Na história do Turismo, as deslocações para participar e assistir aos Jogos Olímpicos, na Grécia Antiga, são consideradas as primeiras manifestações turísticas.
Mais tarde, no Império Romano, os patrícios ricos deslocam-se para zonas costeiras em lazer, desfrutam da cultura grega, visitando espaços onde vão ser guiados pelos cicerones, no que podemos considerar os primeiros Guias.
Desde aí, houve muitas alterações e a profissão evoluiu ao longo do tempo para, nos últimos anos, ter perdido parte do seu fascínio e estatuto.
No despontar do século XX, com gente a viajar, a querer conhecer novos sítios e realidades, os guias de turismo inserem-se nas profissões que vão sendo regulamentadas.
Logo em 1912 surgem, em Portugal, as primeiras leis que definem quem são e o que fazem os guias.
Sucessivas atualizações mostram a crescente importância da atividade de informação turística. Numa lei de 1924, o exercício da profissão de Guia sem a respetiva licença ameaçava com pena de prisão os prevaricadores.
Em 1936, surge o Sindicato dos Guias, Intérpretes e Guias-Intérpretes, na senda dos sindicatos corporativistas do Estado Novo, que ainda hoje existe, embora com bastantes alterações.
Após o 25 de Abril e ao abrigo do novo desenvolvimento económico do país, em 1979, o Decreto-Lei 519-F vem definir as profissões de informação turística e, sucessivamente, outros despachos governamentais explanam as condições de acesso a estas profissões e a forma como devem ser exercidas.
Estes profissionais têm de provar a sua capacidade logo no acesso à formação e, mais tarde, comprovar a sua aprendizagem num exame final para obtenção de carteira profissional.
Com esta regulamentação e normas, Portugal produziu profissionais altamente qualificados, reconhecidos internacionalmente pelas suas capacidades.
Na sequência de (má) transposição de diretivas europeias, desregulamentou-se, acabou-se com as carteiras profissionais, abriu-se o mercado da informação turística a todos os que dizem duas palavras numa língua estrangeira e sabem mais estórias do que História. Como se ser Guia-Intérprete fosse só isso!
Até é estranho que, na época da formação e qualificação, um sector que era preparado, qualificado, habilitado caiu como um castelo de cartas, deixando o mercado à mercê de uma anarquia onde cada um faz o que quer.
A desregulamentação traz uma série de questões que em nada prestigiam e beneficiam o país.
Proliferam empresas e particulares que oferecem “free tours” ou seja, visitas grátis a várias cidades. Convém que nos lembremos, que nada é gratuito. Os turistas vão sendo “informados” durante a visita que se espera que, no fim, paguem o que achem justo, sob a forma de uma gratificação que, obviamente, não é sujeita a impostos.
Empresas de transferes de repente, estão a fazer excursões, pagamentos sem recibos, evasão fiscal, todo um incentivo à economia paralela. E, a longo prazo, reflexos negativos no PIB.
Entre as desvantagens da não regulamentação podemos mencionar a baixa da qualidade dos serviços prestados que vão também impactar, negativamente, a imagem do país, a má imagem dos profissionais, a falta de formação adequada, a falta de ética, o assédio aos turistas, concorrência desleal para com aqueles que atuam dentro da Lei Geral da República.
Os profissionais certificados de informação turística, os Guias-Intérpretes em particular, são embaixadores culturais do país pela sua ação junto de quem nos visita.
Pelo conhecimento que a formação lhes trouxe, são o garante da qualidade do serviço, são mediadores culturais atuando entre quem visita e quem é visitado, impactando cultural e economicamente os espaços por onde se movimentam.
Devido a estas circunstâncias, esta atividade deveria ser considerada de interesse nacional. Se quem aprendeu a conduzir de forma autónoma não tem a carta de condução sem passar pela respetiva aprendizagem e exames, ou quem aprendeu, autodidaticamente, a fazer curativos e dar injeções não é enfermeiro, porque é que quem não tem formação específica há-de poder trabalhar como Guia-Intérprete?
É interessante que, países nossos concorrentes, como a Espanha, a França, a Itália ou a Grécia, já se aperceberam do erro de não regular e certificar esta profissão. Interpretaram as diretivas de 2005 e 2006 por forma a proteger os profissionais e a economia.
Cidades como Barcelona ou Florença proibiram os tais free tours porque se aperceberam dos danos económicos e culturais que estes potenciam.
E Portugal?
Preocupa-nos o futuro. A não aposta na certificação, após a exigida formação, vai deixar o país sem profissionais competentes, capazes de potenciar o muito temos para mostrar, o que faz de nós únicos, e também por isso, dignos de visita.
Obrigado por fazer parte desta missão!
Bravo 👏👏👏