O filme de animação “Percebes”, das realizadoras Alexandra Ramires e Laura Gonçalves, venceu o Prémio António Gaio, atribuído pelo CINANIMA – Festival Internacional de Cinema de Animação de Espinho, que terminou este domingo.
O filme, que também já tinha conquistado o Prémio de Melhor Curta-Metragem no Festival de Cinema de Animação de Annecy, o mais importante certame do género a nível europeu, tem o Algarve urbano como cenário, e segue o ciclo completo da vida de um molusco especial chamado Percebes.
“O que nos chamou a atenção neste filme foi a sensibilidade com que foi contado. A história é narrada através dos olhos de quem é do Algarve e isso torna a mensagem mais única. Tudo isto está feito com uma técnica incrível com planos muito elaborados e dinâmicos e um estilo muito pessoal e envolvente”, disse o júri, em nota.
A curta-metragem “Percebes” arrecadou ainda o Prémio do Público.
“Percebes” é um documentário, animado em aguarela e digital, sobre o ciclo de vida e a apanha deste crustáceo no Algarve, mas o tema serve ainda de pretexto para as autoras abordarem questões sobre turismo massificado, a relação dos habitantes locais com o mar ou o desordenamento da costa portuguesa.
Alexandra Ramires, que é natural do Algarve, reconheceu, numa entrevista dada à agência Lusa, aquando do prémio de Annecy, que “há uma relação com aquele lugar”.
“Mas este tema não é só do Algarve e é uma coisa que acabamos por viver muito: o crescimento que molda completamente a cidade. Fomos vendo isto a acontecer em Lisboa e no Porto de forma muito evidente”.
A realizadora e animadora fala num processo de “distorção da identidade” — “Não vês tantas casas algarvias, vemos mais hotéis do que chaminés algarvias”. Por outro lado, diz, “há ainda coisas com as quais as pessoas se identificam e reveem”.
“Percebes”, de Laura Gonçalves e Alexandra Ramires, foi produzido pela produtora BAP — Animation Studios e pela Ikki Films, sediada em França.
Veja o trailer:
TODOS OS PRÉMIOS DO CINANIMA 2024
Competição Internacional Curtas-metragens
– Grande Prémio CINANIMA 2024 Prémio Cidade de Espinho
Beautiful Men, de Nicolas Keppens (Bélgica, França, Países Baixos)
Nota do júri: Pelo ritmo, qualidade da animação, humor e toque humano.
– Prémio Especial do Júri
A Crab in the Pool, de Alexandra Myotte e Jean-Sébastien Hamel (Canadá)
Nota do júri: Pela sua originalidade e sensibilidade em mostrar o processo complexo do luto.
– Distinção Curta-metragens
Zarko, you will spoil the child!, de Veljko Popovic e Milivoj Popovic (Croácia)
Nota do júri: Por todo o seu humor familiar, sensibilidade e ritmo.
– Prémio Melhor Sonoplastia
Entropic Memory, de Nicolas Brault (Canadá)
Nota do júri: O som visceral imprime um significado totalmente novo para as imagens de decadência.
– Prémio Melhor Filme Experimental
See the Sun Rise in the Moon, de Charles Nogier (França)
Nota do júri: Pelo seu visual original e pela utilização da luz para criar uma atmosfera assombrosa.
– Prémio Melhor Documentário Animado
I died in Irpin, de Anastasiia Falileieva (República Checa)
Nota do júri: Pela representação da realidade complexa e multifacetada da guerra.
– Prémio Melhor Argumento
A Crab in the Pool, de Alexandra Myotte e Jean-Sébastien Hamel (Canadá)
Nota do júri: Pela viagem através do labirinto de motivos, que nos leva a um final inesperadoe pungente.
– Prémio do Público
Percebes, de Alexandra Ramires e Laura Gonçalves (Portugal)
Competição Internacional Longas-metragens
– Grande Prémio CINANIMA 2024 – Longas-metragens
Memoir of a Snail, de Adam Elliot (Austrália)
Nota do júri: Pela magnífica e complexa narrativa, com personagens interessantes e uma história comovente que nos fez rir e chorar.
– Menção Honrosa Longas-metragens
Flow, de Gints Zilbalodis (Letónia, Bélgica, França)
Nota do júri: Pela ousadia de realizar uma longa-metragem com linguagem não-verbal, com uma riqueza em termos de som atmosférico e visuais, que reflete uma metáfora sobre as relações e a tolerância face a uma catástrofe iminente.
Competição Internacional Obras de Estudante
– Grande Prémio CINANIMA 2024 Obra de Estudantes – Prémio Gaston Roch
Unrecognized Character Detected, de Song Ye (China)
Nota do júri: O nível de habilidade e narrativa dos filmes de estudante deste ano foi muito alto. Muitos dos filmes selecionados podiam ter sido os vencedores. “Unrecognized Character Detected” foi o filme que nos uniu enquanto júri. É uma jornada surreal com elementos visuais incríveis. O filme de Song Ye é diferente da maioria dos filmes de estudantes, tanto no estilo como na narrativa. As ideias novas e originais são apresentadas com uma leveza que não prejudica a sua profundidade. A abordagem lúdica do filme, porém cuidadosa na construção do mundo, imediatamente capturou a nossa atenção.
– Menção honrosa
Dragfox, de Lisa Ott (Reino Unido)
Nota do júri: Também queremos mencionar o “Dragfox”, uma doce procura de identidade que se tornou musical com uma mensagem poderosa. Lisa Ott explora habilmente as diferentes facetas da identidade sem ser didática. A forma híbrida do filme, combinando perfeitamente a animação com o gênero musical, parece fácil e cativante. A sua abordagem ao tema da autodescoberta é calorosa e convidativa, utilizando a dança e a música para irradiar a alegria e a diversão.
Competição Nacional
– Prémio António Gaio
Percebes, de Alexandra Ramires e Laura Gonçalves
Nota do Júri: O que nos chamou a atenção neste filme foi a sensibilidade com que foi contado. A história é narrada através dos olhos de quem é do Algarve e isso torna a mensagem mais única. Tudo isto está feito com uma técnica incrível com planos muito elaborados e dinâmicos e um estilo muito pessoal e envolvente.
– Prémio Jovem Cineasta Português (Até aos 18 anos)
Nunca Pares De Cantar, da Associação de Ludotecas do Porto – Anilupa, EB de Fernão de Magalhães
Nota do júri: Este filme cativou-nos por ter a essência de uma criança presente em todas as partes do filme como a cor, as personagens e os traços. É uma história simples, mas com uma mensagem muito bonita e motivadora para as crianças.
– Prémio Jovem Cineasta Português (Mais de 18 anos até 30 anos)
Pelas Costuras, de Adriana Andrade, Luana Rodrigues e Daniela Tietzen
Nota do júri: Uma lufada de ar fresco onde é contada uma história difícil através de um estilo muito próprio e único. O resultado é um filme muito bem executado e uma aparência visual muito original
– Menção Honrosa
Amanhã Não Dão Chuva, de Maria Trigo Teixeira (Portugal, Alemanha)
Nota do júri: Foi extremamente difícil escolher um vencedor e este filme cativou-nos muito. Decidimos, por isso, atribuir a menção honrosa pela forma como esta história foi contada. Através de uma narrativa emotiva, o filme conseguiu falar de um tema tão difícil. Na nossa opinião uma das partes mais bonitas do filme foi a forma como conseguiram criar uma ligação entre o que a história diz e o que vemos no ecrã.