Azeite regista quebra de produção em Portugal, mas não vai faltar

Produção também baixou em Espanha, Itália, Tunísia e Marrocos, por causa da seca

Apanha da azeitona – Foto: Hugo Rodrigues | Sul Informação (arquivo)

O setor oleícola esteve reunido esta semana no Instituto Politécnico de Beja, para discutir os desafios energéticos do agroalimentar e a economia e sustentabilidade social, no âmbito da 9ª edição das Olivum Talks.

Depois de um ano de 2021 em que o setor oleícola bateu todos os recordes, com 200 mil toneladas de azeite e 700 milhões de euros em exportações, 2022 vai ser um ano de contra-safra e a quebra na produção de azeite já é uma realidade.

Catarina Bairrão Balula, membro do Conselho Oleícola Internacional (COI), reconheceu que «este será um ano complicado», mas adiantou que os resultados nunca deverão ficar abaixo dos das campanhas de 2016 e 2017 – cerca de 75 mil toneladas.

A especialista afastou ainda quaisquer cenários de escassez de azeite ou de subida acentuada dos preços, deixando uma garantia: «temos um grande stock da produção do ano passado que se soma aos stocks de anos anteriores e haverá resposta para a procura».

Catarina Bairrão Balula alertou ainda para o facto de outros países, à semelhança de Portugal, também registarem este ano quebras acentuadas na produção de azeite, como são os casos de Espanha (-50%), Itália (-30%) e ainda da Tunísia e de Marrocos. Já a Grécia está em contraciclo e deverá registar um aumento de 30%, assim como a Turquia.

 

 

Na sessão de abertura da 9ª edição das Olivum Talks, o presidente da Comissão Parlamentar de Agricultura e Pescas, o deputado alentejano Pedro do Carmo, sublinhou que «a olivicultura é parte da solução, nunca o problema» e que «em tempos de incertezas e de dificuldades», como os que se vivem, «o olival é vital e dá um contributo ainda mais decisivo para as economias locais e para a economia nacional».

No âmbito da Economia e Sustentabilidade Social – tema do segundo painel e que contou com a participação de Ana Paula Amendoeira (diretora regional de Cultura do Alentejo), Beatriz Pimentel (Driscoll’s, coordenadora ibérica para as iniciativas de impacto social e ambiental), David Ferreira (Randstad, diretor de staffing e inhouse) e João Cortez de Lobão (Herdade Maria da Guarda e presidente da Assembleia Geral da Olivum) – os oradores abordaram os desafios que as empresas do setor vivem ao nível da responsabilidade social, ambiental e cultural.

Aqui destacou-se a importância da harmonia no ambiente de trabalho, do conhecimento criterioso das regras de trabalho e dos esforços das empresas para esbater os efeitos da inflação e da subida de preços dos alimentos na vida e nas carteiras dos seus colaboradores.

João Cortez de Lobão defendeu a procura de soluções criativas por parte das empresas e deu exemplos que estão a ser equacionados – a distribuição de lucros pelos trabalhadores, que tem taxas de impostos mais baixas e não implica descontos para a segurança social, ou a oferta de cabazes alimentares aos trabalhadores em determinados momentos.

«Nos próximos três a quatro anos temos de ter criatividade e minimizar os efeitos da inflação, que come o poder de compra», afirmou o presidente da Assembleia Geral da Olivum.

 

 

No painel dedicado aos desafios energéticos do setor agroalimentar, foi reconhecido o papel do setor oleícola no reaproveitamento das energias que consome e o seu contributo para a sustentabilidade energética.

João Gonçalves, presidente da APAMB – Associação Ambiental, chamou a atenção para o facto de a indústria agroalimentar ser muitas vezes alvo de críticas apenas por questões de perceção.

E assumindo que essas críticas continuarão sempre a existir defendeu que «é importante encontrar caminhos e soluções que possam desmistificar essas ideias, que mostrem que há um reconhecimento da forma como se produz e consome energia neste setor». Para tal, acrescentou que as análises evolutivas do setor têm um papel fundamental e que devem continuar a ser feitas porque são dinâmicas. «O setor pode defender-se com números e evidência cientifica», rematou.

Pedro Horta, da Universidade de Évora, defendeu, por seu lado, que as energias renováveis vão ser a solução para a sustentabilidade do setor oleícola e de todos os outros setores – apontando a meta de 86% de energias renováveis em 2050.

Já José Pedro Salema, presidente da EDIA, empresa de desenvolvimento e infraestruturas do Alqueva, destacou o facto de a estratégia de independência energética da empresa ter como objetivo salvaguardar o futuro do planeta, mas também de garantir que os preços da energia que consome se mantêm.

 

 



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