Ao lado de uma enorme barragem cheia de água quase até ao limite máximo, falar da escassez deste bem essencial pode não fazer sentido, para alguns. Para quem vive no Algarve ou para quem está atento à realidade da região, faz. E foi de «resiliência futura» de que se falou, esta terça-feira, junto à albufeira de Odelouca, em Monchique, que está perto da sua capacidade máxima, por ocasião da inauguração da obra captação do volume morto desta barragem.
Na prática, a instalação deste novo sistema de captação de água, uma obra de 4,9 milhões de euros feita pela Águas do Algarve, significa que, quando a região algarvia voltar a enfrentar uma seca prolongada como a dos últimos anos, terá uma “almofada” extra de 15 hectómetros cúbicos (hm3), na Barragem de Odelouca, que até à realização desta empreitada não era possível aproveitar.
Este volume de água é um quinto do consumo urbano anual da região – abastecimento público -, que ascende a 75 hm3.
Numa altura em que, graças a um ano de pluviosidade abundante – que é cada vez mais raro, no Sul de Portugal, e se segue a muitos com «muito menos chuva do que seria normal» -, o Algarve se prepara para chegar ao final da primavera com reservas quase plenas de água de superfície, a obra inaugurada deve ser vista como «um investimento que dá resiliência, que prepara a região do Algarve para períodos de seca», nas palavras de Maria da Graça Carvalho, ministra do Ambiente.
«Nestes períodos em que temos água e as nossas barragens quase em pleno, como é o caso aqui desta, (…) aproveitamos para preparar o futuro. E isso passa por poder utilizar o volume morto desta barragem, que felizmente hoje não é necessário, mas que há dois anos e durante o ano passado era», acrescentou a ministra, à margem da sessão.

Segundo a governante, que é também a cabeça-de-lista do PSD pelo círculo de Faro, nas legislativas de 18 de Maio, o que se tem vindo a tentar fazer, nos últimos anos, nomeadamente com verbas provenientes do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR), é «preparar o Algarve para um período de 10, 20 anos».
Isso faz-se, desde logo, «continuando a poupar água».
«O Algarve deu uma grande lição [ao país], com uma poupança média muito superior a 10%. O setor urbano conseguiu cerca de 9 a 10%, a agricultura chegou aos 30% de poupança. (…) Mas também o setor do turismo, por exemplo, a parte do Golfe, poupou 16%. Esses esforços são para continuar», disse.
Algo que também já começou a contribuir para isso, além do esforço coletivo de poupança da região, são as intervenções de um valor global de cerca de 44 milhões de euros para redução de perdas nas redes de abastecimento de água urbanas, a cargo dos municípios, que têm financiamento a 100% do Plano de Recuperação e Resiliência.

Este esforço, afirmou Maria da Graça Carvalho, não é para ficar por aqui, havendo uma verba destinada a novas obras, para além das que serão financiadas pelo PRR, no Programa Operacional Algarve, juntamente com o Fundo Ambiental.
«Para que a comparticipação não ser só a 60%, o Fundo Ambiental vai ajudar, para que seja mais alta. Vamos continuar esse programa, um grande programa de redução de perdas, principalmente no ciclo urbano, mas também na agricultura», assegurou.
Também em curso, estão os investimentos na construção de uma dessalinizadora e na Tomada de Água do Pomarão, ambas obras que começaram por estar previstas no PRR, mas que transitaram para o Programa Operacional Sustentável, o que, segundo a ministra, dará mais folga ao prazo de execução e permitirá «uma comparticipação por fundos europeus de 85%, quando no PRR rondava os 50%».
Há ainda os investimentos previstos no programa Água que Une, entre os quais se destacam duas novas «pequenas barragens» no Algarve, nas ribeiras da Foupana e do Alportel, bem como a ligação entre o Alqueva e a barragem alentejana do Monte da Rocha, «e daí até ao Algarve», que a ministra garante que «são para avançar» – isto, claro, caso a AD volte a formar Governo.
Além da inauguração do investimento da captação do volume morto da Barragem de Odelouca, a ministra do Ambiente e Energia também inaugurou um investimento em infraestruturas de elevação e adução de Água para Reutilização, na ETAR da Boavista, em Lagoa.
Na mesma ocasião foram assinados contratos para a remodelação da ETAR de Paderne e do Sistema Elevatório do Purgatório, para o reforço da interligação do Sistema de Abastecimento em Alta do Barlavento/Sotavento Algarvio – Chão das Donas e ETA das Fontainhas e da obra de “Reforço da Interligação Barlavento/Sotavento – 1.ª Fase”, intervenções que, no seu conjunto, representam um investimento a rondar os 35 milhões de euros.














Obrigado por fazer parte desta missão!
Hugo Rodrigues não o diz mas, pelo que leio, tornou-se um algarvio, por opção.
Bem haja, pela defesa da região.
Há que louvar estas iniciativas que só pecam por tardias. A dessalinizadora é um erro que se pode corrigir e apostar nos transvases.
infelizmente, no prazo de 20 a 30 anos, a dessalinizadora é o futuro…
Se formarmos governo. Isto cheira a propaganda eleitoral. Não estou contra o projeto, estou contra o aproveitamento político descarado!