As exportações internacionais de bens feitas a partir do Algarve alcançaram quase 293 milhões de euros em 2023, indica a Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional, no seu mais recente boletim “Números em Destaque”.
Este valor representa uma descida de 13,6% face ao período homólogo, contrariando a tendência observada desde 2014, em particular o crescimento acentuado que teve lugar em 2021 e 2022.
Os dados de base utilizados neste Destaque têm como fonte as estatísticas do comércio internacional de bens, produzidas pelo INE e disponibilizadas anualmente no respetivo portal.
O boletim da CCDR acrescenta que as exportações regionais têm como principal destino outros países da União Europeia (88%), revelando uma concentração mais intensa do que o país (70%).
O Algarve tem reforçado as relações comerciais intracomunitárias na última década, centrando-se sobretudo em quatro mercados (72% das exportações), com destaque para Espanha, para onde seguem 38% das mercadorias.
A análise segundo a “Classificação por grandes categorias económicas (CGCE)” revela que uma parte relevante dos bens exportados (68%) correspondem a produtos primários, ou seja, não transformados.
A exportação de bens de alta-tecnologia tem evoluído favoravelmente ao longo do tempo, embora com algumas flutuações. Em 2023, correspondiam a 5,2% do total
das exportações, valor similar à média nacional.
A intensidade exportadora da região é reduzida. A relação entre o valor das exportações de bens e o PIB não ultrapassou 2,2% em 2023 (28,9% em Portugal). No entanto, este rácio tem aumentado nos últimos 10 anos.
De igual modo, a região tem uma representação diminuta nas exportações totais de bens registadas a nível nacional, não ultrapassando 0,38% em 2023.
A taxa de cobertura das importações pelas exportações foi de 53%, o que traduz uma descida em relação ao valor médio dos últimos 10 anos.
A CCDR Algarve explica que, «para maior detalhe sobre o tipo de bens/mercadorias exportados, é importante ter em consideração a Nomenclatura Combinada (NC2), “que é a nomenclatura das mercadorias da União Europeia que satisfaz as exigências das estatísticas do comércio internacional (intra e extracomunitário) e da pauta aduaneira (…)”, podendo o documento ser consultado no portal do INE». A informação disponível apresenta o valor das exportações por 21 grandes secções e, de forma mais desagregada, por 98 capítulos.
A análise das secções NC2 confirma que a região algarvia exporta sobretudo “produtos do reino vegetal”. Em 2023, estas mercadorias alcançaram um valor de
170,2 milhões de euros, o equivalente a 58% do total das exportações regionais.
Em segundo lugar, surgem as exportações de “animais vivos e produtos do reino animal” com um contributo de quase 14% e, em terceiro, as “máquinas e aparelhos, material elétrico, e suas partes – aparelhos de gravação ou de reprodução de som, aparelhos de gravação ou de reprodução de imagens e de som em televisão, e suas partes e acessórios”, que representam 11,4%.
Estas três secções somam 83% dos bens exportados pelas empresas sediadas no Algarve.
Com um valor de exportações bastante menos significativo, segue-se o “material de transporte”, com 12,4 milhões de euros (4%), os “produtos das indústrias alimentares – bebidas, líquidos alcoólicos e vinagres – tabaco e seus sucedâneos manufaturados (…)” que alcançam quase 11,2 milhões de euros (3,8%), e os “matérias têxteis e suas obras” que, em 2023, corresponderam a 5,2 milhões de euros (1,2%).
Uma leitura mais fina, ao nível dos capítulos, isto é, das categorias que integram cada secção, indica que as “Frutas”, nomeadamente citrinos, apresentam grande preponderância nas exportações. O valor desta mercadoria atingiu 107,5 milhões de euros no ano em análise, correspondendo a 36,7% das exportações regionais.
As “sementes e frutos oleaginosos – grãos, sementes e frutos diversos – plantas industriais ou medicinais – palhas e forragens” são a categoria com o segundo valor de exportação mais elevado, quase 36 milhões de euros, ou seja, 12,3% do total.
Esta categoria apresentou uma quebra significativa em relação a 2022, período em que atingiu um valor recorde, muito superior aos anos anteriores. O valor das exportações das “sementes e frutos oleaginosos” diminuiu 69,9 milhões de euros, influenciando decisivamente a variação homóloga das exportações em 2023 que, como referido inicialmente, foi de -13,6%.
O boletim da CCDR Algarve explica que, «embora não exista informação publicada ao nível de produto, esta situação terá sido influenciada pela descida significativa do preço da alfarroba, comparativamente ao ano anterior».
Os produtos da pesca e aquacultura integram também o “top 3” das mercadorias exportadas. Em 2023 o valor dos “peixes e crustáceos, moluscos e outros invertebrados aquáticos” alcançou 33,7 milhões de euros, o equivalente a 11,5% das exportações.
As exportações de “plantas vivas e produtos da floricultura” e de “reatores nucleares, caldeiras, máquinas, aparelhos e instrumentos mecânicos, e suas partes” rondaram 21 milhões de euros, ou 7%, em cada um dos casos.
As “máquinas, aparelhos e materiais elétricos e suas partes; aparelhos de gravação ou de reprodução de som, aparelhos de gravação ou de reprodução de imagens e de som em televisão e suas partes e acessórios” é a última categoria que integra o grupo com valor de exportação acima de 10 milhões de euros.
As seis categorias referidas contribuíram, no conjunto, para 79% das exportações regionais em 2023.
«Uma avaliação global das exportações de 2013 a 2023, considerando o valor acumulado nesse período e tendo como critério um montante médio anual mínimo de 2 milhões de euros por capítulo, permite concluir que apenas 16 das 98 categorias de bens cumprem essa condição, totalizando quase 90% do valor das exportações registadas», salienta.
Para concluir, a CCDR Algarve destaca que o Programa Operacional do Algarve 2014-2020 disponibilizou financiamento específico para incentivar a internacionalização das PME regionais.
Os apoios foram concedidos a empresas, a associações representativas de diferentes setores e também a câmaras de comércio. Através do Eixo 2 do Programa Operacional foram aprovadas 157 operações com um valor elegível de 22,5 milhões de euros, que se traduziu numa comparticipação FEDER de 12,5 milhões de euros.
No novo período de programação, o Programa Regional Algarve 2030 disponibilizará cerca de 32 milhões de euros FEDER para a qualificação e internacionalização das empresas, através de apoio a projetos individuais, conjuntos, simplificados ou ações coletivas.
«Este incentivo dos fundos comunitários será, sem dúvida, um contributo importante para promover e impulsionar as exportações regionais», defende a CCDR Algarve.
Exportações de bens ajudam a diversificar a economia regional
Embora a região exporte essencialmente serviços, por via das despesas de turistas estrangeiros, a CCDR Algarve considera de interesse dar a conhecer a realidade das exportações de bens, «sobretudo num contexto em que se reconhece a importância de estimular a diversificação da economia regional».
Esta entidade assinala que, «embora as exportações de bens sejam efetuadas a partir da região algarvia, isso não significa que os bens sejam produzidos apenas na região». Como exemplo, refere as “armas e munições” ou as “aeronaves e aparelhos espaciais, e suas partes” que surgem com valores de exportação em alguns anos.
Os dados de base utilizados neste Destaque têm como fonte as eEstatísticas do comércio internacional de bens, produzidas pelo INE e disponibilizadas anualmente no respetivo portal.