O Sítio Arqueológico de Castro da Cola, no concelho de Ourique, é o único equipamento cultural, em todo o Baixo Alentejo, cuja jurisdição passou, agora, para a responsabilidade da Câmara Municipal, no âmbito da descentralização de competências na área da Cultura.
O anúncio foi feito pelo Ministério da Cultura, adiantando que, além de Ourique, outros seis municípios assinaram, esta terça-feira, com as áreas governativas da Modernização do Estado e da Administração Pública e da Cultura, os autos de transferência de competências para a gestão, valorização e conservação de vários equipamentos culturais.
São eles Barcelos, Castelo Branco, Celorico da Beira, Montemor-o-Novo, Santarém e Setúbal.
Quanto ao Sítio Arqueológico de Castro da Cola, Marcelo Guerreiro, presidente da Câmara de Ourique, explicou ao Sul Informação que esta nova competência atribuída ao município vem “formalizar aquilo que, em termos práticos, já acontecia”, ou seja, a intervenção da autarquia naquele local.
Para o município alentejano, “Castro da Cola é uma importante marca da presença dos povos no território de Ourique, acervo patrimonial classificado como Monumento Nacional pela sua relevância no plano local, regional e nacional”.
Nos termos do disposto no Decreto-Lei n.º 22/2019, de 30 de janeiro e do auto de transferência, o município alentejano passa a assumir um conjunto de obrigações.
Trata-se de garantir o cumprimento da missão do imóvel classificado Castro da Cola, assegurar a qualidade das atividades que envolvem o imóvel classificado, bem como, garantir as condições de funcionamento e segurança das instalações adequadas, considerando os recursos transferidos.
O Município de Ourique terá ainda de prestar, à área governativa da Cultura, as informações que esta considere necessárias à avaliação da qualidade de execução dos serviços e à adequada verificação e supervisão das condições de funcionamento do imóvel classificado como MN – Monumento Nacional.
Além disso, a autarquia deve assegurar o cumprimento dos princípios e normas consagradas na lei de bases da política e do regime de proteção e valorização do património cultural, assim como, solicitar o apoio técnico da área governativa da Cultura para as intervenções de conservação dos acervos.
Castro da Cola é Monumento Nacional desde 1910
Desde há largos séculos que este Castro tem sido objeto da curiosidade e estudo por parte de diversos investigadores, alguns dos quais chegaram, mesmo, a realizar o seu levantamento cartográfico.
Na verdade, a primeira referência de que há memória em relação à existência destes vestígios arqueológicos, encontramo-la na obra do humanista português André de Resende, que teria estado neste Castro no ano de 1573.
Seria, no entanto, Abel Viana a dar início a um estudo sistemático destes vestígios arqueológicos, já em pleno século XX, com base em todo um imaginário popular da região eivado de lendas e tradições referentes à possível existência de tesouros das denominadas “mouras encantadas”.
As campanhas arqueológicas começaram, então, em 1958, tendo sido, infelizmente, interrompidas em 1964, no seguimento do falecimento deste nosso arqueólogo.
Embora tivesse tido uma ocupação desde o Neolítico até à época medieva, a parte mais significativa do espólio exumado na altura permite concluir que os períodos de maior atividade humana neste sítio terão decorrido ao longo da Idade do Ferro (representada pelos resquícios de uma curta espada de antenas, urnas cerâmicas e pela presença de diversas contas de colar realizadas, quer em vidro – de tipo fenício ou púnico -, quer em ouro) e, sobretudo, na Idade Média, com especial destaque para o período islâmico, do qual abundam inúmeros exemplos, tendo-se encontrado apenas dois fragmentos de lucernas relativos à ocupação romana, mas que não bastam para se falar de romanização deste povoado.
Quer pela análise do espólio encontrado durante as escavações correspondente ao período islâmico, quer pelo estudo da sua localização no terreno, e, sobretudo, pelo numeroso conjunto de artefactos conetados com a atividade da tecelagem (cujos padrões parecem obedecer a uma gramática decorativa aproximada à do mundo islâmico), poder-se-á concluir que o Castro da Cola constituiu um importante complexo comunitário, cuja base económica deveria repousar sobre uma economia essencialmente agro-pastoril, a condizer com o potencial da região envolvente.
Na realidade, estas potencialidades naturais explicarão o facto de serem conhecidas nesta vasta área geográfica diversas estações arqueológicas com vestígios ocupacionais desde o Neolítico até à Idade Média, numa evidência da sua ocupação contínua por parte de agricultores, pastores e mineiros, que aí encontraram as condições essenciais ao exercício das suas atividades e à sobrevivência das povoações onde viviam.
Do período islâmico, fará, ainda, parte um conjunto bem representativo de cerâmica de variadíssimas espécies, numerosas agulhas de fusos de fiação e cossoiros de chumbo, entre outros materiais.
Além disso, reportar-se-á também a esta época, ou ao período imediatamente a seguir à Reconquista Cristã, a existência de um complexo sistema defensivo, do qual faziam parte uma fortificação principal e fortificações secundárias, bem como uma ampla área de habitat e diversas necrópoles.
Comentários