Um Guia-Intérprete formado, qualificado, certificado tem o conhecimento dos vários aspetos histórico-culturais, económicos e sociais, sabe valorizar os recursos e é capaz de os utilizar para impactar, positivamente, não só o visitante, mas também os outros prestadores de serviços e produtores com os quais trabalha.
Numa época em que se procura cada vez mais a sustentabilidade e a economia circular, o Guia-Intérprete é um agente económico-cultural pronto para ligar os vários setores e contribuir para a valorização da zona onde actua.
Perceber que outros que nos visitam apreciam o nosso modo de vida, a nossa forma de ser, o nosso passado, faz-nos gostar cada vez mais do que fazemos e do nosso país, bem como querer potenciar o que temos de positivo e contribuir para que o menos bom seja atenuado.
Muitas destas situações parecem senso comum – recomendar restaurantes tradicionais, com compromisso com a gastronomia regional, comprar produtos locais, feitos por artesãos ou pequenas empresas nacionais e não vindos de longe, mascarados como se fossem o que aqui se cria, visitar aldeias e povoados, nem sempre na rota dos destinos mais conhecidos, ajudando a criar dinâmicas económicas que beneficiem esses lugares.
Apesar de pensarmos que isto é o obvio, no dia a dia não é assim tão percetivel. E a formação faz toda a diferença. Ajuda a que estejamos preparados para ser, verdadeiramente, veículos de promoção e conhecimento, ajudando a dar o tal salto que todos queremos que a nossa região dê, passando a ser um destino para todo o ano, onde o emprego seja cada vez menos sazonal e onde os lucros desta importante atividade fiquem por cá e sejam aplicados a criar riqueza ao Algarve.
A formação faz falta em todos os setores. E, na Informação Turística, já o devíamos ter percebido. É imprescindível para atingir os níveis de qualidade a que aspiramos!

Obrigado por fazer parte desta missão!