Não será o Centro Oncológico de Referência do Sul (CORS), mas é uma solução que permitirá fazer o diagnóstico de todos os casos de cancro na região, evitando enviar pacientes algarvios para Sevilha ou para Lisboa, como acontece atualmente.
A Câmara de Loulé, a Unidade Local de Saúde do Algarve e o Algarve Biomedical Center anunciaram esta terça-feira, dia 25, que vão unir esforços para garantir a «única resposta que não existe no Algarve», ao nível da oncologia: uma máquina PET (Tomografia por Emissão de Positrões), necessária para fazer diagnósticos de cancro mais precisos e avançados.
Para isso, a ULS do Algarve irá apresentar uma candidatura a fundos europeus, recorrendo à mesma verba que já estava reservada no Algarve 2030 para financiar o CORS, e a Câmara de Loulé compromete-se não só a ceder o terreno para a construção do futuro centro de exames que acolherá esta máquina, como a entrar com a contrapartida nacional, ou seja, os 40% do custo total que os fundos comunitários não cobrem.
Numa conferência de imprensa que juntou os principais responsáveis pelas três entidades, Vítor Aleixo, presidente da Câmara de Loulé, revelou que esta obra tem um custo estimado de cerca de 3,5 milhões de euros e que esta nova resposta oncológica deverá estar «em pleno funcionamento em 2026», depois de concluída a fase de «construção, aquisição e instalação do equipamento», que deverá decorrer «em 2025 e 2026» e tem um prazo de execução estimado de «um ano e três meses».
O terreno a ceder fica situado perto do cemitério de Loulé, na rua Humberto Pacheco, onde já existe o Laboratório de Genética Médica do ABC.
A partir do momento em que a unidade esteja instalada, a ULS e o ABC irão garantir «a concretização de todas as condições para a realização de todas as PET do Algarve no novo equipamento até ao início do funcionamento do Hospital Central».
O ABC tem já uma parceria estabelecida com o ICNAS – Instituto de Ciências Nucleares Aplicadas à Saúde, da Universidade de Coimbra, e irá garantir o funcionamento da PET através dos seus recursos humanos e «a disponibilização dos radiofármacos necessários, dando total resposta no Algarve».
No fundo, esta solução assume-se como uma alternativa ao CORS, que, como a ministra da Saúde já tinha avançado, não irá avançar nos moldes inicialmente previstos, mas sim integrado na Parceria Público Privado do futuro Hospital Central do Algarve.

E basta uma máquina PET para resolver os problemas existentes?
Atualmente, enquadrou Vítor Aleixo, os tratamentos rádio-oncológicos (radioterapia, radiocirurgia e braquiterapia) do Serviço Nacional de Saúde já são garantidos pela Clínica Oncológica do Algarve, pelo que a deslocação de doentes a Sevilha para este tipo de tratamento «não é uma necessidade, na atualidade».
Também ao nível da Medicina Nuclear há já resposta na região, nomeadamente a unidade que está instalada no Hospital de Portimão, que permite dar resposta a muitos doentes.
Sobram «cerca de 20 ou 30%» dos novos casos de cancro que surgem, todos os anos, no Algarve, um universo a rondar «os dois mil utentes», que hoje em dia têm de ir a Sevilha, segundo revelou Tiago Botelho, presidente do Conselho de Administração da ULS Algarve.
É precisamente a essa franja de pacientes que se pretende dar resposta.
A resposta hoje anunciada, que já foi apresentada à tutela e foi recebida «de forma positiva», vem garantir «resposta completa de oncologia na região do Algarve» e é «a solução mais rápida».
Ao mesmo tempo, «não compromete as melhores condições possíveis no Hospital Central do Algarve (HCA), disponibilizando a totalidade de resposta oncológica nas suas instalações» e «minimiza deslocações atuais e futuras de ambulâncias de doentes com algum grau de debilidade», resumiu Vítor Aleixo.
O presidente da Câmara de Loulé garantiu ainda que está «do lado da solução» e que, desde o momento em que os serviços camarários rejeitaram liminarmente o projeto que a ULS Algarve apresentou, para construção do Centro Oncológico de Referência do Sul no Parque das Cidades, se esforçou para encontrar uma alternativa que defendesse «a prestação dos cuidados de saúde às pessoas da região».
Para isso, e já depois de uma audição parlamentar onde houve troca de acusações e a revelação por parte da anterior administração que uma nova lei tinha aumentado as exigências técnicas do CORS, obrigando a alterações ao projeto inicial, a Câmara e a ULS voltaram a sentar-se à mesa e chegaram a esta solução «de forma elevada», focando-se «no essencial», como ilustrou Tiago Botelho.
«No prazo de um ano, mais rápido do que seria construir o CORS, vamos pôr ao serviço do Algarve o único equipamento que falta para que as pessoas não façam deslocações de 300 quilómetros», assegurou o administrador da ULS Algarve.
«O HCA terá também ele uma PET e, quando for uma realidade, já será necessário um segundo equipamento deste tipo na região», acrescentou, Tiago Botelho afiançando que a futura unidade de saúde irá contemplar uma resposta integrada e completa na área da oncologia.
Quanto às relações da ULS com o ABC e com a Universidade do Algarve, que no passado não «eram as melhores», são hoje boas, com as três entidades «a trabalhar de mãos dadas».

Pedro Castelo Branco, presidente do ABC, garantiu, por seu lado, que a instituição que dirige tem capacidade para garantir o funcionamento desta nova unidade.
«O ABC já foi solução quando foi necessária uma resposta forte e rápida [no âmbito da pandemia de Covid-19] e está disposto a fazê-lo novamente», disse.
Com a instalação do equipamento de PET, a Câmara de Loulé e a ULS acabam por mitigar as consequências da inviabilização do projeto do CORS, que a ULS deixou cair após a autarquia louletana se ter recusado a sequer analisar o projeto, por este não se coadunar com o uso do terreno que a Associação de Municípios Loulé/Faro, que gere o Parque das Cidades, disponibilizou para esse efeito específico.
Por outro lado, também foi apontado que o projeto tinha um volume de construção superior ao terreno em causa.
Após esta rejeição, Tiago Botelho admitiu ter recomendado à ministra da Saúde que juntasse este processo ao do Hospital Central do Algarve, uma das bandeiras do Governo, que está em gestão.
Obrigado por fazer parte desta missão!