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Nela cabem Lídia Jorge, António Aleixo, João de Deus, Cândido Guerreiro, Sophia de Mello Breyner, Júlio Dantas e muitos mais. O Algarve já tem uma Rota Literária que percorre o território, sempre com o mesmo propósito: e se passássemos a olhr a região «também pelo prisma da literatura» e «não só pelos areais bonitos e água quentinha»?

Em 1950, Miguel Torga publicou um dos seus principais livros. “Portugal” é o retrato do país que o escritor percorreu, registando paisagens, monumentos e sentimentos.

Um dos capítulos é dedicado ao Algarve.

vila do bispo

E diz o escritor logo no início: «O Algarve, para mim, é sempre um dia de férias na pátria. Dentro dele nunca me considero obrigado a nenhum civismo, a nenhuma congeminação telúrica nem humana».

Mais tarde, concretiza: «no fundo, e à semelhança dos nossos primeiros reis, que se intitulavam senhores de Portugal e dos Algarves, separando sabiamente nos seus títulos o que era centrípeto do que era centrífugo no todo da Nação, não me vejo verdadeiramente dentro da pátria».

O texto de Torga fala do Algarve como um «paraíso», mas também de um sítio votado ao esquecimento – «a política não entrou ali. A literatura não pontifica ali. O ritmo das horas não é quebrado pelos solavancos dos jornais e rádio. Quando as notícias chegam, já é tarde».

Sílvia Quinteiro e Rita Baleiro, professoras na Universidade do Algarve, são as mentoras da nova “Rota Literária do Algarve” e tiveram esse esquecimento do Algarve muito presente.

Daí que assumam, sem rodeios, que um dos objetivos é mesmo «contrariar Miguel Torga»; mostrar «que não tinha razão» e que esta também é uma terra de escritores e de muito mais do que só um local de férias.

 

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Sessão de lançamento da Rota Literária do Algarve – Foto: Pedro Lemos | Sul Informação

 

A ideia de criar esta rota, que é inédita na região, nasceu em 2016.

«Nós já trabalhávamos em literatura e turismo, somos investigadoras nessa área e houve uma ida a Alte, em 2016, em que percebemos que havia ali um património literário que não era suficientemente usufruído», explica Sílvia Quinteiro.

O clique deu-se quando, nesse passeio, as investigadoras viram um conjunto de turistas, estrangeiros e portugueses, a ler poemas de Cândido Guerreiro, nuns azulejos perto das fontes, sem «perceberem bem o que ali estava».

«Depois de falarmos sobre a possibilidade de traduzir os painéis que lá estão, pensámos por que não fazer uma oferta mais estruturada?», conta Sílvia Quinteiro.

Assim nasceu, em 2017, o primeiro itinerário, na altura só dedicado a Alte e a Cândido Guerreiro.

Pouco tempo depois, houve mais um, sobre o Ameixial, criado por alturas do Festival de Caminhadas, até que Sílvia Quinteiro e Rita Baleiro perceberam que gostariam mesmo «de criar uma rota literária por todo o Algarve».

O Orçamento Participativo Portugal (OPP) de 2018 possibilitou tornar o sonho realidade: a “Rota Literária do Algarve” foi um dos projetos mais votados e nasceu oficialmente agora, em Dezembro de 2022.

No total, há 16 itinerários à escolha, em quase todos os concelhos – faltam Albufeira, Lagoa, Portimão e Aljezur, mas a Direção Regional de Cultura do Algarve vai dar uma “ajuda” nos municípios que ainda não constam.

A rota tem um total de 175 textos literários, de 85 autores.

Esta é uma rota que se centra nos lugares e na maneira como os autores se relacionam com esses mesmos locais. Há textos de escritores algarvios, mas também de autores que, não sendo naturais da região, escreveram sobre ela.

Por exemplo: o itinerário de São Bartolomeu de Messines é dedicado a João de Deus, o autor da “Cartilha Maternal”, percorrendo locais icónicos da vila.

 

Sul Informação
Foto: Direção Regional de Cultura do Algarve

 

O de São Brás de Alportel também passa por vários sítios, à boleia de muitos escritores, como José Dias Sancho ou Bernardo Passos, mas em Lagos há textos de Sophia que, não sendo algarvia, tinha casa em Lagos.

Rita Baleiro explica que o ponto de partida, para cada itinerário, «foi sempre ao local e começar a identificar lugares associados aos autores».

«A partir daí, foi definir locais de paragem, com a preocupação que os itinerários fossem todos relativamente fáceis, até porque a nossa ambição é também chegar às escolas», acrescenta.

A pandemia, reconhecem as mentoras desta iniciativa, foi um entrave

Lançada a rota, cujos textos são de vários géneros (poesia, contos, crónica, lendas, teatro e literatura de viagens), o objetivo passa por levá-la ao maior número de pessoas possível.

«Já temos um site, redes sociais e a nossa ideia é também ir às escolas e falar com a própria Região de Turismo do Algarve. Queremos ir onde for preciso para divulgar a nossa rota», garante Sílvia Quinteiro.

O objetivo é sempre o mesmo.

«Nós queremos que se veja o Algarve também pelo prisma da literatura e mostrar aos algarvios que nós temos razões para nos orgulhar além do sol, da praia e das chaminés bonitas», concluem.

 

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