São 388 páginas de um plano que «não é disruptivo», mas que quer uma aposta ainda maior em áreas como o turismo de natureza, gastronomia e vinhos, casamentos ou cruzeiros. O Plano de Marketing Estratégico do Turismo do Algarve até 2028 foi apresentado há duas semanas e, mesmo não tendo grandes novidades, quer ser um «documento orientador» para toda a região.
Este plano é, no fundo, um guião; como o próprio presidente da Região de Turismo admitiu, o seu objetivo passa por «delinear e identificar eixos de atividade que vão além da esfera organizacional das entidades de turismo».
De resto, comparando este plano com o último (2020-2023), as diferenças que se encontram são escassas. A hierarquização dos mercados permanece quase intacta: se, no atual plano, aparecem países como Alemanha, Espanha, Irlanda, Países Baixos, Portugal e Reino Unido, no anterior, a única diferença é que também aparecia a França.
O país gaulês, no atual plano, está, aliás, no lote dos “Mercados em crescimento”, ao lado de outras nações como Bélgica, Canadá, Brasil, Estados Unidos da América, Suécia e Suíça.
Neste ponto, o anterior plano tinha, no seguimento dos “Mercados de aposta”, essencialmente os mesmos países, apenas com adições como Itália e Dinamarca, que passaram, agora, para o lote dos “Mercados de diversificação”.
E não é só nos mercados que se mantêm as semelhanças entre os dois planos.
No que toca à hierarquização das áreas, também são muitas. Como seria de esperar, produtos como o sol e mar, o turismo residencial e o golfe aparecem, em ambos os planos, como áreas consolidadas ou principais motivos de visita.
Ainda assim, há ligeiras diferenças em outros seguimentos: a gastronomia e os vinhos apareciam antes como motivos secundários de visita (2020-2023), enquanto no atual plano surgem como áreas a apostar, a par de outras como o turismo náutico, os casamentos e o turismo cultural.

Neste ponto, em declarações ao Sul Informação, João Soares, dirigente regional da Associação da Hotelaria de Portugal, lamentou o facto de uma área como o surf não aparecer.
Ainda assim, na visão deste hoteleiro, este atual plano é «um bom documento» e que «aponta para onde o Algarve deve ir».
«No fundo, indica caminhos e vai ao encontro das expetativas. Os produtos em desenvolvimento eram aqueles de que já se falava essencialmente e não esquece áreas fulcrais, como o tradicional sol e praia», acrescentou.
Também ouvido pelo Sul Informação, Hélder Martins, presidente da AHETA – Associação de Hotéis e Empreendimentos Turísticos do Algarve, concorda que este é um bom plano, até porque «quer uma região mais desenvolvida, o que é de louvar».
«Eu fui ouvido [para a elaboração do Plano] e louvo que tenha sido feito com a prata da casa. Só deixei o alerta de que é preciso algo mais para a promoção no mercado interno (Portugal e Espanha)», disse.

Quanto a André Gomes, presidente da RTA, explicou que, acima de tudo, este plano vem «no seguimento de toda uma estratégia que vem do passado».
Ainda assim, são definidas novas metas, por exemplo a nível do indicador de dormidas, dos proveitos ou das voltas de golfe.
«A mensagem que quero deixar é que, acima de tudo, o caminho foi positivo. Os planos de ação para os próximos cinco anos têm como visão consolidar o Algarve como um destino sustentável, reconhecido, capaz de proporcionar experiências ao longo de todo o ano e com foco na sustentabilidade do território, do património cultural e o envolvimento das nossas comunidades residentes e impactos», concluiu.
Ainda assim, há quem gostasse de ver precisamente as áreas da sustentabilidade – e do interior – mais trabalhadas neste plano. É o caso de João Ministro, da empresa Proactive Tour, e que se dedica há anos a trazer turistas ao Algarve para caminhar.

Ouvido pelo nosso jornal, João Ministro considerou que este novo plano «está muito completo» na parte do «diagnóstico e reflexão», mas peca em ter ações «mais pragmáticas».
Uma das críticas é mesmo a ausência de «qualquer referência à Via Algarviana, um projeto que tem ajudado a combater o overtourism e que tem desenvolvido o interior».
«A Região de Turismo fala, por exemplo, no Geoparque Algarvensis, mas não da Via Algarviana que merecia», concluiu.