O PAN – Pessoas Animais Natureza de Olhão considera que o processo de venda da antiga fábrica BelaOlhão à empresa Carvoeiro Branco, oficializado na passada semana, «é o culminar de um processo marcado por sucessivas mudanças de argumento, contradições e falta de transparência» e foi um «negócio feito à medida dos interesses privados».
Numa nota enviada às redações, Alexandre Pereira, membro da Assembleia Municipal de Olhão eleito por este partido lembra que, em 2018, foi apresentado a este órgão autárquico uma «proposta de aluguer e posterior compra da Bela Olhão».
«A justificação apresentada pelo presidente da Câmara na altura foi clara e bem definida: a transferência dos serviços municipais, centralizando-os num único local, dos estaleiros da Ambiolhão e até do canil/gatil para aquele espaço», recordou.
Foi isso mesmo que foi anunciado pelo executivo, no dia da Cidade, em 2019.
Mas, como o Sul Informação deu conta na altura, um ano depois a Câmara decidiu vender a antiga fábrica, para que no seu lugar fosse erguido um empreendimento turístico, decisão que foi contestada e questionada pela oposição.
Já depois da revisão do Plano de Pormenor desta zona, para alterar o uso do solo, o imóvel foi vendido uma hasta pública, por 9,5 milhões de euros.
Recentemente, e depois de um impasse, a empresa Carvoeiro Branco comprou o direito de construção ao fundo que venceu essa hasta pública, o que permitiu a concretização da venda.
«Desta vez, batem palmas porque foi um tremendo negócio com lucro para a câmara municipal e uma mais-valia para a cidade. Ora, que eu saiba, nem a Câmara Municipal é uma agência imobiliária, nem os olhanenses ganham nada com esta pressão e especulação imobiliária. Muito pelo contrário: cada vez está mais difícil ter uma habitação digna e acessível em Olhão», defendeu Alexandre Pereira.
«Por outro lado, enquanto se vende património público, a autarquia continua a pagar milhares de euros no arrendamento de lojas e armazéns para serviços municipais. Afinal, nada mudou e o negócio foi bom apenas para alguns… poucos…», acusou Alexandre Pereira.
O PAN defende que todo o processo «foi sendo ajustado e reconfigurado sempre que necessário, até que se tornasse possível concretizar a negociata. As explicações dadas ao longo dos anos foram meros obstáculos a ultrapassar, justificações criadas para que o desfecho final fosse aceite sem grande contestação».
O mesmo partido alegou que a venda da BelaOlhão se insere «num padrão mais vasto de pressão imobiliária descontrolada sobre a zona ribeirinha de Olhão, uma área que já foi identificada como zona de risco de inundação devido às alterações climáticas e à subida do nível do mar».
«Em vez de se apostar numa estratégia sustentável e responsável para proteger o território e preparar a cidade para os desafios do futuro, continua-se a entregar terrenos e edifícios estratégicos ao setor imobiliário, privilegiando a construção de luxo, que não responde às necessidades reais da população», disse Alexandre Pereira.
«Este modelo de urbanismo ignora os riscos ambientais e sociais, ao mesmo tempo que expulsa tanto a classe média como as famílias com menos recursos para fora de Olhão, aquela que sempre foi a sua terra, a sua identidade local e o seu património natural e cultural. Com os preços da habitação a disparar, muitos olhanenses são forçados a procurar alternativas em municípios vizinhos como Faro, Tavira e São Brás de Alportel, onde o custo de vida ainda permite alguma estabilidade. E mais, muito mais estará para vir, se não alterarmos e já este caminho», avisou.