Os alunos da Escola Superior de Saúde da Universidade do Algarve (ESSUAlg) – que leciona os cursos de Ciências Biomédicas Laboratoriais, Dietética e Nutrição, Enfermagem, Farmácia, Imagem Médica e Radioterapia, Fisioterapia e Terapia da Fala – consideram «fundamental» a construção de um novo edifício e queixam-se da falta de condições nas atuais instalações, no Campus de Gambelas, em Faro.
A situação tornou-se pública no passado dia 26 de Fevereiro, quando cerca de duas dezenas de estudantes (de diferentes cursos e anos) se reuniram entre a Faculdade de Ciências e Tecnologia, onde têm aulas, e a Faculdade de Medicina, para, numa tribuna pública, expor a necessidade «urgente» de um novo edifício e «as várias dificuldades que enfrentam no dia a dia académico».
A tribuna foi convocada por alunos ligados à Juventude Comunista Portuguesa (JCP), mas a ela juntaram-se estudantes sem qualquer filiação partidária ou mesmo apoiantes de outros partidos.
«Acho que não interessa de que partido somos, aqui a causa é importante para todos», salientou em declarações ao Sul Informação Vanessa Machado, aluna do terceiro ano do curso de Ciências Biomédicas Laboratoriais.
Prova disso é o facto de o abaixo-assinado que está a circular – “Construção de um novo edifício para a Escola Superior de Saúde da Universidade do Algarve”, no qual os estudantes apoiam a proposta do PCP no âmbito do Orçamento de Estado de 2025 – reunir, à data, «mais de 290 assinaturas», de acordo com os responsáveis pela sua elaboração.
«A construção de um novo edifício para esta escola é fundamental para garantir aos seus estudantes as condições necessárias para se formarem numa área tão necessária ao país. A não existência de um edifício próprio para a Faculdade de Saúde da Universidade do Algarve limita a estes cursos a capacidade de realizarem atividades práticas, nomeadamente devido à insuficiência de laboratórios adequados. Tal situação é colmatada muitas vezes através da utilização dos laboratórios da Faculdade de Ciências e Tecnologias, que não estão capacitados para darem resposta às necessidades concretas daquela área disciplinar», lê-se no documento ao qual o Sul Informação teve acesso.
Júlio Calaça, aluno o primeiro ano do curso de Ciências Biomédicas Laboratoriais, foi um dos grandes impulsionadores desta iniciativa e espera que «as reinvindicações dos alunos levem à construção do novo edifício».

Natural de Lisboa, quis vir estudar para o Algarve para «ter melhor qualidade de vida», mas assume que não esperava encontrar um curso com estas condições.
«No meu caso, continuava a escolher a Universidade do Algarve, porque queria mesmo vir para cá, mas claro que para outros alunos pode ser um entrave. Se há universidades com condições melhores, a escolha pode ter isso em consideração», salienta.
Em Maio do ano passado, a ESSUAlg orgulhava-se de ter inaugurado um novo laboratório de enfermagem, um consultório clínico e dois laboratórios de imagiologia, investimentos que pretendem «melhorar as práticas pedagógicas no ensino e oferecer uma preparação adequada à realidade do contexto clínico», mas que não parecem suficientes para os alunos de todos os cursos.
«Desde que eu cá estou, sempre se falou da necessidade de um edifício para a Escola Superior de Saúde. Termos aulas em edifícios diferentes não é nada agradável. Acabamos por ter de andar sempre de um lado para o outro e, no Inverno, à chuva, ainda menos confortável é. Além disso, os laboratórios são muito reduzidos para a quantidade de alunos que temos. Chegamos a ser 15 numa sala, andamos todos encavalitados, nem conseguimos fazer bem a aula», queixa-se Vanessa Machado.
Já no terceiro ano, a aluna sabe que, a existir um edifício novo, não virá a usufruir dele, mas gostava de o ver nascer.
«Sabemos que um projeto de um edifício demora tempo a ser feito e vai custar vários milhões de euros e que esses milhões não se arranjam de um dia para o outro, mas os estudantes gostavam que pelo menos o projeto saísse e que nos dessem uma data para que possamos acreditar que ele vai existir», diz, dando como exemplo o de artes, que já está a ser feito.
Isabela Lima, estudante do terceiro ano de Farmácia, partilha da mesma opinião. «Eu queria muito melhores condições, sei que já não vou ter, mas isto teve impacto na minha formação e espero que a dos meus futuros colegas seja melhor».

A aluna queixa-se ainda da disparidade de tratamento quando comparada com o curso de medicina.
«Temos todo um edifício novo para medicina, ao qual não temos acesso, e parece que a importância vai sempre para a medicina, mas a verdade é que eles não conseguem fazer um bom trabalho sem os outros técnicos de saúde, por isso nós também precisamos de condições», salienta a estudante.
Contactada pelo Sul Informação, fonte do gabinete de comunicação da reitoria afirma não ter conhecimento oficial das queixas apresentadas pelos alunos nem do abaixo-assinado e, por isso, não quis tecer qualquer comentário.
O nosso jornal tentou ainda falar com a direção da Escola Superior de Saúde, mas até à publicação deste artigo não obteve resposta.
A Escola Superior de Saúde da Universidade do Algarve, que antes funcionava num edifício à entrada de Faro, em frente à prisão, (onde brevemente deverá abrir a diretoria do Sul da Polícia Judiciária), mudou-se para o Campus de Gambelas no ano letivo de 2018/2019.
Numa entrevista dada ao Sul Informação e à Rádio Universitária do Algarve, em Julho de 2018, Paulo Águas, reitor da UAlg, havia explicado que já não havia «capacidade para ter a ESS toda no Campus de Saúde», daí a necessidade de mudar de instalações para Gambelas.
Esta foi uma mudança que, desde o primeiro momento, gerou contestação por parte dos alunos e da própria Associação de Estudantes, que na altura tinha como presidente Pedro Ornelas.
A AAUAlg defendia, então, que, caso a ESS continuasse no antigo edifício, «seriam necessárias obras de reestruturação, por não haver condições básicas para os alunos estudarem ou terem aulas no período letivo». Já à mudança para Gambelas apontavam outros problemas como, «a escassez de estacionamento», «acessos e trânsito condicionado», «distanciamento do centro da cidade de Faro e custos inerentes», entre outros.
Sete anos depois, as queixas não são exatamente as mesmas, mas parecem permanecer.
Obrigado por fazer parte desta missão!