Festival Terras sem Sombra regressa a Castelo de Vide

Fim-de-semana de atividades com o apoio do município local e do Instituto Italiano de Cultura de Lisboa

O Festival Terras sem Sombra regressa, a 7 e 8 de Setembro, convidando a viajar até à Roma do século XVII, através de um invulgar concerto do ensemble italiano I Bassifondi, mas apresentando aindas atividades em torno do Património Cultural e da Biodiversidade, tendo por epicentro o Menir da Meada e a geologia da Serra de São Mamede.

“Castelo de Vide é, pela qualidade do seu património cultural e natural, uma referência do Alto Alentejo, que se cruza com a história de Portugal e permite uma aproximação muito significativa à vizinha Espanha. Para o Festival Terras sem Sombra, constitui um privilégio estar presente, desde há vários anos, neste território singular”, sublinha José António Falcão, diretor-geral do TSS.

“Há uma continuidade que tem permitido estabelecer fortes vínculos com a comunidade local, ela própria parte integrante do Festival. Sentimo-nos muito em casa, não só na vila, mas noutros pontos do concelho, como Póvoa e Meadas, onde regressamos ano após ano”, acrescenta.

Uma relação estreita com o território também enfatizada por Sara Fonseca, diretora-executiva do TSS: “do trabalho em comum com a Câmara Municipal e outras instituições surgiram novas iniciativas. O público do Festival aprecia imenso este concelho e notamos uma participação crescente, também do lado espanhol.”

A noite de sábado, 7 de Setembro (21h30), promete substanciar a relação afetiva com o concelho castelo-vidense, detentor de um notável conjunto de arte religiosa, através de um momento musical destinado a unir dois países do sul da Europa.

 

 

“Roma 600: Música da Nobreza e Música do Povo na Corte Pontifícia” é o título do concerto que leva à Igreja de Santiago, formoso templo do século XVI, o ensemble italiano I Bassifondi. Ritmos e singularidades harmónicas transportam o público a um notável património sonoro do período barroco, acercando-o da “Cidade Eterna”.

O espetáculo configura-se como um “grande fresco”, evocação da vida musical seiscentista, das ruas, onde os contadores de histórias improvisavam danças simples, aos oratórios, pontos de reunião para ouvir as sacrae historiae, às requintadas execuções no Palazzo Barberini.

Peças de compositores como Giovanni Paolo Foscarini, Athanasius Kircher e Tommaso Marchetti romano vão ecoar ao sabor do raro talento de I Bassifondi.

O ensemble, nascido de uma ideia de Simone Vallerotonda (direcção musical, arciliuto e guitarra barroca), já atuou nos mais importantes festivais e instituições de música antiga da Europa, Estados Unidos, América do Sul, Austrália e África do Sul.

A par dos festivais especializados, tem a particularidade, pouco usual em agrupamentos de música antiga muito prestigiados, tal qual este, de procurar outros palcos, tocando também em discotecas e pubs e levando, assim, a música barroca a locais inusitados.

O concerto é organizado com o apoio do Instituto Italiano de Cultura, de Lisboa, e do Comitato Nazionale Italiano Musica, no âmbito do projeto Suono Italiano, que tem a colaboração do Ministero della Cultura – Direzione Generale Spettacolo.

 

 

Recuar sete mil anos na História

A anteceder a grande noite de música, a tarde de 7 de Setembro (15h00) conta com a habitual visita ao Património. “No Coração de uma Paisagem Megalítica: o Menir da Meada” convoca os participantes à descoberta de um traço cultural e simbólico ímpar do período neocalcolítico, há perto de sete mil anos, a vincar a prosperidade das comunidades pré-históricas que se fixaram no território.

Aquele que é o maior menir talhado por mão humana da Península Ibérica, com mais de sete metros de altura e a rondar as 18 toneladas, foi descoberto em 1965, então quebrado em dois, e reerguido na década de 1990.

O menir, sito em território da freguesia de Póvoa e Meadas, apresenta uma figura cilindriforme de configuração fálica, preponderante na paisagem que o circunda, associado a rituais e crenças de fertilidade.

A visita, a cargo de um perito, tem o ponto de encontro no Jardim Grande (Parque João José da Luz), em Castelo de Vide. A encerrar a tarde, o Baluarte da Memória (no castelo), faz-se palco para uma conversa com o escultor António Mira.

 

 

Uma geologia complexa, construtora da relação do Homem com a paisagem

Com uma orientação noroeste-sudeste, a serra de São Mamede constitui um notável maciço montanhoso a sul do rio Tejo. Um marco geológico na paisagem que determina o clima, a vegetação e a relação do Homem com o território.

No domingo, 8 de Setembro (9h30), o convite do TSS na sua ação dedicada à Biodiversidade, passa pela descoberta d’ “A Montanha Mágica: Geologia da Serra de São Mamede”.

Com ponto de encontro, mais uma vez, no Jardim Grande (Parque João José da Luz), aos participantes na atividade é proposta uma manhã de conhecimento em torno de uma história geológica com tanto de complexo e dramático como de fascinante.

Rui Manuel Soares Dias, professor catedrático do Departamento de Geociências da Universidade de Évora, guiará os participantes nos caminhos de uma região de grande importância geológica, composta predominantemente por rochas graníticas e xistosas.

As falhas geológicas presentes na região são testemunho de antigos movimentos crustais que moldaram a paisagem atual. Além disso, a serra de São Mamede abriga afloramentos de quartzitos e filões de pegmatitos, enriquecendo ainda mais a sua diversidade litológica.

A 20.ª temporada do Festival Terras sem Sombra prossegue a 21 e 22 de Setembro no concelho de Vidigueira. Toda a programação da presente temporada pode ser consultada no site do Festival Terras sem Sombra.

 

 

MÚSICA

Castelo de Vide
7 de Setembro, 21h30
Local: Igreja de Santiago
I BASSIFONDI

Programa
“Roma 600: Música da Nobreza e Música do Povo na Corte Pontifícia”

Johann Hieronymus Kapsberger [1580-1651]
Toccata IV
Gagliarda X
(Libro I d’intavolatura di liuto [Roma, 1611])

Tommaso Marchetti [?-Séc. XVII]
Aurilla mia
Monica
Spagnoletta
Mal francese mi tormenta
(Libro I d’intavolatura di chitarra spagnola [Roma, 1660])

Ferdinando Valdambrini [?-Séc. XVII]
Mamma lo scorpiò
Passacaglia per la D
(Libro I d’intavolatura di chitarra spagnola [Roma, 1660])

Giovanni Paolo Foscarini [1600-1647]
Villan di Spagna
(Li cinque libri della chitarra spagnuola [Roma, 1640])

Arcangelo Lori [1611-1679]
Toccata dell’Arcangelo
(Manuscrito de Perugia, século XVII)

Johann Hieronymus Kapsberger [1580-1651]
Sordellina
(Oratória I Pastori di Bettelemme [Roma, 1630])

Giovanni Paolo Foscarini [1600-1647]
Gagliarda francese
Passacaglio per la O
Aria di Firenze
(Li cinque libri della chitarra spagnuola [Roma, 1640])

Tommaso Marchetti [?-Séc. XVII]
Romanesca
(Libro I d’intavolatura di chitarra spagnola [Roma, 1660])

Athanasius Kircher [1602-1680]
Tarantella
Antidotum tarantulae
(Magnes sive de arte magnetica [Roma, 1641])

BIOGRAFIAS

I Bassifondi
Fruto de uma ideia de Simone Vallerotonda, tem por epicentro a revisão, historicamente fundamentada, da música dos séculos XVII e XVIII para alaúde, arquialaúde, tiorba e guitarra barroca, com o acompanhamento de “baixo contínuo”.
Enveredou pela interpretação de obras de autores menos conhecidos, mas não menos importantes, do universo dos instrumentos de cordas, alia a atenta procura das fontes musicais à recuperação de instrumentos de época.
O seu primeiro álbum, Alfabeto Falso (2017), fascinou o público com um repertório para guitarra barroca pleno de singularidades harmónicas, num “falso alfabeto”, comparável, em diversas aspetos, ao jazz moderno.
Com Roma 600 (2019), explorou os aspetos populares presentes na música romana, como espelho da música culta.
Ampliou o seu repertório e, a partir da formação original em trio, apresenta-se numa versão para orquestra assente em obras e oratórios ligados às figuras dos alaudistas do passado.
Quanto ao seu mais recente disco, La Guitarre Royalle (2024), explora a música de duas guitarras, a partir da obra do mais importante guitarrista italiano do século XVII: Francesco Corbetta.
Presença assídua em alguns dos mais importantes festivais e instituições de música antiga da Europa, Estados Unidos, América do Sul, Austrália e África do Sul, diversifica os palcos onde atua.
De facto, a par das atuações em salas consagradas à música erudita, o ensemble também toca em discotecas e pubs, levando a música barroca a locais inusitados.

Simone Vallerotonda
Direção musical, arciliuto e guitarra barroca
Nascido em Roma em 1983, iniciou os seus estudos musicais com a guitarra clássica.
O fascínio pela música antiga acompanha-o desde cedo: aos 18 anos, adquiriu o seu primeiro alaúde.
Iniciou estudos com Andrea Damiani no Conservatorio di Musica Santa Cecilia, de Roma, onde se formou com a nota máxima.
Completou o mestrado em Tiorba e Guitarra Barroca na Staatliche Hochschule für Musik, em Trossingen (Alemanha), sob a orientação de Rolf Lislevand.
Formou-se com louvor em Filosofia na Universidade Tor Vergata, de Roma, e especializou-se em Estética, dedicando-se ao estudo das relações entre a música do século XVIII e os enciclopedistas.
Em 2011, foi o melhor classificado na secção solo doConcorso di Musica Antica Maurizio Pratola, na secção de Alaúde, e vencedor do concurso Rèseau Européen de Musique Ancienne, na secção de Música de Câmara.
Tocou nos mais prestigiados teatros e salas de concertos em diferentes continentes, v.g., Carnegie Hall (Nova Iorque), Teatro de la Ciudad (Cidade do México), Ópera Lírica de Singapura, Théâtre des Champs Élysées (Paris) e Casa da Música (Porto).
Além da sua atividade a solo, colabora com vários agrupamentos, incluindo o Modo Antiquo, Rinaldo Alessandrini & Concerto Italiano, Imaginarium Ensemble, Cantar Lontano.
I Bassifondi e Simone Vallerotonda são apoiados pelo CIDIM – Comitato Nazionale Italiano Musica.

 

 

 

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