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Sul Informação - Trump ou a distopia da realidade

Trump ou a distopia da realidade

Uma crónica literária costuma partir de situações do presente, de algo que nos incomoda, perturba, diverte ou, simplesmente, um ar do tempo, ainda que possa incluir alusões ao passado ou ao futuro.

Existe uma certa efemeridade inerente a este género literário. Mas quando se trata de abordar a temática da eleição de Donald Trump, o 47.º presidente dos Estados Unidos, essa caducidade é ainda mais premente. As novidades, o espanto e as surpresas são quase diárias.

Porque decidi escrever sobre esta pessoa e esta temática em particular? Enquanto romancista em formação, interessa-me olhar o mundo em busca de inspiração, quer nos acontecimentos atuais e passados, quer em figuras reais, que poderão um dia, quem sabe, servir de inspiração para uma personagem fictícia.

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Interessam-me pessoas que fujam da norma, da banalidade, que tenham traços físicos, psicológicos, que as destaquem dos comuns mortais; que possam transformar-se em potenciais heróis, heroínas, vilões, vilãs. São essas as personalidades mais interessantes. Definitivamente, pessoas com estas características nunca alimentarão personagens planas.

O papel do escritor — dependendo da história que tem para contar —, poderá misturar elementos reais de uma pessoa, uma pitada de outra, e mais outra, e assim construir o seu protagonista ou vilão.

Donald Trump preenche várias exigências, ao natural, sem necessidade de misturas. Ou melhor, Trump ultrapassa os requisitos para servir de base para uma personagem fictícia, porque se o fosse, teríamos um grave problema de verosimilhança: ninguém acreditaria que um presidente dos Estados Unidos pudesse assumir determinados comportamentos, atitudes, expressões que esta personagem real assume no mundo real.

Estamos perante um caso sério, preocupante, diria mesmo, em que a realidade ultrapassa a ficção.

Ora, vejamos, e falarei de factos.

Na segunda-feira, logo no seu primeiro dia como Presidente, Donald Trump declarou emergência nacional na fronteira entre os Estados Unidos e o México. Primeiro alarme ativado.

De marcador preto na mão, daqueles bem grossos com que as crianças gostam de preencher as folhas com gatafunhos, assinou, no segundo dia, do seu mandato, vários decretos:

— A retirada dos Estados Unidos da Organização Mundial de Saúde.

— A retirada dos Estados Unidos do Acordo de Paris.

— Assinou um decreto em que obriga à alteração da denominação do Golfo do México para Golfo da América nos documentos oficiais.

—A mudança de nome do Monte Denali, no Alaska, para Monte McKinley. O nome desta montanha, o pico mais alto da América do Norte, tinha sido alterado por Barack Obama para refletir o nome dado pelas tribos nativas a esta montanha.

— Detenção imediata de todos os imigrantes ilegais capturados pelas autoridades, para serem deportados

— Reconhecimento de apenas dois géneros – o feminino e o masculino – e o corte de financiamento a todos os programas federais que visavam a diversidade em igualdade e inclusão.

— Demitiu a primeira mulher a chefiar um ramo do exército dos Estados Unidos.

Além de renomear o Golfo do México como «Golfo da América», quer o Canal do Panamá de regresso ao controlo norte-americano.

Entre as assinaturas dos vários decretos (onde demonstrou que tem sérias questões com denominações, associadas a fortes sentimentos de posse), os comentários tecidos por Donald Trump também não seriam falas críveis em qualquer diálogo ficcional a atribuir a um presidente dos Estados Unidos, naquele momento solene.

Entre piadas de mau gosto e um desfilar de enxovalhos a outras nações, assistiu-se a péssimos momentos de humor. Mais um presidente que daria um péssimo ator ou comediante.

«A idade de ouro dos Estados Unidos da América começa agora. Vamos ser a inveja de toda a gente e não vamos permitir mais que se aproveitem de nós. A nossa soberania vai ser reposta»: eis mais um discurso, nada verosímil para um chefe de Estado.

Afiguram-se momentos em que não saberemos se vivemos na realidade ou numa qualquer distopia mal engendrada repleta de incongruências, inverosimilhanças e falta de concatenação, tantos são os momentos exasperantes proporcionados pelo presidente dos Estados Unidos e a sua entourage, na qual Elon Musk é a principal estrela.

E não saímos ainda do primeiro ato. A minha faceta de escritora delira com este frenesim diário de material criativo. O meu lado humanista está terrivelmente assustado.

 

 

Autora: Analita Alves dos Santos é autora e mentora literária

 

 

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