O Algarve vai beneficiar de investimentos «entre 400 e 500 milhões de euros», para se tornar mais resiliente, ao nível dos recursos hídricos, nos próximos dois anos e meio. A garantia é de Maria da Graça Carvalho, ministra do Ambiente e Energia, que esteve ontem em Faro para assinar um protocolo ligado a uma dessas obras, a da Tomada de Água do Pomarão, para abastecer a Barragem de Odeleite, em Castro Marim, cujo valor ascende a 109 milhões de euros.
Num dia «de bons anúncios», onde também se falou de outros investimentos em curso ou que vão avançar, ligados à redução de perdas e à reutilização de água, a ministra salientou o muito dinheiro que está disponível para que o Algarve sofra menos sobressaltos com a diminuição da pluviosidade, fenómeno que tem tendência a agravar-se.
Maria da Graça Carvalho esteve este domingo, dia 15 de Dezembro, no Algarve, para lançar oficialmente o concurso público para uma das duas grandes obras que serão realizadas e a que permitirá trazer mais água para o sistema intermunicipal de abastecimento da região: a Tomada de Água do Pomarão.
Esta obra de 109 milhões de euros, a ser financiados pelo Plano de Recuperação e Resiliência (PRR), permitirá retirar 30 hectómetros cúbicos de água do Guadiana por ano.
Este é um volume considerável, tendo em conta que «o consumo urbano anual da região algarvia é de cerca de 75 hm3», segundo a ministra, que falou aos jornalistas à margem da cerimónia de assinatura dos acordos, que também marcou a inauguração do Pavilhão da Água, uma iniciativa da empresa Águas do Algarve e da Câmara de Faro de sensibilização para o uso eficiente deste bem.
A empreitada, que será dividida em três lotes, tem um prazo de execução de 460 dias.

Além da formalização do lançamento do concurso – na prática, foi lançado esta sexta-feira -, também foi assinado um protocolo, «que embora seja relativo a um projeto mais pequeno, é muito simbólico».
«Esta Tomada de Água do Pomarão e o acordo com Espanha [que possibilitou que a obra avance], permitirão também dar água potável para o abastecimento urbano a uma zona de Mértola que não tinha água e que era abastecida por autotanque, que é a freguesia de Espírito Santo, a aldeia de Mesquita. Isso é simbólico porque era uma região de Mértola que tinha, à frente, o Pomarão e, atrás, o Alqueva, mas não tinha água», ilustrou a ministra.
O protocolo envolve a Águas do Algarve, a Câmara de Mértola e a Águas Públicas do Alentejo. «Era um problema que se arrastava há muitos anos e fico muito contente que este acordo entre o Algarve e o Baixo Alentejo venha a permitir que isto se resolva», acrescentou.
A ministra salientou ainda o acordo com Espanha, uma negociação que a própria levou a bom porto, e sem a qual não seria possível «qualquer utilização da água do Guadiana».
«O mais difícil foi a autorização de Espanha, mas felizmente conseguimos esse acordo. Agora é uma questão de executar, há aqui um grande trabalho e tem que estar pronto no Verão de 2026. (…) É só uma questão de fazer, porque todos os licenciamentos ambientais, a autorização de Espanha, tudo está resolvido», salientou a ministra.
Além desta grande obra, contribuem para este bolo a dessalinizadora que será construída em Albufeira, com 111 milhões de euros provenientes do PRR, com capacidade para dar ao Algarve até 24 hm3 de água anualmente.
Outras obras que fazem parte deste grande investimento, algumas das quais já em curso, têm a ver com a redução de perdas de água no setor agrícola e no setor urbano, com Maria da Graça Carvalho a admitir um reforço da verba destinada a este tipo de intervenção.
Afinal, como referiu Rogério Bacalhau, presidente da Câmara de Faro, os 48 milhões de euros do PRR que foram destinados a esse fim são o valor necessário «para resolver o problema apenas em Faro».
Também estão previstas e «em andamento» as obras em Estações de Tratamento de Águas Residuais (ETAR) da Águas do Algarve, para que estas possam fornecer água para reutilização a campos de golfe da região, anunciou Isabel Soares, presidente desta empresa pública.
Na mesma cerimónia foi assinado outro protocolo, entre a Águas do Algarve e a Câmara de Castro Marim, que prevê uma intervenção na rede de saneamento básico deste concelho, de modo a «travar a intrusão salina, para podermos fazer cada vez mais a reutilização, usar a água reutilizada para o setor do golfo e para o setor da agricultura».