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Parises não fica “no caminho” para quase lado nenhum e por isso é pouco comum que por lá passem pessoas que não são da terra ou de outras aldeias vizinhas. Essa é, contudo, uma realidade que se alterou um pouco, não só com a criação da Via Algarviana, como com a inauguração da Casa da Serra e, mais recentemente, com a iniciativa Aldeia de Natal Verde.

Nesta aldeia da Serra do Caldeirão, pertencente ao concelho de São Brás de Alportel, vivem 21 pessoas: a mais nova (e única criança) tem 11 anos, a mais velha 93.

O dia a dia de quem vive em Parises é, quase sempre, calmo e, para alguns, solitário, mas quando chega o Natal tudo muda, desde há um ano para cá.

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«A ideia de criar esta Aldeia de Natal foi revitalizar Parises, não só a pensar em quem cá vive, mas também para que quem cá vem goste e conheça as tradições. O que aqui está representado é a realidade de como as coisas se faziam antigamente e também um pouco das expressões que eram usadas e que fazem com que os próprios visitantes interajam com os locais, perguntando o que significam coisas como “tem avondo” ou “dar de vaia”. Aqui, as pessoas ainda usam estas expressões, mas já não é muito comum ouvi-las. A ideia é que quem visita Parises durante este mês veja que há aqui uma história e tradições muito características da Serra do Caldeirão e que já não se veem lá em baixo», começa por explicar, ao Sul Informação, Sónia Martins, técnica de turismo do Município de São Brás de Alportel.

O entusiasmo de Sónia sente-se em cada palavra, não fosse ela a grande impulsionadora de todo este trabalho, e vai crescendo à medida que mostra os detalhes de cada cenário natalício.

Nesta Aldeia de Natal, não há senhores barrigudos de barba branca vestidos de vermelho, pistas de gelo, duendes, nem estruturas feitas de plástico. Aqui, tudo é pensado ao pormenor e colocado em cada sítio por um motivo.

Ainda antes de chegarmos à zona habitada, deparamo-nos com um enorme coração onde se pode ler “Natal na Serra de São Brás”. Mais à frente, há uma parede onde estão representadas todas as aldeias do concelho e ainda, junto ao presépio, uma chamada de atenção para os 14 “sítios” de Parises.

É que esta aldeia, apesar de muito pequena e sem designação de ruas, tem um nome em cada canto: Leixenal, Madruga ou Marco Viegas são apenas alguns exemplos.

Já na zona das casas, há uma instalação com “os chapéus da nossa aldeia”, uma recriação da “cozinha do antigamente” e ainda a “oficina de Natal”.

 

Sul Informação
Foto: Mariana Carriço | Sul Informação

 

«É aqui, nesta oficina, que trabalhamos juntamente com os locais, que nos ajudam em muitos dos trabalhos manuais, como as estrelas que aqui vemos penduradas, as coroas que são postas nas portas, tudo isso», diz Sónia Martins, acrescentando que este ano a participação e envolvimento já foi bem maior do que no Natal passado.

«Isto é como tudo, qualquer projeto leva o seu tempo a garantir o apoio. No ano passado, eu tentei ao máximo passar a ideia e motivá-los, mas estamos a falar de pessoas que estão habituadas a uma vida sedentária e muito em casa. Começaram a vir, mas diziam muitas vezes: “já não chega? Já temos muitas coisas”. Este ano isso já não aconteceu e elas já vinham e estavam sempre a perguntar o que era preciso», assume a técnica de turismo, que agora, durante este mês, passa em Parises grande parte do seu horário de trabalho, mas que, no resto do ano, também cá vem todas as quintas-feiras, para visitas guiadas à Casa da Serra.

Nesta Casa, inaugurada em Janeiro de 2023, funcionava há muitos anos uma venda. Agora, quem por lá passa pode ficar a conhecer a vida que a aldeia já teve e as várias atividades importantes para a economia local. Há também a recriação, em tamanho real, de uma mesa que «mostra o bem receber da Serra, onde há sempre um presunto ou queijinho para quem bate à porta».

É inclusive nesta mesa que Sónia Martins e Isabel Rodrigues (funcionária a tempo inteiro na Casa da Serra) se sentam muitas vezes com as habitantes mais idosas, que lhes passam os saberes e costumes, para que não desapareçam com o tempo.

 

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Sónia Martins – Foto: Mariana Carriço | Sul Informação

 

Isabel Rodrigues vive em Parises há 35 anos. Nasceu em Faro, mas mudou-se para a serra algarvia depois de casar.

Hoje, «não troca esta vida por nada», garante.

«O meu trabalho é ali na Casa da Serra, onde todos os dias tenho coisas para fazer. Quando é altura das flores começarem a romper, eu faço arranjos para receber os visitantes, tenho sempre chá e bolos. Depois, tenho também a companhia das pessoas da aldeia que vão lá ter comigo, acendemos a lareira e é bom para elas porque ficamos ali a falar», conta Isabel Rodrigues ao Sul Informação.

Na sua opinião, o principal problema de Parises é que «as pessoas vão morrendo, as casas vão deixando de estar habitadas e o número de pessoas é cada vez menor», por isso, torna-se ainda mais importante haver na aldeia «atividades que chamem gente».

«Temos tido até já várias pessoas a perguntar se há casas à venda porque gostavam de vir para cá morar, mas o problema é também que as pessoas não querem vender, e isso seria bom para termos aqui gente mais nova, crianças e as coisas voltarem a ser como eram antigamente», considera.

«Nestes dias, temos aqui muitas crianças das escolas e é uma alegria para as pessoas. Ainda no outro dia uma senhora que mora ali em baixo me dizia que tinha pena que daqui a uns dias, quando passar o Natal, as pessoas vão-se embora e volta tudo ao mesmo. As pessoas gostam deste dinamismo».

Quem também o confirma é António Rodrigues e Manuel Martins, o último, ao mesmo tempo que se queixa que «os donos disto tudo» tenham «desprezado» aldeias como esta durante tanto tempo.

 

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Foto: Mariana Carriço | Sul Informação

 

«Eu acho muito bem o que estão aqui a fazer agora e penso que este ano ainda está melhor do que no ano passado. Mesmo sem isso eu recebo sempre bem as pessoas que cá vêm e, com isto, ainda mais», afirma o idoso de 87 anos.

António, de 65, já está reformado, e considera que «num lugar desabitado como este, estas festas são sempre importantes». «Eu tenho ajudado sempre que posso e isto é uma alegria para todos nós», realça.

Naquela quarta-feira, estes foram os únicos dois habitantes com quem nos cruzámos em Parises, além de Isabel. A aldeia estava mais deserta do que o habitual porque aquele é o dia da semana em que um autocarro da Câmara de São Brás de Alportel passa por todas as zonas da serra que pertencem ao concelho para levar, quem quiser, ao médico, mercado, ou simplesmente a passear.

«O Município tem feito um grande trabalho nesse sentido, para que a serra não esteja isolada. Além deste autocarro, há também outras iniciativas que trazem profissionais de saúde, desporto e educação cá e isso é muito bom para estes idosos», explica Sónia Martins.

A conversa já ia longa e o dever chamava. Esta quarta-feira, 11 de Dezembro, afinavam-se os últimos pormenores para o mercadinho, que vai ser um dos pontos altos das atividades do fim de semana, mas há muito mais.

No sábado, 14 de Dezembro, o programa começa às 10h30 com o acender do Fogo da Aldeia e a abertura do Mercadinho da Aldeia, na Casa da Serra.

 

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Foto: Mariana Carriço | Sul Informação

 

Durante a manhã, será possível aprender a fazer o tradicional jantar de feijão no forno a lenha na Oficina de Sabores, fruto da colaboração da Confraria da Serra do Caldeirão, enquanto na Oficina de Natal se cria um ratinho com pinhas.

A D. Serafina ensina como fritar filhós lêvedas, antes dos vários momentos culturais e musicais que prometem animar a aldeia na parte da tarde.

No final do dia, será possível degustar o café de chocolateira e o chocolate quente, ambos feitos no fogo a lenha. Às 18h30, terá lugar o Jantar Comunitário, uma oportunidade para partilhar sabores e convivência, também numa colaboração da Confraria Gastronómica da Serra do Caldeirão.

No domingo, 15 de dezembro, o Fogo da Aldeia é novamente aceso às 10h30, marcando também a reabertura do Mercadinho.

Na parte da manhã, a Oficina de Natal ensinará a construir uma Estrela de Natal com canas da ribeira, atividade integrada no programa Aldeias de Portugal.

O almoço, às 13h00, será uma açorda à moda da serra, confecionada com mais de 50 ovos.

À tarde, os participantes são convidados a fazer de biscoitos fritos e fatias douradas na Oficina de Sabores, enquanto a animação continua com a apresentação do Coro Infantil de São Brás de Alportel, na Capela de Parises, e com danças tradicionais a cargo do Rancho Típico Sambrasense.

Parises integra ainda a Rota dos Presépios de São Brás de Alportel, com um presépio tradicional algarvio patente na Capela da aldeia, um presépio de pedra, instalado na paragem de autocarro, e outro presépio tradicional no Centro de Convívio de Parises, todos disponíveis para visita até 6 de Janeiro.

Sónia Martins diz que é difícil estimar quantas pessoas passam pela aldeia durante este mês, mas só no fim de semana com mais atividades (ou seja, este que vem) são esperadas «várias centenas».

«Este número, para outros locais, pode parecer pequeno, mas, para a nossa serra, onde tem de valer a pena vir, é um sucesso e espero que sejam cada vez mais os que nos visitam», remata.

A quem visita Parises, o que os habitantes desejam é que “Volte e vá dando d’ vaia”.

 

Fotos: Mariana Carriço | Sul Informação

 

 

 

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