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São 30 anos de “cante algarvio” na voz destas Moçoilas

O tempo em que nasceram era de «esperança», de crença numa certa ideia de desenvolvimento local que envolvia as pessoas, anónimas, da serra, do Barrocal. Hoje, os tempos serão outros, mas, quais irredutíveis, há três “Moçoilas” que não desistem de cantar o Algarve. E já o fazem há 30 anos, com muita cumplicidade, concertos inesquecíveis e planos para mais 30.

Margarida Guerreiro, Teresa Silva e Inês Rosa são essas três “Moçoilas”, nome do grupo musical que tem feito todo um percurso dedicado à recolha e reinvenção da música tradicional algarvia.

Margarida é a única que se mantém dessa formação inicial: passaram 30 anos – o mote que guiou a criação das “Moçoilas” mantém-se inalterado.

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«Eu gosto de pensar que cantamos o “cante algarvio”. Há algum tempo, num concerto em Castro Verde, onde já fomos imensas vezes, apresentaram-nos dessa maneira e é um reconhecimento que tenho muito quentinho no coração», conta ao Sul Informação.

A conversa decorre antes do início de um ensaio muito especial para dois concertos que não serão menos especiais. Os 30 anos das “Moçoilas” mereciam uma festa – «a nossa festa!» – e nada melhor do que convidar amigos.

«Nós lançámos o desafio para criar um coro, de amigos e seguidores das Moçoilas, e tem sido muito bom», enquadra Inês Rosa.

Assim, os concertos de sábado 29, às 21h00, no Teatro Lethes (Faro), já com lotação esgotada, e de domingo, 30, às 18h00, no Club Farense (bilhetes à venda no local ou na Papelaria Portugal), terão a participação de cerca de 20 pessoas desse coro. Com as suas “Moçoilas”, interpretarão seis músicas.

«Escolhemos as canções que achámos que seriam aquelas de que as pessoas mais gostavam. Este coro abrirá mais portas até para o futuro», diz, por sua vez, Teresa da Silva.

Voltamos a Margarida que se lembra bem do início das “Moçoilas”.

«Nós nascemos no meio de uma série de pessoas que começaram a descobrir que, afinal, o que faziam era engraçado. Pessoas serranas, do Barrocal. Foi aí que começámos e é por isso que fomos e continuamos a ser um projeto diferente», diz.

As pessoas gostaram desde o início porque há uma «recíproca validação», acrescenta prontamente, sem lamentar, todavia, o único grande entrave que o grupo musical tem tido.

«Se há algo de menos bom neste percurso, acaba por ser o facto de, por sermos do Sul, estarmos algo limitadas. Somos moirama», diz, entre risos.

«Não digo que estejamos esquecidas, mas também gostávamos de ir a outros territórios. Temos ido, muito ao Alentejo por exemplo, mas o interessante era levarmos esta nossa marca identitária para o resto de Portugal também», concorda Teresa da Silva.

Ao longo deste percurso, as três “Moçoilas” são unânimes em admitir que a cumplicidade foi um dos segredos do sucesso.

«Há uma cumplicidade continuada entre nós – divertimo-nos muito. E isso sempre foi o ADN das Moçoilas. Eu lembro-me de rirmos às lágrimas em ensaios, em concertos. As cantigas das Moçoilas são muito divertidas – podiam ser muito sérias, mas são jocosas, têm ali metáforas. E isso faz também com que essa intimidade entre nós seja evidente», diz Margarida.

Para Inês Rosa, houve, ao longo destes anos, «inúmeros» momentos em palco «inesquecíveis». «Coisas nossas, de que gosto muito», explica. Mas houve também dois momentos «particularmente significativos»: os espetáculos com Maria João ou a conceção musical do espetáculo de teatro “Catarina”, no Teatro Lethes.

Sul Informação

E há ainda as histórias, incontáveis momentos em sítios quase anónimos.

«Uma vez, fomos a um sítio no Alentejo, perto de Mértola, num monte. Não havia ninguém. E nós a pensar: mas será que teremos pessoas para nos ver? Nisto, entrámos numa sala minúscula. Lá ao fundo, havia um balcão a servir bebidas. Entretanto, apareceram nove pessoas para a assistir. E as pessoas não diziam nada. Não batiam palmas. Nada. Mas sentíamos que estavam a gostar. No fim do concerto, timidamente, vieram dizer-nos que gostaram muito. Mas ninguém se manifestou. Tenho isso muito presente como algo tão surreal», conta Margarida Guerreiro.

E o futuro? Como será?

Teresa da Silva não tem dúvidas de que as “Moçoilas” já deixaram uma marca por serem um «projeto diferente».

«Deixámos a semente. O Alentejo, por exemplo, tem uma canção mais ligada ao trabalho, cantada por homens. E nós somos mulheres! E temos canções jocosas! Com outro cariz. Mas era interessante alguém pegar nestas canções, dar-lhes talvez um novo arranjo, pôr eletrónicas, o que for», diz.

Mesmo que ninguém o faça, o “cante algarvio” está assegurado. Graças às Moçoilas.

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