Terras sem Sombra: «perspetiva-se um grande fim de semana» em Mourão

Além da grande música vinda da Europa Central, o programa inclui uma visita ao castelo de Mourão e uma ação de biodiversidade em torno de Alqueva

O Festival Terras sem Sombra estreia-se, no próximo fim de semana, no concelho alentejano de Mourão, com um programa em que se destaca o concerto pelo agrupamento checo Janáček Quartet (30 de Julho, 21h30, Igreja Matriz).

A anteceder a grande música vinda da Europa Central, o Festival propõe uma visita ao castelo de Mourão (30 Julho, 17h00) e uma ação de biodiversidade em torno de Alqueva e dos desafios que o grande lago trouxe ao território (31 Julho, 9h30).

José António Falcão, diretor geral do Festival Terras sem Sombra, em entrevista ao Sul Informação, salientou que «Mourão é uma terra maravilhosa que tem para oferecer duas componentes essenciais: tem um património, de certo modo, único, e é das zonas do Alentejo mais importantes do ponto de vista da biodiversidade. Depois, é um concelho que perdeu grande parte do seu território para a albufeira de Alqueva e sofre hoje muito com isso. Mas tem um grande potencial».

«Nós quisemos escolher para Mourão um dos grandes momentos musicais da nossa temporada de 2022. Vamos receber o quarteto Janáček, que tem 75 anos de atividade (naturalmente os músicos não são os mesmos da origem), que é dos grandes clássicos internacionais de música para quarteto de cordas. São quatro profissionais absolutamente impressionantes», acrescentou.

«É uma verdadeira honra ter este quarteto em Portugal. Lutámos por este concerto durante três anos, mas eles não tinham agenda. Agora ficaram entusiasmados com o modelo deste festival no Alentejo», garantiu José António Falcão.

Quanto à visita patrimonial, que abre as atividades do fim de semana, no sábado, às 17h00, «o grande alvo  será o Castelo de Mourão, até porque o concerto vai ter lugar na igreja do castelo, que é a matriz. Houve uma empatia muito grande com a comunidade local nesse sentido».

No domingo de manhã, «vamos dedicar a ação de biodiversidade ao conhecimento da fauna e da flora nas margens do grande lago de Alqueva».

O diretor do Terras sem Sombra concluiu, dizendo que, «como se trata de um território novo, preparámos o programa minuciosamente, mas encontrámos muito bons interlocutores e muito entusiasmo local». Por isso, não tem dúvidas em afirmar que se «perspetiva um grande fim de semana».

 

José António Falcão – Foto: Elisabete Rodrigues | Sul Informação

Com estes dias em Mourão, o festival atinge a metade do programa. Fazendo um balanço, José António Falcão afirma: «estamos muito satisfeitos do ponto de vista da qualidade musical, que é para nós quase uma obcessão. Este ano conseguimos até subir mais alguns degraus».

Depois da pausa de Agosto, o Festival volta em Setembro. «Teremos dois blocos de concertos muito importantes para nós. Em primeiro lugar, iremos visitar duas localidades pela primeira vez e que têm um enorme potencial, que são Mourão e Montemor-o-Novo. Por outro lado, vamos fechar o festival no Alentejo Litoral».

Há grande expectativa para esse encerramento, que será a 22 e 23 de Outubro, em Sines. «É difícil destacar concertos, mas vamos fechar com Il Giardino Harmonico, com um programa especialmente pensado para o Festival Terras Sem Sombra. Chama-se Con affeto e é o corolário de uma programação que foi, toda ela, centrada em duas realidades para nós muito importantes: a importância da Paz e o contributo que as artes em geral podem dar para a paz, muito especialmente a música».

Por outro lado, acrescentou, «a ideia de que a verdadeira paz se alcança perto da natureza. Daí que tenhamos escolhido um texto muito bonito de um alentejano um pouco esquecido, um dos grandes poetas do Simbolismo, da transição do século XIX para o século XX, o Conde de Monsaraz. Num dos seus poemas ele diz mais ou menos isto: “há uma paz infinita na solidão das herdades”. De facto o Alentejo é um refúgio de paz».

 

O famoso quarteto Janáček estará em Mourão

Com a chegada a Mourão e a Montemor-o-Novo, o festival que começou por ser apenas no distrito de Beja e no sul do de Setúbal, expande-se cada vez mais para o Alentejo Central e Alto Alentejo.

«O Festival começou, na realidade, no Baixo Alentejo e no Alentejo Litoral, distritos de Beja e sul do de Setúbal. Ao longo dos últimos anos, tem vindo a consolidar a sua presença também nos distritos de Évora e de Portalegre. Hoje tem uma distribuição muito equitativa. Sendo impossível alcançar todos os concelhos, temos feito uma rotatividade muito interessante. E notámos que as coisas funcionam muito bem no Alentejo Central e no Alto Alentejo, onde há uma grande apetência pela música e por aquilo que o Festival traz».

Este ano, o Terras sem Sombra começou mais tarde, numa época pouco habitual. Uma opção que teve a ver com a Covid-19. «Este é claramente um festival para ser realizado entre Janeiro e Junho, e depois retomar as suas atividades no Outono. Mas a epidemia de Covid prolongou-se durante o Inverno de 2022. Temos trabalhado muito alinhados com o Ministério da Saúde, achamos que é a nossa responsabilidade social. Temos muitos espectadores que vêm de fora, inclusivamente de outros países, e não só os músicos. Por tudo isso, é muito importante fazer as coisas com responsabilidade. Como correu bem em 2021, usámos a mesma metodologia em 2022», salientou José António Falcão. «Em 2023, esperamos nós, as coisas estarão um pouco mais tranquilas, e queremos começar em Janeiro», concluiu.

 

Quarteto Janáček

“Transcendência, Sentimento, Emoção” com o Janáček Quartet

Digno embaixador da tradição interpretativa checo-morávia, o Janáček Quartet leva a Mourão “Transcendência, Sentimento, Emoção: Obras Cimeiras de Suk, Dvořák e Janáček”, um concerto que se antevê memorável, quer pela escolha de repertório, quer pelo virtuosismo dos intérpretes – os mais do que famosos Miloš Vacek (1.º violino), Richard Kružík (2.º violino), Jan Řezníček (violeta) e Břetislav Vybíral (violoncelo).

Fundado em 1947 por elementos do Conservatório de Brno, o ensemble adotou o nome em homenagem às brilhantes composições de Leoš Janáček para quarteto de cordas.

Estreou-se internacionalmente em 1955 e, breves anos decorridos, já atuara em todos os continentes, numa fulgurante carreira que entusiasmou o público e a crítica.

Tem sido aclamado nas mais prestigiadas salas e festivais e dois títulos da sua rica discografia foram premiados com o Grand Prix de l’Académie Charles Cros e o Preis der Deutschen Schallplattenkritik.

 


Lugares de fronteira: o castelo de Mourão e o Grande Lago

Na sua primeira passagem pelo território mouranense, o Festival dedica a atividade de património cultural a um marco na paisagem: o castelo de Mourão. Começado a construir no século XIV, no reinado de D. Afonso IV, e com intervenções de monta nos séculos XVI e XVII, o conjunto defensivo testemunhou momentos conturbados na história político-militar portuguesa, sendo peça-chave para o desenho da nossa fronteira.

Com encontro às 17h00, no Jardim Municipal, os participantes são convidados a conhecer a impressionante fortaleza que domina a casario e oferece uma magnífica vista para as águas de Alqueva, que o orlam, e para Monsaraz, na margem oposta.

Para completar o fim-de-semana, a ação de biodiversidade – domingo, 9h30, ponto de encontro no Jardim Municipal –, incide noutro marco definidor da paisagem do território: a barragem de Alqueva.

Com uma albufeira com 250 km² e mais de 1100 km de margens, é o maior lago artificial da Europa, abrangendo cinco concelhos do Alentejo: Portel, Moura, Reguengos de Monsaraz, Mourão e Alandroal. “O Grande Lago: Em Torno de Alqueva” é o título do evento que, num périplo pelas freguesias de Granja, Luz e Mourão, visa sensibilizar para os desafios que a barragem representa em termos de sustentabilidade e conta com o testemunho de técnicos da EDIA e de residentes no concelho.

O Terras sem Sombra interrompe a temporada em Agosto, retomando a programação em Setembro. Assim, nesta 18.ª edição, o Festival passa ainda por Odemira (3 e 4 de Setembro), Montemor-o-Novo (18 e 19 de Setembro) e Sines (22 e 23 de Outubro).

 

 

 



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