ICNF e LPN libertam 17 crias de Tartaranhão-caçador no Alentejo

Este ano, das 21 crias que nasceram em cativeiro, sobreviveram e foram libertados 17 juvenis

Foto: Carlos Carrapato | ICNF (arquivo)

Dezassete juvenis de Tartaranhão-caçador (Circus pygargus), nascidos em cativeiro, foram libertados no Alentejo, numa iniciativa do Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF), através da Direção Regional da Conservação da Natureza e Florestas do Alentejo, em parceria com a Liga para a Proteção da Natureza (LPN).

Segundo o ICNF, trata-se de uma «ação de extrema importância, que se espera vir a contribuir para a manutenção da espécie no Alentejo».

O tartaranhão-caçador é uma espécie migradora, que existe enquanto reprodutor na Eurásia e Norte de África, desde a Península Ibérica e Marrocos, até cerca do paralelo 60, no sul da Sibéria e Ásia Norte-central. Inverna na África subsariana, principalmente no Sudão, Etiópia e Leste de África e também no subcontinente Indiano.

Em Portugal, a espécie surge como nidificante em especial na metade Este do país, nomeadamente nas planícies do Alentejo e nos planaltos serranos do centro-leste e norte.

 

Libertação de juvenis de tartaranhão-caçador – Foto: Carlos Carrapato | ICNF

 

«A alteração das culturas e das práticas agrícolas e pecuárias, que se registaram na última década, terão contribuído para o declínio acentuado da espécie, decorrente da afetação direta do habitat e do aumento de impactes negativos sobre os locais de nidificação e consequentemente sobre o sucesso reprodutor», explica o ICNF.

Face ao acentuado decréscimo do número de casais, à semelhança do ano passado, realizou-se o programa de resgate e salvamento de ovos e crias especificamente direcionado para esta espécie.

A concretização deste Programa «só foi possível com a colaboração e boa vontade dos agricultores que ajudaram na identificação de ninhos e alteraram as suas práticas agrícolas para implementar as medidas de proteção da espécie».

O ICNF acrescenta que «este ano, pela primeira vez, foi disponibilizado um apoio específico no âmbito do PEPAC – Plano Estratégico da Política Agrícola Comum – para proteção da espécie nas searas de cereais praganosos e noutras culturas para a produção de forragem».

Este apoio financeiro do PEPAC é de carácter anual e implica não cortar, nem pastorear, uma área de um hectare de seara em torno de cada ninho referenciado, cuja colheita se realize antes de 30 de Julho, tendo decorrido em simultâneo com o resgate e salvamento.

Esta medida permitiu a salvaguarda no campo de 33 ninhos de tartaranhão-caçador.

 

Libertação de juvenis de tartaranhão-caçador – Foto: Carlos Carrapato | ICNF

 

Além da intervenção no habitat natural (in situ), o programa de resgate e salvamento inclui também uma componente de conservação fora do ambiente natural (ex situ), com a recolha dos ovos mais expostos a predação e outras ameaças.

No Alentejo, esta etapa iniciou-se no passado mês de Abril com a deteção dos casais de tartaranhão-caçador em áreas potenciais de reprodução, nomeadamente em áreas destinadas à produção de feno, no Baixo Alentejo e Alto Alentejo.

Os 37 ovos recolhidos foram encaminhados para um centro de criação em Beja, onde se desenvolveram sob condições especiais.

O processo de incubação implica a monitorização constante da perda de peso de cada ovo a cada 48 horas, para serem incubados com a humidade adequada e assim maximizar o sucesso da operação.

Após o nascimento, inicia-se a fase de alimentação das crias, que se realiza em ciclos de quatro a cinco refeições diárias, em ambiente climatizado.

Depois dos primeiros 15 dias, as crias foram transferidas para uma jaula em meio natural, onde foram ambientadas para posterior devolução à natureza (Hacking).

Este ano, das 21 crias que nasceram em cativeiro, sobreviveram e foram libertados 17 juvenis.

 

Emissor colocado em juvenil de tartaranhão-caçador – Foto: Carlos Carrapato | ICNF

 

Os juvenis foram anilhados para identificação e reconhecimento dos exemplares libertados e colocados emissores, cedidos pela empresa Birds & Nature Tours Portugal, para que seja possível seguir as suas rotas migratórias, até ao seu destino de inverno em África.

«No Alentejo, fica a expectativa de os poder voltar a ver, dentro de três anos, nas planícies onde foram gerados, garantido a presença da espécie no território de origem», conclui o ICNF.

 

 

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