A exposição “Balsa, Cidade Romana”, patente no Museu Municipal de Tavira/Palácio da Galeria, que deveria terminar a 28 de Setembro, vai manter-se até 25 de Janeiro próximo, tal tem sido o sucesso.
A novidade foi adiantada na apresentação do catálogo da exposição. Primeiro, a presidente da Câmara Ana Paula Martins manifestou o desejo de continuar a mostra por mais uns tempos, já que tem sido um «sucesso», pela «quantidade de pessoas que têm visitado a exposição, nomeadamente muitos tavirenses». Até meados deste mês de Julho, já tinha sido visitada por mais de 10 mil pessoas.
Pouco depois, o diretor do Museu Nacional de Arqueologia, de onde provêm muitas das peças que ali podem ser vistas, deu a boa notícia: a exposição vai mesmo continuar até quase ao fim de Janeiro.
A autarca não estranha o sucesso, sobretudo entre o público local, já que «Balsa sempre foi uma coisa mítica para os tavirenses».
Celso Candeias, arqueólogo municipal e um dos coordenadores científicos do catálogo e da exposição, começou por agradecer aos «três proprietários que autorizaram a nossa entrada nos seus terrenos» para fazer as mais recentes investigações. Uma dessas proprietárias foi até uma das muitas pessoas presentes no lançamento do catálogo, que decorreu na rua, à sombra do Palácio da Galeria, numa tarde de muito calor.
O arqueólogo recordou os objetivos principais das mais recentes campanhas de investigação na zona de Balsa, situada em Torre d’Aires, à beira da Ria Formosa: «perceber as reais dimensões da cidade», e «se ainda havia estruturas lá ou se já estava tudo destruído».
Quanto às dimensões da cidade romana de Balsa, com base nos «dados recolhidos com prospeções geofísicas (georradar) e sondagens», os investigadores chegaram à conclusão «de que a cidade não tinha os 47 hectares» que alguns investigadores, em tempos, aventaram, «mas cerca de 10 hectares».
Cai assim por terra a ideia de que Balsa seria uma cidade romana mais importante e maior, em área, que Olissipo (Lisboa) ou Ossónoba (Faro). As dimensões definidas pelas prospeções geofísicas, segundo o arqueólogo Celso Candeias, colocam-na «em linha com as outras cidades provinciais». Balsa era «importante», mas apenas «sede de um pequeno município romano».
No que respeita à presença de estruturas dos edifícios e equipamentos da milenar cidade, constatou-se que «há realmente zonas que já foram arrasadas, mas outras com muros de um metro e tal de altura». Por isso, anunciou o arqueólogo municipal, há estruturas que, «no futuro, queremos musealizar» e tornar visitáveis.

Celso Candeias recordou que, nos últimos anos, o «projeto teve sessões públicas de divulgação sempre que havia uma nova campanha arqueológica».
«O nosso projeto é para a comunidade e alegra-me ver aqui tanta gente. Isto acontecer, acontecia, mas sem vocês não era a mesma coisa», disse o arqueólogo.
Foi precisamente numa das sessões públicas que foi lançada a ideia da exposição, que começou por ser pensada como «uma coisa pequena, com uns painéis», mas acabou por se transformar numa mostra bem estruturada e muito interessante.
António Carvalho, diretor do Museu Nacional de Arqueologia (MNA), entidade onde estão guardadas muitos dos objetos arqueológicos que agora, em alguns casos, são mostrados pela primeira vez ao público, salientou que a ligação do MNA ao Algarve é «fundacional».
É que este grande museu nacional em Lisboa – que «guarda 3160 sítios arqueológicos» de todo o país – foi criado com as coleções de Leite de Vasconcelos e do algarvio Estácio da Veiga, onde a arqueologia da região era dominante.
«Em democracia, o MNA e as autarquias do Algarve souberam encontrar-se em parcerias», sublinhou. E assim irá continuar, vaticinou António Carvalho.
A presidente da Câmara de Tavira aproveitou o lançamento do catálogo da exposição para agradecer o trabalho de investigação da Universidade do Algarve e o apoio financeiro da Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional.
Quanto à obra, Ana Paula Martins sublinhou que o «catálogo vai perpetuar a exposição».
O diretor do MNA, aliás, já tinha elogiado a qualidade da obra, dizendo que «podíamos ter este catálogo em qualquer livraria de um grande museu pelo mundo fora». «A exposição é efémera, mas o catálogo, que é um livro, fica para sempre», reforçou.

O arqueólogo João Pedro Bernardes, da Universidade do Algarve, investigador responsável pelo projeto de Balsa, acrescentou que o «catálogo é, de certa forma, uma homenagem a todos os investigadores que passaram por Balsa, a começar pelo Estácio da Veiga, pelos Maias [Manuel e Maria Maia], Luís Fraga da Silva, Janette Nolan, José de Encarnação e muitos outros que se dedicaram esclarecer e entender o que era essa cidade que, há dois mil anos, se edificou aqui no território tavirense».
Mas o catálogo, acrescentou, procura igualmente «reunir várias gerações de investigadores», «desde jovens, ainda estudantes», até «investigadores seniores, de 80 anos, como o professor Vasco Mantas», que é o autor de um «artigo que tornará este catálogo um livro de referência obrigatória», porque «trata de duas inscrições imperiais, dedicadas aos imperadores pelo povo balsense, e que estavam ilegíveis, mas que, devido às novas tecnologias, foi possível ler».
A obra é ainda uma «forma de agradecer a todos aqueles que quiseram colaborar com as investigações, como a dra. Vera Barafusta», uma das proprietárias dos terrenos onde se situava Balsa. «Esperamos que essa boa vontade possa continuar no futuro», desejou João Pedro Bernardes.

E do que trata o catálogo? Reúne nove artigos de autores diversos, começando «antes de Balsa», porque é que esta povoação surge, «porquê aqui e não noutro sítio», aborda a história da investigação sobre a quase mítica cidade romana até à atualidade, revela monumentos antigos e inscrições inéditas, fala da sociedade balsense ou das moedas aí cunhadas ou descobertas, das cerâmicas, que «atestam as relações comerciais», às vezes bem longínquas, da cidade, analisa os utensílios do cirurgião romano ali encontrados ou as necrópoles romanas. E não esquece «o trabalho quase invisível da conservação arqueológica».
Depois, inclui «um catálogo das peças em si», tal como surgem na exposição. Finalmente, apresenta o projeto de museografia, da autoria da arquiteta Célia Anica.
Ou seja, a obra, que agora pode ser comprada na loja do Palácio da Galeria/Museu de Tavira, «transforma em permanente esta exposição que é efémera por natureza».
A exposição culmina o projeto de investigação “Balsa, Searching the Origins of Algarve”, liderado pela Universidade do Algarve e pelo Centro Ciência Viva de Tavira, tendo contado com o apoio financeiro, logístico e técnico do Município de Tavira, bem como do apoio da extinta Direção Regional de Cultura do Algarve.
Esta exposição sobre o centro urbano que há dois mil anos se desenvolveu nas margens da Ria Formosa, perto de Luz de Tavira, reúne peças pertencentes ao acervo de vários museus e instituições, como o Museu Nacional de Arqueologia, Museu Municipal de Tavira, Museu Arqueológico do Carmo/Associação dos Arqueólogos Portugueses, Museu Municipal de Faro, Museu Municipal de Olhão, Museu Paroquial de Moncarapacho e Unidade de Cultura da Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Algarve, bem como de coleções particulares.
Ao longo de 10 salas, são dados a conhecer diferentes aspetos desta antiga cidade, desde as mais antigas referências à sua existência até às mais recentes investigações.
Fotos: Elisabete Rodrigues | Sul Informação
Situada no extremo Sudoeste da Península Ibérica, a cidade romana de Balsa é um dos sítios arqueológicos mais importantes e emblemáticos do sul de Portugal.
A partir de um trabalho de campo multidisciplinar e de uma investigação integrada com recurso a novas tecnologias, o projeto de Balsa visa contribuir para o esclarecimento das origens do Algarve através do estudo da mítica cidade romana, qualificando, dessa forma, a Ria Formosa e a região do ponto de vista da sua atratividade cultural.