Antes de iniciar este artigo de opinião, a questão que vos coloco faz-me lembrar de imediato o conceito económico da eficiência de Pareto, em que o resultado faz alguém melhor, sem fazer ninguém pior!
Sou a favor da possibilidade de autonomização dos processos, através de sistemas de inteligência artificial (IA), reformulando as tarefas de cada um, fazendo com que se mantenha o emprego.
Ora vejamos um exemplo prático:
Desde finais do ano passado, começou a ser implementado o STAAR, o Sistema de Transcrição Automático da Assembleia da República, através de tecnologia de IA. Transformou por completo o trabalho de quem transcrevia palavra por palavra tudo o que era dito no hemiciclo, passando para novas funções, de transcritores a editores.
O papel dos funcionários é tão mais importante do que dantes, porque, além de corrigirem o que a máquina não entende, acrescentam tudo o que não faz forçosamente parte das gravações e é importante para o retrato completo de cada sessão.
Mas a autonomização dos processos pode também levar, em casos de maior competitividade, à criação de empregos e com melhores salários.
Ora vejamos alguns dados:
A competitividade da economia portuguesa desceu 30% entre 1995 e 2008 (fonte: Fundação Francisco Manuel dos Santos FFMS). A falta de competitividade deve-se, em larga medida, à baixa produtividade. A produtividade é influenciada por múltiplos fatores: a tecnologia, as práticas organizacionais e de gestão, o contexto económico, entre outros.
No caso da tecnologia, a nossa dívida digital está a aumentar, sendo que apenas 8% das empresas em Portugal utilizam IA.
A produtividade é o grande motor dos salários. Em Portugal, a cada hora, um trabalhador gera em média 30 euros. É o quinto país menos produtivo na zona euro. Está na cauda da União Europeia no que concerne à produtividade (fonte: FFMS).
Mais: em Portugal trabalha-se, em média, 38 horas e aufere-se um rendimento líquido anual de 16.943 euros, enquanto na média da União Europeia a 27 países trabalha-se em média 36 horas, conseguindo um rendimento líquido anual de 38.086 euros, cerca do dobro do nacional.
Trabalhamos mais horas e ganhamos também menos proporcionalmente ao custo de vida de cada País… porquê?
Ora vejamos onde podemos melhorar:
As competências de cada trabalhador (qualificações), aliadas ao desenvolvimento das suas tarefas com um “assistente tecnológico” (IA), são fundamentais para o aumento da competitividade da economia, porque “Empresas com empresários e gestores mais qualificados são mais produtivas e pagam melhores salários” (fonte: FFMS).
A IA não substitui as pessoas, porque não pensa, não sente, não compreende, não tem palpites, não imagina, não se importa (como diz Gerd Leonhard), mas faz um trabalhador melhor, sem fazer ninguém pior!
Neste caso, sendo eu economista e este um artigo de opinião, não se pode garantir bons resultados, mas pode ajudar-se a evitar maus resultados.
Autor: Pedro Pimpão é economista
Nota: artigo publicado ao abrigo do protocolo entre o Sul Informação e a Delegação do Algarve da Ordem dos Economista