Uma dívida de mais de 1 milhão de euros ao Pingo Doce, relativa ao negócio da construção da chamada bancada “nova” do Estádio de São Luís, em 1999, só há cinco meses começou a ser paga pelo Farense, no âmbito do Processo Especial para Acordo de Pagamento (PEAP) solicitado em 2024, revelou o presidente do clube no jantar do 115º aniversário do emblema.
Na terça-feira, perante cerca de uma centena de pessoas, no hotel AP Eva Senses, em Faro, João Rodrigues citou esse como um «exemplo pequeno» do período de dificuldades financeiras que o clube passou ao longo das últimas décadas, um cenário que mudou 180 graus com a direção que lidera desde 2018.
«O Farense só começou a pagar a bancada dita nova – uma bancada que foi construída há 25 anos, talvez um bocadinho mais –, há cinco meses», com o início dos pagamentos mensais relativos ao PEAP, que permite negociar com os credores o pagamento das dívidas, afirmou o líder do clube, durante o seu discurso.
A construção da bancada nascente do Estádio de São Luís, que substituiu o antigo peão, foi paga na totalidade pelo Pingo Doce – que depois abriu um supermercado nos baixos da estrutura – e inaugurada em Setembro de 1999, mas o negócio deixou o clube com uma dívida por pagar à empresa. No âmbito do PEAP que o Farense solicitou no ano passado, a cadeia de supermercados reclamava créditos de mais de 1,2 milhões de euros.
João Rodrigues, que se tornou acionista máximo da Farense SAD em 2016 e, dois anos volvidos, assumiu a presidência do clube, lembrou que o emblema teve de pedir esse Processo Especial para Acordo de Pagamento após a Halcon, que reclamava uma dívida de 438 mil euros, ter penhorado o pavilhão e edifício-sede, em Fevereiro de 2024.
«Para defender as nossas estruturas, tivemos de fazer um PEAP de urgência. Senão, hoje não tínhamos essas estruturas. Esse plano deixa-nos com um encargo de 25 mil euros por mês para sanar toda a dívida. A nossa intenção era acabar de pagar o PERES – Programa Especial de Redução do Endividamento ao Estado, que ainda temos mais dois anos e meio para cumprir, e só depois entrarmos no PEAP», lembrou o dirigente.
Fonte do clube refere ao Sul Informação que, dos mais 7 milhões de euros em créditos reclamados por mais de duas dezenas de credores – com dívidas «criadas há 25 ou 30 anos» –, a negociação em sede de PEAP permitiu reduzir esse valor para cerca de 3 milhões, o que significa que o Farense ficará a pagar 25 mil euros mensais durante, sensivelmente, a próxima década.
Em relação ao PERES, o clube ainda pagará cerca de 20 mil euros por mês nos próximos anos. Ou seja, os encargos mensais para pagamento de dívidas atrasadas devem ascender a cerca de 45 mil euros até início de 2028, baixando depois.
«No PEAP que nós fizemos, não há um cêntimo de dívida dos últimos oito anos e meio de gestão», sustentou João Rodrigues sobre a atual situação financeira do clube, que depende das quotizações e, também, do apoio da SAD. «As pessoas têm de ter consciência disto, têm de compreender o que se passa aqui. Enquanto tivermos a quotização e o apoio da SAD – e não vou dizer os valores que foram postos nos últimos meses –, é a única forma de o Farense se manter», sublinhou.

Na gala de terça-feira, foram distinguidos mais sócios com insígnias de 50 e 75 anos de ligação ao clube, enquanto apenas foi distinguido um sócio com 25 anos de antiguidade, facto que o presidente do Farense relacionou com «a descida vertiginosa» do clube no último quarto de século, que provocou o «abandono» de muitos adeptos.
«Provavelmente, vai ser o caso durante uns bons anos», confidenciou, mas a atual direção quer deixar um legado diferente, até porque tem «aumentado, de forma sustentada», o número de sócios, atualmente nos 8.240, e o São Luís tem tido assistências na ordem dos seis mil espetadores por jogo.
«Quase 20% dos nossos sócios são mulheres e, muito importante, quase 33% tem 21 anos ou menos. Esses são o futuro. Queremos deixar um legado de futuro com gente que hoje é do Farense e tem no Farense o único clube que apoia. Esse é o nosso legado», vincou.
No seu discurso, João Rodrigues queixou-se ainda da falta de infraestruturas desportivas na cidade de Faro, nomeadamente campos relvado para a prática de futebol.
«Temos 500 atletas registados na Associação de Futebol do Algarve, mas podem crer que podíamos ter o triplo, em femininos e masculinos, se tivéssemos condições», afirmou, acrescentando que, no total das modalidades, o clube movimenta cerca de 1.500 atletas.
O presidente do Farense tocou ainda no tema do pavilhão, que não está a ser utilizado, atualmente, por precisar de obras de reabilitação, especialmente no piso, que coloca em risco a integridade física dos atletas, e pediu a atenção dos candidatos às próximas Autárquicas.
«É imprescindível, qualquer que seja o partido que tenha num futuro breve as rédeas de Faro, que [a reabilitação do pavilhão] seja considerado como a mais alta prioridade de qualquer infraestrutura desportiva no concelho», referiu o dirigente.
A direção estima que as obras de reabilitação do espaço possam custar entre 150 a 200 mil euros, disse ao Sul Informação fonte do emblema.
Por outro lado, o clube suspendeu as atividades de seniores masculinos de futsal e seniores masculinos e femininos de basquetebol, sob as críticas dos adeptos do clube que são fãs das duas modalidades. As outras equipas de modalidades de pavilhão vão-se dividindo pelo municipal da Penha, Escola D. Afonso III e Estoi.
A equipa sénior feminina de basquetebol voltará na próxima época, mas João Rodrigues garantiu que o clube não terá futsal e basquetebol em seniores masculinos «enquanto não houver um processo claro de apoio a prazo, três anos no mínimo».
«Não podemos entrar em loucuras num clube que não tem condições financeiras para isso. Quem quiser fazer isso, não vai contar comigo. Não vou autorizar que ponham em causa a recuperação do Farense», assegurou.
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