“Rosa dos Tempos, orientações cruzadas em Patrimónios de Liberdade” é o título do novo ciclo de música e pensamento, dedicado ao diálogo intercultural e ao seu papel na história e na sociedade atual, promovido O Corvo e a Raposa Associação Cultural.
O concerto inaugural está marcado para sábado, 27 de Julho, às 17 horas, na Fortaleza de Sagres, com o Ensemble Med, que integra Daniela Tomaz (direção artística, flautas e percussão), Mariana Fabião (canto), bem como os convidados Xurxo Varela (viola da gamba) e o duo Sital Jugalbandi com Pandit Abhishek Adhikary e Dr.Murchana Adhikary Barthakur, na sitar indiana.
No dia seguinte, 28 de Julho, no mesmo local mas às 11h00, será a vez do Duo Sitar Jugalbandi, que irá fazer um segundo concerto de música indiana, inspirado nas Ragas matinais do Norte da Índia.
A associação O Corvo e a Raposa explica que «é no património – construído, material ou imaterial – que se inscrevem as marcas emocionais da História. Essas marcas imprimem carácter, realçam, esbatem e formatam o discurso histórico. O património não é por isso uma só coisa – tal como cada lugar não possui uma só narrativa, antes lugares, objetos, práticas culturais onde podemos imaginar e criar momentos, propor interpretações, deixar marcas do que pensamos ou acreditamos, num caminho mais ou menos estruturado».
A sua proposta traz ao espaço da Fortaleza de Sagres «um projeto inspirado na desregulação das orientações propostas pela sua Rosa dos Ventos. Chamámos-lhe por isso Rosa dos Tempos – um instrumento de orientação em que o tempo se sobrepõe ao espaço, libertando assim o lugar das convenções impostas pela navegação, pela natureza, pelo utilitarismo».
Na Rosa dos Tempos, «não indicamos direções obrigatórias e pré-estabelecidas, antes misturamos ocidente e oriente, como se fossem um só lugar; não propomos o sentido convencional da fusão, mas um conjunto de escolhas que se oferecem em permanência, e que estabelecem o vértice da escolha. A esquina do Promontório incita a esse vértice – o princípio da liberdade é a possibilidade de escolha de caminhos. Oriente e ocidente, norte e sul deixaram de existir – em troca temos o tempo passado, presente futuro. A Rosa dos Tempos fala também da desregulação do mundo, ao qual a arte tenta trazer sentido, beleza e liberdade», acrescenta O Corvo e a Raposa.
PROGRAMA
27 de julho, 17h00
Concerto Ensemble Med e Convidados
1524: O Rinoceronte Indiano
Ensemble Med
Daniela Tomaz (direção artística, flautas e percussão
Mariana Fabião (canto)
Xurxo Varela (viola da gamba)
Pandit Abhishek Adhikary (sitar)
Dr.Murchana Adhikary Barthakur (sitar)
A residência artística de criação “1524: O Rinoceronte Indiano”, é baseada no espírito de Descoberta do Outro, tão característico do século XVI, das Viagens Marítimas Portuguesas, de que Sagres é pilar, nos 500 anos passados sobre a morte do navegador e explorador português Vasco da Gama.
“1524: O Rinoceronte Indiano” desenvolve-se entre a fusão da música antiga e a música indiana, evocando as sonoridades experienciadas no contexto da expansão portuguesa pelo Mundo. Apresenta obras de cancioneiros ibéricos e italianos do séc. XV/XVI e obras do repertório da música clássica e tradicional Indiana dos territórios portugueses na Índia, como Goa e Calcutá, inspirado nas viagens de Vasco da Gama. O projeto inspira-se na folia histórica de um tempo marcado por uma sede de conhecimento além-fronteiras.
O programa nasceu do projeto 1515: O Rinoceronte de Durer, encomenda do Município de Idanha-a-Nova, estreado via streaming, a partir da Igreja de São Pedro de Vir-a-Corça, a 6 de novembro de 2021, no ano em que se completaram 500 anos sobre a morte do rei D. Manuel I (1521-2021), propondo um novo olhar sobre a música do seu tempo.
Com direção artística de Daniela Tomaz (Ensemble Med) e direção musical de Adrián Rodriguez van der Spoel (Musica Temprana / Países Baixos), contando com o compositor e músico José Alberto Gomes (Sonoscopia / Porto).
28 de julho, 11h00-12h00
Sitar Jugalbandi
Pandit Abhishek Adhikary (sitar)
Dr.Murchana Adhikary Barthakur (sitar)
I Raga Todi
Uma bela Raga criada por Ramtanu Pandey (c. 1493/1500 – 26 Abril 1589), conhecido por Mian Tansen, uma lenda sem paralelo da Índia na corte do Império Mughal Shah Akbar no século XVI. O clima da melodia é triste e contemplativo e ao mesmo tempo meditativo.
Alap | Introdução e elaboração tradicional com alma da melodia indiana Raga Todi, desdobrando as notas musicais gradualmente sem ritmo.
Jod | A parte rítmica da elaboração em que o tempo aumenta lentamente através de conversas de dois sitars.
Jhala | A conclusão musical rápida de Alap e Jod.
II Dhun in Raga Bhairavi : Bliss of the Cosmos
ENSEMBLE MED
A Música Antiga não é Antiga. Somos contra o cronocentrismo, i.e. a ideia de que a Música do Presente é uma Evolução em relação à Música do Passado: “A Música é a melhor luta contra a Amnésia Histórica da humanidade” (nas palavras de Jordi Savall).
Nasceu em Utrecht, Países Baixos e desde então tem-se apresentado regularmente ao público não só nos Países Baixos, como na Geórgia, Turquia, França e Portugal, destacando mais recentemente Auditório André de Gouveia | Cité Universitaire em Paris, Sinagoga Bet Israel em Esmirna (Turquia), Festival Imago Mundi (Clermont-Ferrand, França), Museu Oriente (Lisboa), onde estiveram ao vivo na Antena2.
São o Ensemble residente do encontro de artistas da Bacia do Mediterrâneo ENCONTROS MED [mediterrâneo/medieval], sob a inspiração da tradição dos Adufes, um dos símbolos maiores da tradição e riqueza musical do concelho de Idanha-a-Nova (Portugal), em parceria com o Município, Cidade Criativa da Música da UNESCO e entidade parceira do Ensemble, desde 2018.
Em 2020/2021, devido à pandemia de Covid19, o Ensemble propôs um novo olhar sobre a música antiga e a eletrónica em tempo real, em parceria com o músico José Alberto Gomes (Sonoscopia / Porto).
Em 2020 estrearam “O Canto da Sibila”, com direção musical de Maurício Molina (Curso Medieval de Besalu / City University of New York), assim como “Dies Irae” para eletrónica solo, e em 2021, estrearam “1515: O Rinoceronte de Dürer”, com direção musical de Adrian Rodriguez Van der Spoel (Música Temprana), evocando a música do tempo de D. Manuel I no ano em que se completaram 500 anos sobre a sua morte (1521-2021), e apresentando obras de cancioneiros ibéricos e italianos do séc. XV/XVI e duas obras para eletrónica solo e com canto ‘A los banos del amor’I e II.
Em 2023 são selecionados como European Festival Emergent Artist (EFFEA) da European Festivals Association, com o projeto ADUFEIR@, residência artística de criação sobre património de tradição oral da aldeia histórica de Monsanto com Amélia Fonseca (Adufeiras de Monsanto) e José Alberto Gomes (composição e eletrónica), em parceria com Tamburi Mundi (Alemanha), Barabanza (Ucrânia) e Valmiermuižas Etnomūzikas Festivāls (Letónia), que estreará nos Encontros Med, 8-10 Dezembro 2023.
O programa “Diálogo Interculturas no Mediterrâneo Medieval” tem sido cofinanciado pela Direção Geral das Artes, Instituto Português de Camões IC, Programa Shuttle do Município do Porto e Programa Ibermúsicas, através do qual se apresentaram em setembro 2023, no Festival Internacional Artes Vertentes, Tiradentes, Brasil.
SITAR JUGALBANDI
O sitar é um dos cordofones mais importantes e populares da Ásia Central na tradição da música clássica indiana. Os mestres educadores, compositores e investigadores – Pandit Abhishek Adhikary e Dr. Murchana Adhikary Barthakur da Índia – ganharam eminência e popularidade através da sua apresentação meditativa, virtuosa e graciosa da sua arte.
A sua música incorpora a herança da música tradicional indiana. A compreensão e os diálogos entre as duas cítaras criam um efeito agradável e estético nos ouvintes.
A música sempre foi uma parte integrante das suas vidas. Pertencendo a famílias de música tradicional, o casal de cítaras dedica-se ao desenvolvimento e à promoção da música indiana e afegã, não só através de atuações em palco, mas também ensinando com sucesso estudantes em todo o mundo.
Tendo feito o seu mestrado e doutoramento em música instrumental na Universidade Rabindra Bharati, em Calcutá, e na Universidade Khairagarh, em Chhattisgarh, na Índia, passaram cinco anos a reconstruir as pedras e os espíritos da arte e da cultura do Afeganistão através do ensino da música como professores de cítara e sarod no Instituto Nacional de Música do Afeganistão, em Cabul, de 2015 a 2019.
As contribuições do casal tocador de sitar foram mostradas no documentário realizado pela equipa do Prémio Polar em 2018.
Trabalharam como professores de sitar e fazem parte do painel de examinadores externos, tanto a nível de licenciatura como de mestrado, em muitos institutos e universidades na Índia – Calcutta School of Music, Welham Girls’ School Dehradun, Ostad Bhagaban Sitari Memorial School, Kolkata, Chaulkhowa Music College em Assam, Dibrugarh University Assam, Rabindra Bharati University Kolkata e atualmente trabalham no Instituto Nacional de Música do Afeganistão em Portugal (ANIM P).
Sitar Jugalbandi reside atualmente em Braga, Portugal. O ensemble começou a sua jornada em 2009 e desde então receberam muitos prémios e títulos como Surashri, Surmani, Nirod Baran Award, National Scholar do Governo da Índia, Pandit Nikhil Banerjee Award, para citar alguns.