“O limite é a criatividade”, diz Eugénia Duarte, de 60 anos, artesã na Casa da Empreita, localizada no centro histórico de Loulé.
Faz as suas peças com a folha de palma, oriunda da palmeira-anã, típica do Barrocal algarvio, que dá origem à variedade verde, e a palma de Espanha tratada a enxofre, de que resulta a palma branca. Ambas as variedades são compradas pelo projeto Loulé Criativo, para serem utilizadas pelos seus artesãos.
Dona Eugénia, acompanhada por Dona Florinda, ocupa as sextas-feiras na Casa da Empreita, situada numa rua do centro histórico de Loulé, na conversa e muito empenho nos seus trabalhos.
Eugénia Duarte acredita no valor dos trabalhos que faz e viu fazer, dizendo ter ainda algumas peças com mais de 40 anos, feitas pela mãe.
Começou muito nova, com cerca de 9 anos, a interagir com este mundo do artesanato em palma, a fazer bracinha, um tipo de trança feita das sobras do corte das folhas de palma, mas nunca demonstrou muito interesse.
Esteve emigrada nos Estados Unidos durante 15 anos, o que dificultou a sua ligação à arte. Quando voltou para o Algarve, trabalhou, até à sua reforma, na Caixa Geral de Depósitos. Ou seja: nunca teve muito contacto com a empreita de palma ao longo da sua vida adulta.
Foi depois de uma situação de saúde da mãe, que a incapacitou, que Dona Eugénia constatou que nunca mais iria ter essa que considerava “a pessoa correta” para lhe ensinar mais sobre a arte de fazer empreita.
Mas não desistiu. Há cinco anos, inscreveu-se numa formação, muito popular, do Loulé Criativo. “O bichinho estava lá dentro”, recorda, pelo que só foi necessário um pequeno empurrão para soltar toda aquela criatividade e talento.

O processo de fazer uma boa peça começa pela compra da matéria-prima, que tem que estar em ótimas condições. Depois é preciso também fazer a divisão correta das folhas de palma, pois, se não tiverem todas o mesmo tamanho, o projeto não vai sair como desejado e a trança vai ter tamanhos diferentes, logo não vai ficar homogénea.
Segundo Dona Eugénia, a parte mais complicada de um projeto é escolher a peça que se quer fazer e como fazê-la, pois há tantas formas de entrelaçar palma que a imaginação até voa.
Quando está a fazer as suas peças, Eugénia Duarte diz que a invade uma sensação de relaxamento, o que a ajuda a criar trabalhos em pouco tempo.
É, confessa, uma “sensação desconhecida”, pois tirou o curso de Gestão, uma área que nada tem a ver com o artesanato tradicional e a criatividade.
“A minha vida nunca foi esta área, mas eu vejo na palma um anti-stress, uma calma, um entusiasmo, um bem-estar”, explica.
Dona Eugénia aconselha quem queira começar esta arte de tecer palma a experimentar, sendo apenas necessário o gosto pelo que se faz.
”As ideias vêm por acréscimo”, sendo, porém, imprescindível saber os básicos da arte para poder dar asas à imaginação.

Com tantas possibilidades de tecer, dona Eugénia acredita que há uma peça em palma para cada pessoa, tal como cada uma vai sempre encontrar o seu caminho, A artesã acredita até que uma pessoa se pode ver a si mesma numa peça em palma.
Dona Eugénia e Dona Florinda não são as únicas ocupantes da Casa da Empreita, já que, nos restantes dias da semana, outras senhoras lá estão a trabalhar e a receber os visitantes e compradores das suas peças em exposição.
Como esta é uma arte em que se pode dar asas à imaginação, muitas destas artesãs não se limitam apenas ao uso da folha de palma nos seus trabalhos e acabam por fazer peças únicas. Esta arte pode evoluir, dependendo da personalidade e criatividade de cada artesão.
O melhor exemplo é uma senhora com 80 anos que faz as suas peças com a folha de palma, mas conjuga esse material com o seu conhecimento de crochê e cortiça, fazendo as suas peças terem um traço típico da sua maneira de ser e da personalidade.
Uma senhora mais nova gosta de adicionar flores artificiais aos seus trabalhos, o que dá um toque mais jovem e floral à empreita de palma.

Promovido pela Câmara Municipal, o projeto “Loulé Criativo” é uma iniciativa que aposta na valorização da identidade deste território situado no Algarve, tendo como força motriz a criatividade e a inovação.
Apoia a formação e atividade de artesãos e profissionais do setor criativo, contribuindo para a revitalização das artes tradicionais e para dinamização de novas abordagens ao património imaterial.
O projeto pretende prestar um conjunto de serviços, aos residentes e visitantes, que proporcionem uma adequada e atualizada formação nas artes e ofícios tradicionais; a indução contínua da inovação nos produtos e processos de trabalho dos profissionais; condições para a investigação nas artes e ofícios e temas relacionados; o apoio à instalação e negócio de artesãos e profissionais do sector criativo ajustado às suas necessidades; um programa de residências artísticas e criativas que seja mobilizador da massa crítica internacional; uma oferta dinâmica e atrativa de experiências criativas que coloquem os turistas em contacto com os aspetos singulares da identidade e património regional baseadas na filosofia do “do it yourself” e ainda uma programação cultural que promova eventos relacionados com o tema da criatividade, do património, das artes e dos ofícios.
Dona Eugénia e Dona Florinda são o exemplo perfeito da execução bem-sucedida dos ideais do Loulé Criativo e contam a suas histórias com muito orgulho. E irá continuar a dar apoio a quem tem “o bichinho” da criatividade.
Texto e fotos de Luana Dias, produzidos no âmbito do curso de Fotografia Profissional 23|25 da ETIC_Algarve – Escola de Tecnologias, Inovação e Criação do Algarve

Foto: Luana Dias | Sul Informação

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