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A caracterização patrimonial e arqueológica do Ilhéu do Rosário, na confluência da ribeira de Odelouca com o rio Arade, no concelho de Lagoa, é apenas um dos mais recentes trabalhos da empresa especializada ERA Arqueologia na área da deteção remota.

Este projeto, que será apresentado no próximo dia 30, em Lagoa, foi uma das intervenções abordadas no workshop «Deteção Remota em Zonas Rurais», promovido pela empresa em Loulé, no âmbito do projeto Odissey – Prospeção Remota do Passado, que a ERA Arqueologia liderou, com duas universidades – Aveiro e Maia.

Nesse workshop, que se destinava a profissionais, desde arqueólogos, a técnicos municipais ou gestores do território, visava sensibilizar todos os participantes para as potencialidades da aplicação de métodos de deteção remota no âmbito da gestão patrimonial e dos territórios.

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Segundo a empresa, tratou-se de «uma motivadora ação de sensibilização e debate com profissionais de arqueologia do Algarve sobre as virtualidades da aplicação, ao património arqueológico, das mais avançadas técnica de deteção, caracterização e delimitação de sítios, sem recurso a ações intrusivas».

Miguel Lago, administrador da ERA Arqueologia, explicou ao Sul Informação quais os objetivos da iniciativa.

«A nossa ideia é ultrapassar algumas carências que existem no meio do património português, mas não só, também na gestão e ordenamento territorial», já que este foi «um workshop sobre identificação e deteção remota de património, ou seja, sem métodos intrusivos, mas numa perspetiva de gestão dos bens patrimoniais e também de gestão do território», começou por dizer.

A ideia é que «profissionais, tanto da área da arqueologia, como técnicos da administração regional, dos municípios, de empresas que interferem muito no território, estejam sensibilizados para as novas possibilidades de, sem ações intrusivas e com custos muito mais reduzidos, caracterizar e, sobretudo, delimitar sítios arqueológicos», acrescentou.

 

Sul Informação
Workshop em Loulé – Foto: ERA Arqueologia

 

Na opinião do arqueólogo e administrador da empresa especializada em serviços neste âmbito, «um dos grandes problemas da arqueologia portuguesa é, precisamente, a delimitação dos sítios», «quer ao nível dos PDMs, quer ao nível dos estudos de impacte ambiental e da aplicação das suas medidas de minimização em projetos aprovados, quer ainda ao nível dos licenciamentos, urbanos, rurais, relacionados com a construção de estradas, autoestradas, centrais fotovoltaicas, parques eólicos, enfim, todo o tipo de projetos que interferem no território».

Para os investidores ou promotores dos projetos, salientou Miguel Lago, «um dos dramas que existe sempre é, afinal, onde é que estão os sítios arqueológicos e qual é a sua dimensão?»

Ora, «através deste tipo de técnicas que temos vindo a utilizar recorrentemente e cada vez mais nos últimos anos, é possível atingir muitos destes objetivos, através de tecnologia muito moderna, que complementa a forma tradicional do arqueólogo trabalhar, que é percorrer o território, olhar para o chão, olhar para a paisagem, recolher aquilo que é possível recolher ao nível de cacos e de observação de determinadas estruturas que emergem à superfície».

Tudo isso usando tecnologias como o LiDAR, que permite «observar aquilo que está escondido pelos matos ou pelas florestas, observar realidades escondidas e onde muitas vezes os arqueólogos nem sequer podem entrar», ou, «através de métodos como a geofísica, que permite observar aquilo que está totalmente enterrado».

«É do complemento destas várias técnicas que nós hoje conseguimos obter um conjunto dados muito valiosos, que nos permitem, antes sequer de fazer qualquer buraco de escavação arqueológica, fornecer aos decisores, aos investidores, aos proprietários, aos produtores de obras, aos autarcas, informações muito importantes para poder planear a nossa vida atual».

A questão que muitas vezes se coloca, salienta Miguel Lago, é saber «que projetos devem avançar, para onde é que devem avançar, de que maneira é que vão afetar património?».

«O planeta está cheio de património. É óbvio que nós não podemos preservar o património todo», sublinhou. Mas «quanto mais tivermos capacidade de o conhecer, melhor vamos poder tomar decisões sobre aquilo que podemos conservar e aquilo de que podemos abdicar e em que condições é que podemos abdicar».

A ERA Arqueologia, graças aos investimentos que tem vindo a fazer nos últimos anos, em equipamento, mas também em pessoas que os saibam utilizar e tirar partido dos dados por eles produzidos, tem agora uma «capacidade instalada muito forte».

 

Sul Informação
Imagem gerada pela tecnologia LiDAR – Foto: ERA Arqueologia

 

O workshop que decorreu na Sala de Atividades dos Banhos Islâmicos e Casa Senhorial dos Barreto, em Loulé, também permitiu apresentar o projeto Odyssey-
Trata-se de um projeto que foi aprovado no âmbito do Portugal 2020, «financeiramente pesado», já que envolveu um investimento de 1,3 milhões de euros, «com uma comparticipação da União Europeia muito forte».

Assentou num consórcio liderado pela ERA, que teve «a ideia-base, que era precisamente tentar encontrar mecanismos que permitissem automatizar o trabalho de deteção remota. Ou seja, uma coisa é nós termos estas informações todas. Outra é, com base em informações aéreas, poder automatizar o trabalho humano. Uma coisa é termos mapas e andar à procura nos mapas, ou nas fotografias aéreas, ou nos LiDAR de qualquer coisa que nos pareça que é um sítio arqueológico. Outra é ensinarmos as máquinas a fazer esse trabalho por nós e nós apenas irmos confirmar», numa perspetiva de «machine learning», explicou Miguel Lago.

Para verificar se era possível esta dimensão de machine learning, «isto implicava investigação científica, e nós tivemos que procurar parceiros. Identificámos dois parceiros da academia: na Universidade da Aveiro, especialistas em Inteligência Artificial, e na Universidade da Maia, especialistas em tratamento de dados de imagem».

Segundo o administrador da ERA Arqueologia, «foi desta síntese entre arqueólogos, técnicos de património e especialistas de áreas da engenharia, que foi possível cozinhar o projeto, que foi aprovado, teve financiamento, e permitiu-nos atingir grande parte dos objetivos».

E o projeto Odyssey vai ficar por aqui?, quis saber o Sul Informação.

«Numa investigação deste género, quando se chega ao fim, é possível percebermos que há muito mais investigação a fazer. Daí estarmos já a planear uma nova candidatura para prosseguirmos a investigação com o mesmo consórcio, porque todos os membros estão interessados em prosseguir a investigação, até porque há muito trabalho ainda a desenvolver de maneira a que isto venha a ser amplamente aplicado», respondeu Miguel Lago.

A empresa ERA arqueologia tem já uma vasta experiência no trabalho com tecnologia de deteção remota, de Norte a Sul do país, e mesmo em França e Espanha, como foi mostrado no workshop em Loulé. Assim, João Fonte, falou do «LiDAR aéreo aplicado à investigação e gestão patrimonial», Tiago do Pereiro abordou o tema da «Prospeção geofísica para o mapeamento da anomalias arqueológicas soterradas», Bruno Gambinhas ocupou-se da «Arqueologia Aérea em Portugal: evolução e impacto da imagem aérea na investigação arqueológica» e José Carvalho falou sobre «a aplicação prática da deteção remota nos processos de valorização de sítios arqueológicos», apresentando alguns casos de estudo.

Estas tecnologias, explicaram, «não substituem a escavação arqueológica, são sempre complementares».

 

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Foto: ERA Arqueologia

 

Uma região onde estes métodos têm sido muito utilizados, nomeadamente em projetos agrícolas, é o Alentejo. Miguel Lago explicou que a sua empresa tem estado a trabalhar muito na região alentejana, «ao nível da geofísica, já há vários anos, sobretudo na delimitação de sítios arqueológicos».

O arqueólogo deu o exemplo de «uma propriedade agrícola que vai ter uma requalificação, onde se vai passar de olival tradicional, para um olival moderno. Por vezes são dezenas, centenas de hectares».

Ora, aí é preciso fazer «todo um trabalho de prospeção, que tradicionalmente assentava na observação do terreno, ver os cacos que existiam à superfície».

No entanto, «a partir do momento que identificamos uma realidade que justifica a geofísica, a geofísica vai-nos permitir, por exemplo, mapear a planta de uma villa romana, com bastante rigor. E conseguimos dizer ao promotor, às entidades oficiais do património que vão avaliar projetos, onde é que está, por exemplo, o limite dessa villa romana». Tudo isso, poupando tempo e até dinheiro ao promotor, mas ao mesmo tempo permitindo que o projeto avance. «Estamos a fornecer dados que permitem proteger o sítio arqueológico e desenvolver o projeto agrícola nas zonas onde tal é possível».

O responsável pela ERA Arqueologia salienta que, apesar das boas práticas atuais, de início «houve grandes destruições no Alentejo, no âmbito da implementação dos projetos agrícolas associados ao sistema do Alqueva. E durante vários anos cometeram-se erros grosseiros».

Mas, muito por influência da então Direção Regional de Cultura do Alentejo, «houve capacidade de inverter fortemente essa tendência e, hoje em dia, penso que se está a fazer um trabalho bastante meritório no Alentejo».

Os grandes clientes agrícolas são «os nossos maiores clientes da geofísica». Muitas vezes, com os dados fornecidos por estes equipamentos especializados, nem sequer é necessário fazer escavações arqueológicas, porque as zonas onde são detetadas possíveis estruturas são deixadas intocadas, como «reserva».

«Esse tipo de cliente não tem interesse na arqueologia, simplesmente quer saber o que lá está no terreno, para não ter problemas», disse ainda.

No Alentejo, salientou Miguel Lago, «a abordagem arqueológica aos projetos agrícolas está a ser muito diferenciada relativamente ao que acontece no Algarve, onde temos pouca experiência nessa área, não sei se há sequer quem tenha experiência nessa área».

«Há projetos agrícolas com alguma relevância e provavelmente com impacto em património arqueológico no Algarve que não estão a ter o cuidado de avaliação e de minimização de impacto», como deviam, frisou.

A ERA Arqueologia até já tem muito trabalho na região algarvia, neste campo da aplicação da tecnologia da deteção remota: «temos feito já alguns projetos, nomeadamente em centrais fotovoltaicas, num âmbito de processos de avaliação de impacte ambiental».

O certo é que, na opinião deste especialista, «provavelmente por diferenças de abordagem regional, os projetos agrícolas no Algarve estão a ter menos cuidado, ao serem aprovados sem que sejam devidamente avaliados do ponto de vista da interferência no património arqueológico».

Na região algarvia, a geofísica está também a ser utilizada pela ERA Arqueologia «em projetos de âmbito urbano». Miguel Lago recordou um projeto no centro histórico de Faro, «numa zona sensível, num empreendimento bastante grande, com uma dimensão em termos de área bastante forte, em que, antes do projeto de arquitetura ser elaborado, foi feita uma prospeção geofísica».

Isso permitiu «ter uma ideia do que é que ali poderia existir, nomeadamente património romano» e assim foi possível «direcionar as sondagens arqueológicas que eram exigidas pela tutela para os sítios certos, ou seja, fomos direitos aos pontos sensíveis».

«A ferramenta da geofísica é utilizada como abordagem preliminar, como uma espécie de radiografia que é feita antes de fazer qualquer tipo de operação a um doente, através da qual temos a capacidade de recolher dados, fundamentar as opções de abordagem de diagnóstico intrusivo e complementar muito a informação».

«Isto faz com que, por exemplo, um departamento do urbanismo tenha uma capacidade muito mais aguda de analisar a bondade para o património de um projeto de arquitetura ou de engenharia. E as entidades do património também vão ter uma capacidade de tomar decisões ao nível do licenciamento muito mais consistentes», defendeu.

Com este tipo de abordagem, «é possível, em determinadas situações, que o próprio promotor, em vez de escavar numa determinada área muito sensível arqueologicamente, possa optar por outras intervenções e, por exemplo, criar um jardim numa zona muito sensível arqueologicamente e construir um edifício numa zona menos sensível. Ou, se tiver mesmo de construir nessa zona sensível, já sabe ao que vai. Não há surpresas».

 

Sul Informação
Equipamento de LiDAR montado num drone – Foto: ERA Arqueologia

O que é o LiDAR?

LiDAR, acrónimo que deriva do inglês “light detection and ranging“, é uma tecnologia ótica de deteção remota que mede propriedades da luz refletida de modo a obter a distância e/ou outra informação a respeito um determinado objeto distante.O método mais utilizado para determinar a distância a um objeto é a utilização de laser pulsado. A distância a um objeto é determinada medindo a diferença de tempo entre a emissão de um pulso laser e a deteção do sinal refletido.

O LiDAR aéreo, que faz o varrimento de vastas áreas a partir de um ponto acima do solo, pode ser transportado em avião, helicóptero e drone, sendo este último, por voar mais baixo, o que permite informação mais detalhada.

Neste momento, está a ser feita a cobertura nacional com LiDAR, que deverá estar terminada até ao fim deste ano.

Depois, ao longo do próximo ano, será feita a validação dos dados, que passarão a estar disponíveis em acesso aberto no final de 2025.

A prospeção geofísica, outro método que não é invasivo, nem destrutivo, é outra das tecnologias utilizadas pela ERA Arqueologia. Um dos equipamentos mais usados é o georradar.

Até 2023, a empresa já tinha feito 125 projetos de prospeção geofísica, 80% dos quais nos últimos sete anos, em Portugal, Espanha e França.

A prospeção física, como foi salientado no workshop em Loulé, é especialmente apropriada para processos de PDM, licenciamentos vários de obras, investigação e estudos de impacte ambiental.

Com capacidade instalada para combinar várias tecnologias de deteção remota, a ERA Arqueologia tem vindo a intervir em inúmeros projetos, em várias áreas.

No campo da arqueologia, além do trabalho feito nas últimas semanas no Ilhéu do Rosário, em Lagoa, também será feita, em breve, prospeção no Castelo de Alferce (Monchique), cuja classificação e delimitação da área envolvente de proteção foi feita com base em dados de uma investigação de campo já com vários anos, que poderá estar aquém da realidade.

 

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