O consumismo domina a nossa vida colectiva e, é uma daquelas verdades lapalicianas, a sociedade de consumo tem especial aptidão para aproveitar todos os motivos e todos os assuntos que interessam às nossas ansiedades e preocupações para as transformar em novas formas de lucro.
O Ambiente está na moda, infelizmente nem sempre pelas melhores razões – pior do que isso, aproveitam-se as boas razões para fazer delas grandes negócios.
Está a ser notícia o grande investimento duma empresa produtora de energia num enorme parque fotovoltaico na região de Santiago do Cacém. Os grandes investidores, empresas e fundos abutres, perceberam que investir nas energias renováveis, em especial na fotovoltaica, era mais rentável que investir noutros ramos de actividade – e vai daí entra em Portugal a megalomania de parques fotovoltaicos. Quanto maiores, melhor!
A política de Ambiente seguida em Portugal nos últimos tempos tem sido desastrosa em vários sentidos, desde o decréscimo de valorização das Áreas Protegidas, voltando a Conservação da Natureza a ser apenas uma forma de ornamento e não um pilar fundamental do Ambiente, perdendo o outro pilar estrutural que é o Ordenamento do Território, até um laxismo confrangedor na defesa do essencial do património natural e da biodiversidade. Não basta proclamar grandes tiradas de retórica, seria mil vezes preferível falar menos e fazer mais e mais acertadamente.
Os portugueses, num futuro não muito distante, irão julgar quem assim destruiu, conscientemente, com trapaças ambientais, a base de sustentabilidade do país.
Agora apregoa-se a grande benesse social que advirá de instalar painéis fotovoltaicos para fornecer energia limpa, mas isso aparece muitas vezes como contrapartida à destruição de valores ecológicos do espaço biofísico – não há até agora a legislação (e a vontade política) para o uso correcto do Ordenamento do Território, impedindo a localização indevida desses equipamentos.
Têm sido anunciados grandes parques fotovoltaicos, agora o de Santiago do Cacém com mais de mil e duzentos hectares de área coberta, o qual, mesmo sendo em terrenos de eucaliptos, vai destruir uma mancha verde, que poderia e devia certamente ser de outra espécie ecologicamente mais correcta, mas que fica definitivamente arredada do seu uso florestal.
Na periferia de Loulé, no vale da ribeira da Goldra, existe uma considerável mancha de vegetação arbórea e arbustiva que, devidamente tratada e melhorada como floresta autóctone, constitui um verdadeiro parque biológico para aquela cidade.
Pois anuncia-se para lá que uns 40 hectares serão aproveitados para implantar um parque fotovoltaico. Sendo terrenos non aedificandi, o seu valor no mercado fundiário é reduzido, mas fica assim altamente valorizado com este equipamento, para o qual não faltarão no concelho terrenos e encostas sem aproveitamento.
Não temos em Portugal uma política de Ambiente, convicta e séria, que concilie a Conservação da Natureza com o Ordenamento do Território, as duas bases essenciais da complementaridade ambiental, e que teria de saber separar o trigo do joio, não permitindo este uso abusivo do solo.
Autor: Fernando Santos Pessoa é arquiteto paisagista e engenheiro silvicultor. Foi fundador do Serviço Nacional de Parques… e escreve com a ortografia que aprendeu na escola
Comentários