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Levar o Alentejo a Viena, na Áustria, através da música, da gastronomia e da simpatia. Esta foi a missão a que se propôs a organização do Festival Terras sem Sombra, levando na comitiva autarcas alentejanos, empresários, um diretor hoteleiro, um chef, entidades ligadas à cultura e jornalistas.

Este ano, o Terras sem Sombra tem como país convidado a Áustria, pelo que, de 29 de Setembro a 2 de Outubro, uma verdadeira missão diplomática alentejana deslocou-se até Viena, «para aprofundar laços com instituições deste país».

É que 2023 tem sido um ano paradoxal para o festival, já que, ao mesmo tempo que triunfa fora de portas e granjeia parceiros internacionais, foi preterido nos últimos concursos da Direção-Geral das Artes, à semelhança de muitas iniciativas artísticas situadas fora de Lisboa ou do Porto.

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«O Alentejo está em risco de perder a sua única temporada de música erudita; ainda há, em Portugal, quem entenda que um residente no interior não deve ter as mesmas oportunidades de acesso à cultura do que quem vive nas grandes áreas metropolitanas», salientou Sara Fonseca, diretora executiva do Festival.

«O equilíbrio que se tinha conseguido nos últimos anos vê-se agora posto em causa, mas não vamos cruzar os braços, temos que procurar fora do país a viabilidade que se nega, entre nós, a um festival alentejano com vinte anos de currículo», acrescentou. A Áustria é um parceiro sólido nesta caminhada.

Da agenda do Terras sem Sombra na capital austríaca, destacou-se a oportunidade para, no coração da Europa Central, evidenciar o carácter singular do festival, dada a sua tríplice dimensão, nas áreas da Música, Património e Biodiversidade, estabelecer pontes e aprofundar parcerias. Na realidade, um dos grandes objetivos era aliar a cultura à economia.

Momento assinalável da jornada alentejana na capital austríaca foi o recital com duas figuras destacadas da grande música nacional, a soprano Carla Caramujo e o pianista Pedro Costa.

Com o apoio da Embaixada de Portugal em Viena, o recital teve lugar num edifício muito emblemático da vida cultural e social austríaca, a Haus der Musik. Com o título “Ao Encontro da Alegria: A Música Portuguesa no Contexto da Música Europeia (Séculos XIX-XXI)”, Carla Caramujo e Pedro Costa revisitaram obras, por exemplo, de Franz Schreker, Lili Boulanger, António Fragoso, Francisco de Lacerda, Fernando Obradors, Richard Strauss e Fernando C. Lapa.

Seguiu-se uma receção na residência oficial do embaixador de Portugal em Viena, com a participação da comitiva portuguesa, mas também e sobretudo de muitos convidados austríacos. Vinhos da Vidigueira, enchidos e queijos alentejanos, entradas com base na tradição alentejana confecionadas pelo jovem chef David Proença, do Hotel Sines Seaview, fizeram as delícias dos convidados. Porque gastronomia também é cultura, foi mais uma forma de chamar a atenção para a especificidade do festival.

Os autarcas Rui Raposo e Luís Pita Ameixa, presidentes das Câmaras de Vidigueira e de Ferreira do Alentejo, respetivamente, bem como Francisco Silva Martins, adjunto do presidente da Câmara de Odemira, António Silvestre Ferreira, CEO da Herdade do Vale da Rosa, e ainda Pedro Santos, diretor do Sines Sea View Hotel, tiveram ainda ocasião de se reunir com a principal associação de empresários austríacos, bem como com a associação de municípios do país.

 

Sul Informação

 

Rui Raposo revelou ao Sul Informação que se tratou de «reuniões muito interessantes». «Do encontro com a associação que reúne todos os empresários da Áustria, à qual pudemos apresentar a nossa região, ficámos com uma porta aberta» para futuros contactos, acrescentou o autarca da Vidigueira.

«Agora cabe-nos a nós fazer chegar à Áustria aquilo que de melhor fazemos para conseguirmos aqui também alguma representação e algum interesse do país nos nossos produtos», concluiu.

Por seu lado, Luís Pita Ameixa, presidente da Câmara de Ferreira do Alentejo, disse que, «das várias reuniões, nomeadamente do domínio empresarial, com associações empresariais aqui da Áustria, de carácter nacional, vimos que há uma grande expectativa e uma boa aceitação das nossas propostas».

«Ficaram abertas portas e uma série de contactos, agora vamos pegar nisso e vamos concretizar. Nomeadamente, deixámos convites para líderes empresariais austríacos irem a Ferreira do Alentejo», acrescentou o autarca.

«Nós temos várias empresas, além do Vale da Rosa, cujo principal responsável nos acompanhou, com capacidade para produzir e exportar e também temos outras iniciativas para mostrar, nomeadamente os parques industriais de Ferreira, que nós estamos neste momento a promover para vender lotes para instalação de empresas», explicou ainda o presidente da autarquia de Ferreira do Alentejo.

 

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Muito satisfeito com a forma como correu a deslocação da comitiva alentejana a Viena, está também o comendador António Silvestre Ferreira, CEO da Herdade Vale da Rosa.

«Estou muito contente por ter tido esta oportunidade de contactar, não só com esta tão importante parte cultural que o Terras sem Sombra nos proporcionou, como também com os contactos, alguns tão importantes, que tivemos oportunidade fazer. Nomeadamente, o facto de estarmos na receção na casa do senhor embaixador, onde tive a oportunidade de conhecer pessoas extremamente importantes para o eventual desenvolvimento do negócio do Vale da Rosa, que é a exportação das suas uvas, para locais gourmet aqui na Áustria».

«Acho que os produtos do Vale da Rosa, sendo produtos gourmet, encontram naturalmente representantes à altura para poderem evidenciar o sabor da nossa região e dos nossos produtos», acrescentou.

 

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Por seu lado, Francisco Silva Martins, adjunto do presidente da Câmara de Odemira, deu nota do interesse manifestado por empresários austríacos nos vinhos e enchidos do concelho.

«Odemira tem, neste momento, um projeto diferenciador na área da transformação, embalamento e produção de enchidos, que, a par do trabalho que já vinha a ser feito pelo Matadouro do Litoral Alentejano, parece-nos que poderá ser aqui uma fileira a explorar, pelo que nos foi transmitido pelo embaixador», explicou.

«Na parte dos vinhos, se calhar destacaria aquele que foi do entendimento da embaixada e do que é a procura pelo tipo de vinho aqui na Áustria, o vinho Vicentino, que é produzido junto ao mar, no Brejão, na freguesia de São Teotónio, e que poderá, com estas reuniões que aqui decorreram, entrar no mercado da Áustria também».

Da reunião que a comitiva manteve com a reitora da universidade de Viena, fiocu a informação de que «neste momento, há um grande interesse, sobretudo por casais na terceira idade, que procuram o Alentejo e o nosso país para passar parte do seu tempo. Por isso, é provável que em breve tenhamos austríacos também no concelho de Odemira».

O balanço geral é positivo? «Muito positivo. Este tipo de representações são sempre uma mais-valia para os territórios, porque dão a possibilidade de entrar noutros países através da cultura, mas através de uma interligação com a economia», comentou ainda Francisco Silva Martins.

A delegação reuniu-se igualmente com Ana Maria Rosas, Conselheira Económica e Social da Embaixada de Portugal em Viena, e Gerald Exl. responsável da AICEP na Áustria, para debater o potencial que o Alentejo, e que possa interessar às empresas e consumidores austríacos e da Europa Central. Os vinhos, a gastronomia, as paisagens e a oferta turística estiveram em destaque neste encontro.

 

Sul Informação

 

No final desta incursão alentejana na capital austríaca, José António Falcão, diretor do Festival Terras sem Sombra, estava muito agradado. Para este responsável, «o balanço, que ainda é um pouco provisório, é francamente positivo».

«Nós tínhamos um grande objetivo, que era, sendo a Áustria, este ano, o país convidado do festival, apresentarmos em Viena uma programação que suscitasse o interesse local, sobretudo por parte dos melómanos e por parte, também, de todos aqueles que se interessam pela cultura portuguesa. Penso que esse objetivo foi conseguido», disse ao Sul Informação.

Um dos exemplos do sucesso é, para José António Falcão, o recital de Carla Caramujo, «uma soprano que tem um nível internacional e que está a fazer muito pela internacionalização da música portuguesa. A sua colaboração com Pedro Costa foi absolutamente surpreendente. Estamos a falar de dois grandes artistas que podem ter um papel crucial na divulgação do que é a atual música portuguesa no mundo».

Um dos grandes objetivos da deslocação da comitiva alentejana à Áustria era aliar a cultura à economia. A esse nível houve bons resultados?

«A cultura tem esta capacidade de ser um espaço comum a todos e de ser a locomotiva de outras realidades. Realidades económicas, sociais, políticas ou até de simples conhecimento de territórios. Acho que foi muito positivo isso», respondeu o diretor do Terras sem Sombra.

«A experiência que levamos daqui é uma experiência consolidada, no sentido de deixarmos sementes sólidas num terreno que é realmente fértil. Agora compete-nos também dar continuidade a isto. Nós, quando temos um país convidado, nunca interrompemos a colaboração com ele e certamente ainda ouviremos falar muito da Áustria no Alentejo», sublinhou.

 

Sul Informação

 

No final desta deslocação a Viena de Áustria, o que é que fica?

«Ficam sementes no terreno que têm todas as condições para eclodir», garantiu José António Falcão.

«Os contactos foram sólidos, o festival, que já era conhecido em Viena, conseguiu, de alguma maneira, dar continuidade a esse trabalho. E estamos já a preparar alguns projetos concretos para os dois anos seguintes».

«Estas sementes foram interessantes do ponto de vista artístico, do ponto de vista musical e das relações culturais. Há a destacar que a figura tutelar do professor Palma Caetano ajudou muito nisto. Ele preparou o caminho que nós estamos agora a trilhar».

«Mas creio que há também esta perspetiva muito nossa de que a cultura pode alavancar atividades do âmbito económico, do âmbito social, do âmbito do conhecimento dos territórios. Também aí se abriram portas, nomeadamente com a federação dos municípios da Áustria, com algumas empresas de referência e com outras instituições, aqui guiados pela AICEP e pela embaixada portuguesa em Viena».

«A grande prioridade do festival é conseguir ter uma temporada musical no Alentejo, não sermos uma zona secundária desse ponto de vista artístico e cultural, no panorama europeu. Temos que estar na primeira divisão nesse aspeto. E a região tem que lutar por isso», acrescentou.

«Outra coisa também muito importante, é internacionalizar o Alentejo, levar este nome mais longe. As duas experiências que fizemos em 2023 penso que são passos de gigante nesse sentido. A primeira foi em Albarracin, Espanha, no mês de Agosto, e agora aqui em Setembro/Outubro, em Viena de Áustria», concluiu o diretor do Festival Terras sem Sombra.

De volta ao Alentejo e após a apresentação em Viena, o festival retoma a sua programação com um novo fim-de-semana de atividades, a 14 e 15 de Outubro, no concelho de Odemira, seguido de Vidigueira (28 e 29 de Outubro), Arraiolos (11 e 12 de Novembro), Montemor-o-Novo (2 e 3 de Dezembro), Sines (16 de Dezembro) e Évora (data a confirmar).

 

 
 

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