Para Maria Ramos, Rosa Fernandes e Maria João, os dias nunca mais foram os mesmos desde que começaram a participar nas atividades do Projeto Saúde Mental 360º Algarve. Nestas mulheres, todas com mais de 70 anos, transparece a alegria de viver, a vontade de convívio e, acima de tudo, o gosto por aprender.
É quarta-feira à tarde e, por volta das 15h00, já está tudo a postos para começar a segunda atividade do dia – uma sessão de estimulação cognitiva.
É no Espaço Saúde em Diálogo, em Faro, que Maria Ramos, Rosa Fernandes e Maria João se reúnem com outras tantas senhoras, algumas que até já se tornaram amigas.
Maria Ramos tem 80 anos e é uma das frequentadoras mais antigas do Espaço Diálogo.
«Andava na Universidade Sénior e quando soube que iam começar com este projeto, em 2020, quis logo participar. Este sítio é muito importante porque aqui podemos esclarecer todas as nossas dúvidas, evitamos as filas no hospital, e também podemos desanuviar nos dias em que “dói a perna ou dói o braço”», desabafa.
«Trabalhei toda a vida e agora isto é muito bom porque se me tivesse fechado em casa já tinha morrido», diz.
Este projeto nasceu exatamente para isso, para dar mais vida e alegria aos idosos.
«O Saúde Mental 360º Algarve surge no seguimento de outra iniciativa, que desenvolveu um trabalho de literacia em saúde e terminou em Junho de 2023. Entretanto, fizemos uma candidatura à Fundação Belmiro de Azevedo, no âmbito de mais um projeto para idosos (a nossa população são pessoas com mais de 65 anos), mas que trabalhasse não só a literacia em saúde, que era o principal propósito do anterior 360º Algarve, mas que também se focasse no que é a saúde mental das pessoas na terceira idade», explica ao Sul Informação Ricardo Valente Santos, psicólogo e gestor do projeto Saúde Mental 360º Algarve.

De acordo com o psicólogo, a pandemia tornou evidente a necessidade que esta população tem de um acompanhamento mais específico a esse nível. «Nós já tínhamos atendimentos psicológicos, mas percebemos que isso apenas não chegava e eram necessárias mais atividades».
Aos atendimentos juntaram-se assim as sessões de estimulação cognitiva e promoção de competências socioemocionais, workshops de nutrição, ioga e atividade física adaptada.
De acordo com Ricardo Valente Santos, o projeto «tem sido um sucesso», havendo sítios onde as atividades juntam quase 30 pessoas.
«Eu acho que o benefício principal é ajudar a melhorar a vida dos idosos e, ao mesmo tempo, trabalhar a literacia em saúde, não só a física, mas também mental», assume, frisando que, no final de Novembro, o projeto Saúde Mental 360º Algarve já estava nos concelhos de Faro, Olhão e Loulé, com 113 atividades desenvolvidas e 120 utentes.
Rosa Fernandes, de 77 anos, também participa nas atividades desde o princípio e diz gostar de todas.
«Entretenho-me muito e sinto-me melhor. Já fiz muitas amizades e os professores também são extraordinários», conta ao nosso jornal, enquanto prepara o papel e caneta para começar o exercício de estimulação cognitiva.

Naquela quarta-feira a atividade da tarde já era a segunda de Rosa. De manhã tinha ido ao ioga.
«Faço atividades aqui que nunca pensei fazer. Este espaço é muito importante e muito bom, estou muito feliz de estar aqui», confessa.
Já Maria João, de 75 anos, conheceu o projeto através de uma amiga.
«Comecei a participar e agora acho essencial, só não venho quando não posso porque gosto muito do convívio com as pessoas», afirma.
Ricardo diz que, no início, era preciso ir à procura de idosos para participar nas atividades, mas agora «o passa a palavras já faz muita diferença».
No âmbito da visita do Bastonário da Ordem dos Farmacêuticos ao Espaço Saúde em Diálogo, nos dias 28 e 29 de Novembro do ano passado – onde foi feito um balanço do projeto “Literacia em Sáude” – Jaime Melancia, presidente da direção da Plataforma Saúde em Diálogo, destacou também o «potencial» destes projetos, desenvolvidos em parceria com as autarquias, «para chegar a uma população que muitas vezes nem tem conhecimentos de como pode melhorar a sua saúde».
Havendo financiamento, Jaime Melancia considera que o ideal seria conjugar o projeto “Literacia em Sáude” com o da Saúde Mental e outros que possam vir a surgir.
O responsável salientou ainda o facto de o Algarve ser a única região no país com «um espaço com estes projetos e esta dinâmica» e felicitou os profissionais pelo trabalho que têm desenvolvido.
O objetivo é que este projeto possa chegar a mais concelhos algarvios, a mais idosos e, quem sabe, que possa servir de exemplo para que consiga ser replicado noutras zonas do país.
O Projeto Saúde Mental 360º Algarve, promovido pela Plataforma Saúde em Diálogo e financiado pela Fundação Belmiro de Azevedo, decorre até Fevereiro de 2025.
Esta iniciativa visa promover a saúde mental da comunidade idosa algarvia vulnerável, através de atividades que potenciem o envelhecimento saudável com foco na saúde mental dos intervenientes, através de programa de prevenção e intervenção precoce com incidência na depressão, declínio cognitivo e prevenção do suicídio.
O projeto será alvo de avaliação do impacto da intervenção na qualidade de vida e bem-estar mental de cada participante (avaliação realizada pela Escola Nacional de Saúde Pública), através de uma abordagem integrada e centrada no cidadão, assente em parcerias e colaborações locais, tais como: municípios, freguesias, unidades de saúde, IPSS, associações de doentes, e outras entidades públicas e privadas na área social e da saúde.
Fotos: Cátia Rodrigues | Sul Informação